é quando você se deixa levar pelas páginas de um livro


¹Marina Fiamoncini



Geralmente as crianças gostam de perguntar o porquê das coisas, mas a personagem de Mania de Explicação (Salamandra, 2001), de Adriana Falcão, utiliza sua inocência e imaginação para explicar o significado das palavras a sua maneira. A autora é teatróloga e roteirista de programas de comédia da TV Globo como A Grande Família (2001) e O Auto da Compadecida (1999).
Quem poderia imaginar que a experiência de Adriana Falcão com humor para adultos pudesse contribuir para a publicação do seu primeiro livro infantil? Aliás, nesse caso, esse gênero se perde no senso comum de que é um tipo de livro só para crianças. A obra prova que não é preciso um estudo pedagógico para escrever para os pequenos. Aliás, a narrativa é adulta o bastante para fazer os mais grandinhos refletirem também.
Mais do que um dicionário poético, há no livro um sentido aberto para cada uma das frases apresentadas, que depende da visão de cada um. Ansiedade, Raiva, Culpa, Perdão, Vontade, Tristeza... Coisas simples, que todo mundo já conhece (mas que muitas vezes são difíceis de concretizá-las em uma frase) escapam da explicação formal, rígida e superficial, deixando de ser sentimentos abstratos para se tornarem poesia. Afinal, como se poderia explicar para um ser tão descompromissado com o mundo adulto o que são essas palavras, senão induzindo à imaginação?
Com a pureza da infância a menina explica, por exemplo, que “preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento”, de uma forma tão profunda, como só uma criança é capaz de enxergar.
Justamente porque não se pode limitar a imaginação de quem lê, essa liberdade de pensamento faz com que as explicações da personagem causem melhor resultado se foram sentidas ou criadas pela mente, do que realmente explicadas com todas as letras do alfabeto.
As 45 páginas foram ilustradas por Mariana Massarani, mas podem ser confundidas com telas pintadas a mão com a tinta ainda fresca. Essa naturalidade nos traços é uma característica da desenhista e, além disso, as figuras não seguem a risca o que é indicado no texto, deixando a interpretação de quem ler ir além do óbvio.
Essa união de imagem e texto envolvente é um convite para esquecer os conceitos pré-definidos dos sentimentos do mundo e se deixar levar pela leveza que foi esquecida ainda na infância. Porém, uma das palavras se destaca das demais por sua complexidade: o amor.
Só para este sentimento há inúmeras alternativas de explicação e a menina da Adriana Falcão deixa esta dúvida tão difícil para o final, justamente porque é preciso passar por tantas outras frustrações e sofrimentos antes de entendê-lo.


FALCÃO, Adriana. Mania de explicação. São Paulo: Salamandra, 2001.

¹ Marina Fiamoncini é jornalista e contadora de histórias do Grupo ContArte




Carolina Elisabete Lunardi Correa ¹



A curiosidade infantil por vezes é abrandada com uma invenção. Ou aguçada? É o que trata o livro Pé de Poesia, editado pela Dimensão. Um garoto cogita que tudo vem das árvores. É possível? No inocente imaginário infantil, seria possível resolver todos os problemas que circundam os meninos por meio de frutos de árvores. Mas não são frutos comuns: um pé de cerveja para o pai e um pé de batom para a mãe. O que mais encontraremos? A história de Wilson Pereira é envolvente pela surpresa que causa ao leitor, pelo texto criativo, mas também por sua forma de narrar em versos. Ela trata, por meio da brincadeira, das relações familiares, do universo infantil, da importância do faz de conta, do sentido que vai sendo construído e ressignificado pela criança a cada ato de leitura.









PEREIRA, Wilson. Pé de poesia. Belo Horizonte: Dimensão, 2006.


