Isabela Giacomini
Poética, simbólica e arrebatadora na linguagem verbal e visual, a obra revisita o boneco de madeira que povoa o imaginário de leitores de diferentes épocas. Pinóquio é trazido para o livro em uma perspectiva filosófica e ainda mais humana ao ser colocado à frente de um espelho. O espelho é um grande símbolo dentro da narrativa, pois metaforiza a relação estabelecida pelos sujeitos ao tecerem olhares para si mesmos e para os outros.

Com uma sensibilidade imensa, Rampazo trata de questões humanas muito pertinentes, como a comparação que as pessoas fazem umas com as outras, na tentativa de serem melhores ou de se equipararem, impulsionando a sociedade das aparências em detrimento das essências.

Pinóquio, ao se projetar em outras personagens de Collodi, compara-se a elas e deseja ser como tais, enfatizando as características mais positivas que cada uma traz consigo. Deseja ser como o amável Gepeto, como o inteligente Grilo Falante, como o mestre de marionetes e como tantos outros, mas ainda que faça muito esforço para se parecer como eles, fixa seu olhar sobre o espelho e tudo que vê é um simples boneco de madeira.

Madeira essa que também é simbólica, pois vem de uma árvore vívida e sonhadora. Esta, por sua vez, também teve seu momento de ser transformada em menino: a árvore sonhava em ser menino e o menino em ser árvore. A relação árvore-menino mostra a conexão entre ambos, o que têm em comum, o que os une, o que cada um descobre sobre o outro e principalmente sobre si. Talvez ser “apenas” um pedaço de madeira possa representar uma profundidade imensa de coisas, que só se descobre olhando para dentro em um processo de autodescoberta, de valorização da essência e das próprias verdades carregadas. 


As pequenas verdades de Pinóquio são ressignificadas à medida que o olhar se volta para si, mostrando que, mesmo pela simples aparência, nossa essência está repleta de quem somos e de quem temos potencialidade de nos tornar, reconhecendo-nos e aceitando-nos dentro da nossa própria identidade.

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.

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