Desde o começo da viagem, tínhamos em mente conhecer uma das maravilhas do mundo moderno: Chichen Itza. O PROLIJ, quando participa de Conferências, sempre procura aliar o trabalho com desenvolvimento cultural, buscando conhecer obras naturais e/ou humanas significativas de cada lugar. Da capital, viemos para Cancun, a Riviera Maia, onde mar e céu, unidos brincam com o azul, formando uma escala monocromática. Após, mais ou menos, duas horas de carro, chaga-se ao sítio arqueológico de Chichen Itza, na Península de Yucatán. O sentimento é difícil de explicar, pois são séculos de história presentes naquelas construções. Quem as fez foram os maias, que impressionam pela organização. A pirâmide de Kukulcan é carregada de simbologia. Seus quatro lados possuem 91 degraus cada, que multiplicados por quatro e somados à base superior, nos dão o número 365, exatamente a quantidade de dias no ano. Porém, o calendário maia difere do nosso, já que os meses e os anos eram contados de outra forma. Próximo à pirâmide, está o campo no qual os maias praticavam seu esporte. Era um jogo com 14 participantes, que tinham objetivos de acertar uma bola de quatro quilos em um orifício posicionado a uns três metros de altura. O vencedor era decapitado, pois o sacrifício humano era considerado uma honraria. Na parte sul da cidade, está o observatório. Os maias, há quase dois mil anos, faziam estudos de astronomia. Ou seja, possuíam uma incrível organização social, que se mostra muitas vezes superior a nossa, tendo em vista que eles conseguiram proezas com pouquíssimos recursos. Há quem diga que os astecas, quando descobriram as ruínas maias, pensaram que elas haviam sido feitas por gigantes. E foram mesmo. 


Alencar Schueroff, professor do Curso Persona e pesquisador voluntário do PROLIJ.

A última atividade relacionada ao Congresso foi o encerramento da exposição organizada por Eugene Ahn, um congressista que é fotógrafo em Los Angeles. Fomos para Teotihuacán ainda no período da manhã. Antes de ver as pirâmides, tivemos uma aula sobre a Maguey, uma planta semelhante à babosa. Ela possui muitas utilidades: tecido, agulha, papel, sabão. Porém, o produto mais conhecido que vem dela é o Pulque, uma bebida que surge na base da planta, após seu miolo ser retirado. Os benefícios desse líquido são tão numerosos quanto suas aplicações, podendo beneficiar desde o estômago até a libido das pessoas. Há quem diga que o Pulque é um dos responsáveis pelo crescimento demasiado da população no México. No passado, a Maguey teve uma grande importância econômica na cultura asteca, justamente por causa da versatilidade. Em seguida, foi a vez de conhecer a cidade anciã. Lá vivam os maltecas, um povo pré-hispânico, bem anterior aos astecas. Pela organização do lugar, percebe-se que há milhares de anos, já se tinha preocupação com questões de urbanismo. As ruas são largas e simétricas, que facilitam a circulação (no auge, os maltecas eram cerca de 175.000); as casas e templos eram espaçosos; existe ainda um sistema de esgoto refinado, inclusive para os padrões atuais. No retorno para o hotel, almoçamos ao som de mariachis. À tarde, visitamos a igreja da Virgem de Guadalupe, o símbolo mais importante para a religiosidade mexicana. Vale lembrar que é um país essencialmente católico.

Alencar Schueroff, pesquisador voluntário do PROLIJ.
PROLIJ em Teotihuacan

Maguey

Acordamos, tomamos café (o café daqui não é bom) e fomos ver as últimas apresentações do Congresso. Houve uma fala interessante da cartunista e escritora norte-americana Marie Davies. Ela nos mostrou algumas de suas tiras e leu fragmentos de seus romances. Perguntamos a ela se seus desenhos são frequentemente publicados em jornais e revistas. Marie respondeu que, por ser homossexual e abordar temas ligados a esse universo, não tem muito espaço, a não ser em periódicos alternativos de pouca circulação. Durante a tarde, fomos a uma feira de artesanato, para apreciar as cores e a criatividade mexicana. Fizemos algumas compras. À noite, mesmo cansados, Sueli, Alcione e eu visitamos Danica no Hotel Catedral, onde ela está hospedada. A caminho de lá, vimos um ritual asteca antigo, na praça Zocalo. Foi um momento mágico, no qual ela fez leitura de nossas xícaras de café.
Alencar Schueroff, pesquisador voluntário do PROLIJ.
Ritual Asteca