¹Acadêmica do Curso de Direito da UNIVALI e Contadora de Histórias do Projeto ContArte –Contadores de histórias da UNIVALI.
Adair de Aguiar Neitzel ¹





Jorge Luiz Antonio é pesquisador e poeta. Com esta obra, editada por Veredas & Cenários, ele não apenas estabelece alguns parâmetros necessários para delimitar este objeto de estudo tão contemporâneo, a poesia eletrônica, como nos convida, a cada linha, à leitura digital. E este objetivo a obra cumpre bem: mostrar como a tecnologia possibilita novos leitores potenciais para a poesia, este gênero tão esquecido principalmente nas instituições educativas. O leitor efetua um percurso de leitura que vai dando-lhe subsídios para estabelecer a diferença entre esse tipo de poesia das outras existentes. Sem apologia ao computador, Jorge Luiz Antonio propõe uma incursão pelas diversas conceituações que tratam de poesia e tecnologia, pois independente do aparato de que se serve o poeta, estamos falando do poema e a teoria literária brota a todo instante por meio de uma interlocução que trava com Kristeva, Wellek e Warren, Eco, Jakobson, Apollinaire, Pound, Pignatari, Barthes, Calvino, entre tantos outros.
O computador é uma máquina que desperta não só a atenção dos jovens leitores como também de poetas e, por isso, as possibilidades que ele oferece de agenciamentos semióticos, como produtor de signos poéticos, são acentuadamente explorados. Se computadores tornaram-se fundamentais para a Matemática e a Física, hoje, com esse novo gênero poético, podemos afirmar que eles também se tornaram fundamentais para os processos de leitura e escrita. Este livro põe em foco não apenas a arte da palavra, mas as artes plásticas, sonoras, cinéticas, pois ao pesquisar sobre a poesia em meio eletrônico descobrimos não apenas a linguagem verbal, mas a visual, a sonora e a cinética. Experiências estéticas como as de Sylvio Back, Kinopoems, que compõem o CD que acompanha o livro trazem uma nova visão não apenas acerca do poema, mas do fazer literário. Do ponto de vista estético, essas linguagens que se avolumam num só objeto tornam-se essenciais, pois determinam os processos que passam a compor os elementos de literariedades do texto literário.
Por meio da poesia eletrônica passamos a perceber melhor o aspecto da visualidade da palavra, pois mesmo que o poema seja feito somente de palavras, não se pode negar que a visualidade é fator preponderante no poema, assim como sua sonoridade. Uma imagem literária quer se concretizar por meio de uma imagem visual e/ou sonora, de sua plasticidade, ampliando o significado da palavra poética. A justaposição de várias linguagens leva ao leitor um texto mais poroso, aberto, estrelado, mais prenhe de sentidos. Esta é uma obra que aborda a experiência da poesia eletrônica de várias maneiras, em vários países, cotejando pesquisas, criações poéticas de várias épocas que provocam o leitor a se enveredar pelos labirintos da poesia eletrônica, entendê-la, e, sobretudo, apreciá-la.



ANTONIO, Jorge Luiz. Poesia eletrônica: negociações com os processos digitais. Belo Horizonte: Veredas & Cenários. 2008


¹Professora doutora em Literatura pela UFSC. Atua no Programa de Mestrado em Educação da UNIVALI e nos cursos de graduação. Coordenadora do ContArte – contadores de historias da UNIVALI.



Em decorrência deste Abril Mundo 2010,

o Prolij criou um perfil no Twitter.

O link é este, e está também na barra 
lateral do blog.

Fica o convite a todos nossos leitores para
que sigam o Prolij naquele outro espaço
virtual, que contém dizeres das palestras
e das apresentações que ocorreram no evento,

e que continuará sendo atualizado semanalmente
com leituras e escritas produzidas pelo grupo, 
assim como, com eventos literários sob a temática
da literatura infantil e juvenil.


Na última noite do Abril Mundo 2010, o Msc. Gersem 

 falou por pouco mais de uma hora, 

sobre "Territorialidades e Interculturalidades 

na perspectiva da Educação Escolar Indígena".

