Fernanda Cristina Cunha
A violência,
seja qual for a maneira como ela se manifesta,
é sempre uma derrota.
Jean-Paul Sartre

Nesse mês de agosto discutimos "A Casa Tomada" de Julio Cortázar mediado pelo Ian Pogan, e "Impotências" de Marçal Aquino, mediado pelo professor Alexandre Cidral.

"Agora era tarde. Como me sobrava o relógio de pulso, vi que eram onze horas da noite. Cingi meu braço à cintura de Irene (eu acho que ela estava chorando) e saímos assim à rua. Antes de nos afastarmos senti tristeza, fechei bem a porta de entrada e joguei a chave no bueiro. (...)." (Cortazar, 1951)

Escrito em 1951, o conto "A casa tomada", foi publicado no livro Bestiário de Cortazar. Ele faz parte do gênero fantástico não simplesmente pelo mistério que se instaura no texto, mas pelo efeito discursivo do fantástico que se materializa através narrativa.

O Bestiário de Julio Cortazar

Já o conto do autor paulistano foi publicado em 2003, na obra Famílias Terrivelmente Felizes e conta a história daquele que não é dito e além do mais é esquecido.

Conhecemos a vida, ou melhor, a não vida de um falecido tio, o narrador caminha pelas possibilidades de vida, comparando-a com a vida real da qual ele viveu, buscando expressar as trajetórias de vida mais dignas que poderiam vir a acontecer, com namoradas, empregos, filhos, sexo e amor.


Famílias terrivelmente felizes de Marçal Aquino


Em ambas obras os personagens não se encaixam no mundo em que vivem,  são apresentados como eternos aprendizes da sobrevivência, cada qual com seus medos, ilusões e fugas. Contudo, esses abandonos da vida em comunidade ocorrem no primeiro conto por escolha, no segundo compulsoriamente.


Quadro de sínteses de A Casa Tomada


Detalhe do quadro de sínteses de A casa Tomada
Quadro de sínteses de Impotências 

Detalhe do quadro de sínteses de Impotências



Os registros acima são resultados de ambos os encontros. Ficamos felizes com a presença de todos. .
No próximo mês temos mais!

Fernanda Cristina Cunha é graduanda de Psicologia pela Univille. Atua como bolsista do Prolij e busca através dos livros que lê as longas caminhadas por dentro de si mesma. 

Jennifer Bretzke Meier
Charles Perrault, foi um escritor e poeta francês do século 19, o pioneiro dos contos de fadas voltados especificamente para as crianças, também conhecido como “Pai da literatura infantil juvenil”. Seus contos não eram romantizados como nas releituras feitas ao longo dos séculos, mas sim demonstravam que haviam valiosas lições a serem aprendidas pelas crianças por meio da literatura, por mais chocante que fosse.
“Era uma vez Perrault” reúne seis histórias do escritor, recontadas por Katia Conton, que se preocupou em acrescentar poeticidade ao texto sem perder a essência característica de Perrault:
Pele-de-asno: Em um reino muito antigo, viviam um rei e uma rainha, a rainha ficou muito doente e percebendo que iria morrer, pediu ao marido “Por favor, assim que eu me for, se case com uma mulher mais bonita do que eu”, apesar da relutância o rei aceitou seu pedido e ela pode descansar em paz. Acontece que a rainha era muito bela, e a única que se aproximava em beleza era sua própria filha. O homem pediu a princesa em casamento, ela apavorada relutou e se escondeu na floresta, trocando suas luxuosas vestes pela pele de um asno. Com isso, tinha esperança de que o rei a deixasse em paz, mas como poderia ser feliz? Voltaria a ter uma vida normal?


Barba-Azul: Era uma vez um homem de barba azul, todos na aldeia comentavam a respeito da característica tão peculiar, apesar de imensa riqueza, ninguém se aproximava dele. O homem tinha tido diversos casamentos, mas misteriosamente nenhum deu certo. Depois de insistir, e subornar a mãe de uma jovem, ela decidiu casar com ele. Muito feliz com a generosidade do marido, a jovem se sentia confortável na casa. Certo dia, Braba-Azul lhe informou que viajaria, e que a esposa poderia dar uma festa na casa. Lhe deu todas as chaves e lhe proibiu de utilizar apenas uma. Instigada pela curiosidade, na ausência de barba-azul a esposa abre o cômodo com a chave proibida, revelando um grande mistério.
Estes, e outros fabulosos contos compõem “Era uma vez Perrault” aliando as narrativas as ilustrações de artistas plásticos contemporâneos como Alzira Fragoso, Elisa de Magalhães, Flávia Ribeiro, Luciana Schiller, Luiz Hermano me Márcia Clayton.

Jennifer Bretzke Meier graduanda de Letras (Português/ Inglês) na Univille, atua como bolsista no Prolij e vê a literatura como fonte inesgotável de sabedoria e conhecimento.

Fernanda Cristina Cunha
"Não Era Você Que Eu Esperava", é uma graphic novel emocionante, que nos faz refletir sobre o nós, e a nossa dificuldade de lidar com o inesperado. Do ilustrador francês Fabien Toulmé (Autor também de Duas Vidas), foi publicado no Brasil pela editora Nemo, em 2017, com tradução de Fernando Scheibe.

A obra conta a história de mais do que o encontro entre um pai e uma filha que não é o que ele esperava. Ela é um olhar justo, sincero e comovente sobre o relacionamento de um pai com a filha que nasceu com Síndrome de Down.

A um primeiro momento o leitor o testemunho que choca por sua sinceridade, também aquece pela empatia que Fabien Toulmé consegue passar no leitor, descrevendo todos os estados emocionais do qual viveu. O modo fracês e cru obra contrapõem o preconceito velado, tão comum aos brasileiros. Ao apresentar essa jornada em busca da mudança da percepção sobre as coisas e de se aproximar da própria filha fazem a história mais envolvente.

Entre a raiva, rejeição, dúvida, momentos de tristeza e felicidade inesperada, o autor conta o difícil caminho entre as expectativas e a descoberta da trissomia de sua filha logo após o nascimento, quando nada acusava durante os testes de gravidez, passando pelas tempestades, desafios e dores, até chegar no momento de sublimação do amor.


"não é você que eu estava esperando, mas eu ainda estou feliz que você veio" resume a história de Toulmé e Julia perfeitamente. O autor transcorre sobre os maiores desafios da paternidade diante a Sindrome de Down, como encarar as necessidades especiais de sua filha? Como aprender a amá-la? E é nessa história de amor que ficamos imersos, comovidos e esperançosos.

A esperança surge a partir do momento que vemos que o amor pode ter mais de uma face, que ele se transforma, se potencializa e rompe todas as barreiras.

Fernanda Cristina Cunha é graduanda de Psicologia pela Univille. Atua como bolsista do Prolij e busca através dos livros que lê as longas caminhadas por dentro de si mesma. 

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