Feira de Artesanato


Mais Feira


Os Congressistas



Sueli e Danica




Hoje, no Congresso, ficamos fascinados com a fala de Danica Borkovich Anderson, uma iugoslava que vive na Califórnia. Ela falou sobre sua experiência de viver na Bósnia pós-guerra. Através de narrativas mitológicas, Danica auxiliou homens e mulheres a superar traumas causados por vários anos de conflito na antiga Iugoslávia. Porém, não só de narrativas seu trabalho é composto, mas também de uma forma muito interessante de autoanálise: leitura de resíduos que se concentram no fundo da xícara, quando terminamos de tomar o café. Com técnica e sensibilidade, é possível interpretar xícaras, relacionando-as com particularidades das pessoas. À tarde, vivemos outras duas situações não menos sensíveis. Primeiro, fomos ao museu da famosa pintora mexicana Frida Kahlo. O lugar é, na verdade, a casa onde ela e seu marido, o também pintor Diego Riviera, moraram por muitos anos. O espaço é encantador, com flores e plantas por todos os lados. As obras de Frida retratam sua vida sofrida, por motivos físicos e sentimentais. Para terminar o dia, navegamos pelas águas calmas e silenciosas de Xochimilco, que contrastam com o agito do centro. O estilo das embarcações fazem lembrar as gôndolas de Veneza. Enfim, cada dia nos traz surpresas e alegrias.
Sueli no Museu de Frida Kahlo

Alencar e Donica


Foi um dia especial. Acordamos cedo e fizemos o ultimo ensaio para a nossa apresentação. O Congresso iniciou-se às 10h, com o trabalho de Sirkka Varjonen, que falou sobre a construção da identidade de imigrantes finlandeses. As 12h, foi nossa vez. O título do nosso projeto é: “A jornada do Patinho Feio no Brasil”. Para a apresentação, usamos histórias e quadrinhos, livros com belas imagens, panos coloridos e fantasias. Enfim, fantasia. Ao terminarmos, em princípio, não houve perguntas, somente agradecimentos entusiasmados e elogios. Como sempre acontece, o PROLIJ encanta por onde passa, pois mostra a literatura e a contação de histórias de uma forma diferente. Saímos do evento e fomos almoçar. Experimentamos uma bebida chamada Horchata, feita à base de arroz, canela e açúcar. A tarde, fomos ver as ruínas do Templo Mayor, uma construção feita pelos astecas, nos séculos XV e XVI, que foi parcialmente destruída pelos espanhóis no início da colonização. Anexo às ruínas, está um museu com pecas encontradas na Zona Arqueológica e em outras partes do país. A visita nos trouxe um sentimento de revolta, em relação à forma bárbara com a qual os europeus impunham sua cultura aos colonizados.

Alencar Schueroff, pesquisador voluntário do PROLIJ.









Segundo Dia...
No México é verão, mas as chuvas diárias fazem a temperatura ficar amena. Pela manhã, pode-se até sentir um friozinho, que para nós tem jeito de inverno. Perto do meio dia e durante a tarde, o sol e o calor mostram bem qual é a estação do ano aqui. Com roupas leves e muita água mineral, caminhamos pela região central da Cidade do México. Algumas construções são antigas e possuem um estilo que parece, segundo o Cleber, misturar barroco, clássico e asteca. Um bom exemplo disso foi o restaurante onde almoçamos. O prédio tinha, pelo menos, uns 200 anos e seus adornos eram diversificados e muitos, beirando até o exagero. Assim é também a Catedral Metropolitana, que impressiona não só pelo(s) estilo(s), mas também pela imponência: são alteres, imagens, obras de arte e bancos que não tem mais fim. Hoje iniciou o Congresso. Fomos até o prédio da Comissão dos Direitos Humanos, onde o evento está acontecendo e a abertura oficial foi feita juntamente com a inauguração de uma exposição fotográfica no centro cultural José Martì, onde aproveitamos para conhecer a biblioteca deste espaço. Há congressistas de todo o mundo. Chamou nossa atenção a presença de Nelson Lee, da Universidade Chinesa de Hong Kong. Seu trabalho é sobre o espaço urbano colonial de sua cidade. Amanha será a nossa apresentação, para o qual temos ensaiado bastante. 

Alencar


Foto do primeiro dia na Biblioteca do Centro Cultural José Martí local local da abertura oficial da Enkidu Summer Conference






Estamos em um grupo de cinco pesquisadores. Vamos apresentar na Enkidu Summer Conference, no dia dois. Nossa primeira impressão sobre o México foi ótima. Até o momento, temos sido bem tratados pelas pessoas daqui e isso faz com que tudo a nossa volta fique muito mais especial. Talvez haja uma conexão inconsciente entre brasileiros e mexicanos, visto que tivemos um “início” semelhante ao deles, baseado na exploração de europeus. Assim, somos uma espécie e irmãos. Porém, esta carga histórica complicada não conseguiu inibir a beleza e alegria naturais dos povos americanos central e do sul. Estes fatores, aliados à criatividade, fizeram surgir uma cultura interessante e diversificada. No caso do México, o legado deixado por astecas e espanhóis resultou em algo fantástico. Um exemplo disso é a praça “Zocalo”, a qual podemos ver do hotel onde estamos hospedados. Amanhã vamos conhecê-la. Será também o primeiro dia do Congresso.
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