Querem saber mais da fala de Gersem?

Venham aqui, ó, no twitter do prolij
No início da noite de hoje tivemos a oportunidade de assistir a uma apresentação musical de um grupo indígena de Barra do Sul, sob coordenação do Professor Guarani Wanderley.
Os cantos apresentados foram  "Guerreiros", "Crianças Guaranis" e "Quando Deus nos envia na terra" (traduções em língua portuguesa).

Abaixo, algumas fotos da apresentação que encantou o público.

Professor Guarani Wanderley apresentando o grupo indígena.
Meninas Guarani cantando.
Meninos Guarani cantando.
Grupo Guarani apresentando os cantos.
Na tarde desta sexta-feira, ocorreu, no auditório da Univille, a Tarde ilustrativa da produção artística sobre a cultura indígena brasileira, com uma mesa formada pela Msc. Alcione Pauli, o Msc. Gersem Luciano Baniwa e o Professor Guarani Wanderley. Alguns prolijianos apresentaram diferentes produções culturais, envolvendo diversas formas de linguagem, trabalhando a cultura indígena. Aqui, no twitter do prolij, é possível ter mais detalhes desta tarde. 
 Viviane lendo um trecho de "Apenas um curumim", de Werner Zotz. 
Alencar falando sobre a música "Índios", da Legião Urbana. 
Alcione comentando as duas formas de produção sobre a cultura indígena.
Msc. Gersem relacionando também as duas produções apresentadas.
Mesa da Tarde ilustrativa: Msc. Alcione Pauli, Msc. Gersem Luciano Baniwa, e Professor Guarani Wanderley. 
Luciane lendo um conto do livro "Contos indígenas", de Daniel Munduruku.
Débora apresentando Histórias em Quadrinhos de Maurício de Souza, que exploram a cultura indígena.
Professor Guarani Wanderley leu trechos do livro  "Maino'irapé" e contribuiu com sua vivência em escolas indígenas.
Maria Lúcia comentando narrativas visuais.
Narrativas visuais que abordam a cultura indígena sendo apresentadas ao público.
A memória é um caleidoscópio. (José Saramago)

Na manhã de hoje ocorreu a defesa da Dissertação “Cá e lá, histórias há: mitos e símbolos nas lendas de São Francisco do Sul e da Ilha da Madeira”, da Mestranda Andréa de Oliveira, sob orientação da Professora Drª Sueli de Souza Cagneti, coorientação da Drª Luisa Maria Soeiro Marinho Antunes Paolinelli, do curso de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE.

Andréa iniciou sua defesa contando uma das lendas analisadas no trabalho. Antes disso, ainda, destacou que a pesquisa foi proveniente de um livro, de sua autoria, “Retalhos de Iperoba”, escrito para que as histórias de um povo de uma localidade (Iperoba, SC) fosse registrada: “Cresci num ambiente ouvindo muitas histórias. Daí, recolher histórias, registrá-las, tirá-las da oralidade e passá-las à forma escrita”.

São Francisco do Sul e Ilha da Madeira, duas ilhas num mesmo oceano, afirmou Andréa, apresentando cartograficamente as duas ilhas e situando o público dessa forma. E, sobre essas duas localidades, a mestranda destacou algumas lendas com os quais ela trabalhou: Lendas do lado de cá (São Francisco do Sul): Ubatuba ou Lenda de Gonneville; A sereia do milharal; Armadilha para pegar bruxa; Lenda da bruxa que corria montada em uma égua; A bruxa do Iperoba. Lendas do lado de lá (Ilha da Madeira): Lenda de Machim ou Machico; Lenda da espada de S. Sebastião; Lenda da bruxa que foi pega por uma vassoura; Lenda do sobrinho de uma bruxa. E, nessas lendas, destacaram-se alguns mitos e símbolos, presentes ora em todas, ora em algumas. Mitos como: do herói; fundador; do eterno retorno; e da sereia. Símbolos como: cruz, espada, lua e mar.

A hipótese da pesquisa de Andréa era: Os contos populares, especificamente lendas, transportam mitos e símbolos e registram a identidade de um povo. E, para chegar a possíveis respostas para esta hipóteses, o caminho percorrido passou por: “Duas margens e alguns conceitos: A literatura de tradição oral, no Brasil e em Portugal. A literatura entre o oral e o escrito”, “Pistas para o imaginário: Lendas: um jeito de narrar. Os velhos e suas memórias. Duas ilhas e um mesmo oceano. Língua Portuguesa e identidade”, e “No caminho: a seleção, a análise e algumas considerações sobre o tema cultura: Análises de lendas de heróis e de bruxas”, três capítulos do trabalho.

Finalizando sua apresentação, a mestranda afirmou: “Lendas... Mas, no contexto pós-moderno... é incoerente pensarmos em fronteiras fixas, estabelecidas. No mundo pós-moderno, é tudo em trânsito, são várias identidades, sofremos influências e agregações contínuas. Cada homem é mais que uma raça. É mais do que uma delimitação geográfica, política. Nós não somos o berço que nascemos”.
Andréa de Oliveira, parabéns prolijianos à nova mestra em Patrimônio Cultural e Sociedade!


Luisa falou por pouco mais de uma hora, 
sobre "Re-escrever o índio: o contributo alencariano 
em confronto com a imagem do indígena nos 
romances portugueses de temática tropical". 


Sem saber quais outros animais lançar ao público,
lançou novos piolhos, por serem estes, segundo ela,
universais. 

Querem conhecer os "piolhos" lançados por Luisa?


Venham aqui, ó, no twitter do blog do prolij.

Cleber e Rodrigo, apresentando, em bom português, a Professora Doutora Luisa Antunes Marinho.


“Da mais alta janela da minha casa 

Com um lenço branco digo adeus 

Aos meus versos que partem para a Humanidade.



E não estou alegre nem triste. 
Esse é o destino dos versos. 
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos 
Porque não posso fazer o contrário 
Como a flor não pode esconder a cor, 
Nem o rio esconder que corre, 
Nem a árvore esconder que dá fruto.


Ei-los que vão já longe como que na diligência 

E eu sem querer sinto pena 
Como uma dor no corpo.


Quem sabe quem os terá? 

Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos. 

Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas. 
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim. 

Submeto-me e sinto-me quase alegre, 

Quase alegre como quem se cansa de estar triste.


Ide, ide de mim! 

Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza. 
Murcha a flor e o seu pó dura sempre. 
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo”.

(Alberto Caeiro. pp. 96-7)
(PESSOA, Fernando. Poesias. Org. Sueli Tomazini Cassal. – Porto Alegre: L&PM, 2006)


“Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho”

(Alberto Caeiro, p. 32)
(PESSOA, Fernando. Poemas completos de Alberto Caeiro. São Paulo: Martin Claret, 2006). 

"Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para te dizer!
São talhados em mármore de Páros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Tem dolências de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos para te endoidecer!

Leste os meus versos? Leste? E adivinhastes
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era o teu olhar que os inspirou?"

(Florbela Espanca, Antologia de poemas para a juventude).




“(...), porque as palavras, se o não sabe, movem-se muito, mudam de um dia para o outro, são instáveis como sombras, sombras elas mesmas, que tanto estão como deixaram de estar, bolas de sabão, conchas de que mal se sente a respiração, troncos cortados”.
(SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p.112).
_ _ _ _ _ 
Trechos de livros de autores portugueses - Fernando Pessoa, Florbela Espanca e José Saramago - lidos por alguns prolijianos antes da convidada da noite iniciar sua palestra, "Re-escrever o índio: o contributo alencariano em confronto com a imagem do indígena nos romances portugueses de temática tropical".

Na tarde de hoje, os meninos prolijianos (Alencar Schueroff, Cleber Fabiano, Ítalo Puccini, Rodrigo da Silva e Silvio Leandro) apresentaram a Tarde Macunaímica, diferentes olhares da literatura sobre o índio, em diversas épocas.

Foi apresentado um panorama de trás para frente. Cleber leu um trecho de "Macunaíma" (Mário de Andrade). Alencar leu um trecho de "Iracema" (José de Alencar) e Ítalo leu um trecho de "O Uraguaia" (Basílio da Gama), para então os cinco prolijianos lerem trechos da "Carta de Pero Vaz de Caminha", o primeiro relato sobre os índios. A visão do branco europeu no século XV sobre o índio. 

Após essas leituras iniciais, foi apresentada a música "Inclassificáveis", de Ney Matagrosso, com a proposta de "fechar" a conversa inicial, os diferentes olhares sobre o índio.

Então, os meninos voltaram ao "Macunaíma", destacando-o sob o título de "O maior ctrl c + ctrl v" da literatura brasileira, pelas inúmeras influências das quais Mário de Andrade se utilizou para produzir a obra, como por exemplo a semelhança com o personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto e as influências das vanguardas européias como o futurismo, o cubismo, o surrealismo e o dadaísmo, deixando clara a influência antropofágica da obra e do período literário, o modernismo.

Foram cantadas algumas cantigas "coladas" por Mário na obra, assim como crendices populares.

Ao final da apresentação dos meninos, a coordenadora do Prolij, Sueli Cagneti, reforçou o objetivo do grupo com este evento, o de - parafraseando Daniel Munduruku - lançar piolhos, propor ideias e questionamentos sobre a literatura indígena e a forma de trabalhá-la nas escolas, com cautela, com extremo cuidado junto à história dessa cultura.


“Água lírica dos córregos não se vende em farmácia” (Manoel de Barros).

Hoje pela manhã ocorreu a defesa da Dissertação “Era uma vez... O poder da floresta e a sabedoria das águas num lugar nem tão distante”, da Mestranda Alcione Pauli, sob orientação da Professora Doutora Sueli de Souza Cagneti, do curso de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE.


Compuseram a banca avaliadora a Professora Doutora Sueli de Souza Cagneti, a Professora Doutora Taiza Mara Rauen Moraes e o Professor Doutor Daniel Monteiro Costa (também conhecido por Daniel Munduruku), do INBRAPI.

Alcione discorreu por pouco mais de vinte minutos. Fez leituras de duas obras literárias, “Parece que foi ontem”, de Daniel Munduruku, e “Curumim inventa o mundo”, de Bráulio Tavares, e apresentou o percurso de seu trabalho: 1. Vozes com cheiro de selva e urucum (Conversas sobre cultura, mito e literatura); 2. Os textos contemporâneos: diversidade (Procedimentos de escrita); 3. Resenhas (Indicações de títulos por categoria). Ainda, citou e e explicou como alguns escritores trabalham com a questão indígena: Daniel Munduruku, Rui Oliveira, Werner Zotz e Bráulio Tavares, por exemplo.

Finalizando sua apresentação, Alcione citou uma frase de Daniel Munduruku: “O universo indígena é habitado por muitas histórias. São todas bastante vivas, porque reais”. E lançou ainda um “piolho” (entenda aqui): Como será a receptividade da literatura indígena nos espaços de leitura?”.


Muitos os vazios para este cheio (Alcione Pauli, agora Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade).

Parabéns, Alci!

Daniel Munduruku falou por pouco mais de uma hora,
sobre "Sobre piolhos e outros afagos: conversa ao pé
da fogueira sobre ato de educar(se)".

Com uma fala muito calma, lançou piolhos aos ouvintes.

Querem conhecer os "piolhos" lançados por Daniel?

Aqui, ó, no twitter do blog do prolij.

"Segundo meu avô – gosto sempre de repetir – o único tempo que temos é o tempo presente. Ele até perguntava com certa frequência: por que o presente se chama presente? Dava um pouco de tempo e depois respondia: é porque é um presente que ganhamos do Criador. Quem ganha um objeto de presente tem que abrir na mesma hora para poder dar alegria a quem o deu. A vida é o presente que o Grande Espírito nos dá todos os dias, e viver esse presente alegra o coração do nosso Pai Primeiro.
Meu avô era como um sábio que possuía todo o conhecimento de nossa gente. Qualquer coisa que a gente queria saber era só recorrer a ele que logo tinha uma história para contar. Foi ele que me ensinou que era preciso, de vez em quando, mudar. Disse isso pensando no rio. Fez-me olhar o rio que corria.” (MUNDURUKU, Daniel. Antologia de contos indígenas de ensinamento: tempo de histórias; organização e apresentação de Heloisa Prieto – São Paulo: Moderna, 2005. p.19).

“Todas essas opiniões contrárias eram porque o homem tinha um estranho hábito: ele roubava horas. Como assim? Não se sabe direito. Ele roubava a pressa das pessoas”.
“A praça estava cheia quando o homem falou:
- Eu roubo as horas para lhes dar tempo.
Tempo de aprender a usar o tempo.
Quem tem hora não tem tempo: tempo de olhar o tempo.
Será que vai chover?
Será que as flores já abriram?
Como será o arco-íris?
Qual a cor dos olhos dos meus amados?
Temos tempo para isso? Não!
Isso ocupa muitas horas.
E tocamos nossas vidas, olhando os relógios que marcam as horas de nossas vidas, e esquecemos de marcar nossas vidas no tempo!”
(MUNDURUKU, Daniel. O homem que roubava horas. Ilustrações Janaina Tokitaka. – São Paulo: Brinque-Book, 2007, p. 25).




“Pai, me ensina a fazer chover!
- Fazer chover, Lua, é uma arte. Precisa treinar muito, aprender muito. É coisa de gente grande.
- Mas, pai, o que eu preciso fazer para aprender a fazer chover?
- Precisa aprender a falar com o Espírito da Chuva que mora muito longe daqui.
- Eu posso ir até lá?
- Todo mundo pode, mas para isso é preciso ser corajoso, passar por muitos perigos...
- Eu posso ir até lá?
- Talvez, quando você crescer...
- O que eu preciso fazer?
- Primeiro você precisa crescer”.
“- E como eu faço para crescer desse jeito que o avô tá falando?
- É preciso ouvir.
- Ouvir o quê?
- Ouvir histórias, ouvir os rios, ouvir as árvores, ouvir o fogo, ouvir a terra e os animais.
- E o que eu faço para ouvir as histórias, os rios, as árvores, o fogo, a terra e os animais?
- Você precisa aprender.
- Puxa, vô, por que você não fala logo tudo de uma vez?
- Por que quem fala tudo de uma vez não ensina ninguém a ouvir. Volte no final do dia. Você vai aprender a ouvir”.
(MUNDURUKU, Daniel. O segredo da chuva. Ilustrações Marilda Castanha. – São Paulo: Ática, 2006, p. 10).
_ _ _ _ _
Trechos de livros de Daniel Munduruku - Presidente-Diretor do INBRAPI (Instituto Indígena para Propriedade Intelectual) -, lidos por alguns prolijianos antes do convidado da noite iniciar sua palestra, "Sobre piolhos e outros afagos: conversa ao pé da fogueira sobre o ato de educar(se)".
Por Geórgia de Souza Cagneti*


                                                Anos 50 e 60, milagre econômico, James Dean,
O pagador de promessas, Jovem guarda, Rede Globo, Tropicália,
 Gregory Peck, Nel blu dipinto di blu,Love me tender,Vinícius,
Hitchcock, Rock and Roll, Copa do mundo, Fellini, Os Mutantes...


Em meio a tantas mudanças e, não esquecendo os reflexos pós-guerra, inicia-se um tempo novo, para muitos: a chamada pós- modernidade. Diz-se para muitos, dada a negação de alguns à nomenclatura usada, negando a força de seus procederes em relação a sua denominação.
Personagens apenas escapados à ameaça nazista, como Adorno e Horhheimer, tentaram compreender este novo mundo. Com um olhar pessimista individuaram os meios de comunicação de massa como causa de alienação e homologação do indivíduo. A escola de Frankfurt se posicionou de forma explícita contra ela, responsabilizando-a pela vulgarização da cultura.
Mas será possível que esta terceira cultura ( dita vulgarizada) tenha somente características negativas?
Edgar Morin, sociólogo, filósofo e pensador francês, em O espírito do tempo, analisa tal fenômeno, diversamente, aplicando os métodos autocrítico e da totalidade. E, com tais métodos, Morin, considerando a sociedade contemporânea como um conjunto de indivíduos que seguem um determinado código comportamental e vivem em uma sociedade industrializada, desenvolve seus estudos sobre a indústria cultural. A partir daí, procura, sobretudo, entender a importância desta terceira cultura, resultado de uma segunda colonização e de uma segunda industrialização, nas mudanças sociais e antropológicas.
Com um ponto de vista interessante e não radical, ele nos abre horizontes para pensar o mundo em que vivemos, considerando não apenas as perdas, mas também os ganhos que possam advir das mudanças sofridas.


Cultura de Massas no século XX: Neurose e Necrose. Vol. I e II. ( O espirito do Tempo 1 e 2 ).


MORIN, Edgar

Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2009.

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*Participante correspondente do PROLIJ

Mestranda em línguas estrangeiras para comunicação internacional - Italia


Por Maria de Fátima Tonin Lunardi Correa



Uma história que rompe com os paradigmas existentes na literatura infantil, sem privilegiar um único gênero, seja ele a poesia, a narrativa ou os livros visuais, pois mescla de forma atraente e convidativa o lírico e a narrativa. André Neves, conhecido internacionalmente como ilustrador, e autor de livros visuais, tem nesta obra editada pela Paulinas uma de suas poucas narrativas escritas e por conseguinte também por ele ilustradas. A história se inicia com Dona Sofia que durante toda sua vida se dedicara a ensinar. Uma dedicada professora aposentada que cultiva flores, as quais rendem um dinheiro a mais na sua ínfima aposentadoria, o que infelizmente retrata a vida das que gastaram a sua vida na profissão, missão e arte de ensinar. No entanto, Dona Sofia, que de forma premente conhecia todas as sensações despertadas através da poesia, lia romances, contos, crônicas e principalmente poesias. A história narrada por André Neves descreve uma casa diferente: paredes decoradas com poesias escritas por autores das mais variadas épocas da nossa história, desde o Romantismo até os contemporâneos, como Bartolomeu Campos de Queirós, Ronald de Carvalho, Machado de Assis, Elias José, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Caparelli, Ricardo Silvestrin, entre outros, poesias registradas através da sua maravilhosa caligrafia.
Até que um dia, as poesias de Dona Sofia não tinham mais espaço para serem registradas na sua casa, pois estavam em toda a parte desde a sala até o banheiro. Mas Dona Sofia não queria as poesias escondidas nos livros, decidiu então que ofereceria seus versos como quem oferece flores a todos os moradores da cidade. Dona Sofia faz cartões poéticos e decora com as flores que ela mesma cultiva. A história vai se desenrolando com o aparecimento de seu Ananias, que conhecia todos os moradores da cidade. Seu Ananias que possuía uma horrível caligrafia que distribui através das correspondências notícias, sonhos, saudades e agora poesias, as poesias copiadas pela maravilhosa caligrafia de Dona Sofia. Esta cativante história, cativa também seu Ananias, que de simples carteiro se transforma até em autor de poesias.
NEVES, André. A caligrafia de dona Sofia. São Paulo: Paulinas, 2006
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