Isabela Giacomini
Poética, simbólica e arrebatadora na linguagem verbal e visual, a obra revisita o boneco de madeira que povoa o imaginário de leitores de diferentes épocas. Pinóquio é trazido para o livro em uma perspectiva filosófica e ainda mais humana ao ser colocado à frente de um espelho. O espelho é um grande símbolo dentro da narrativa, pois metaforiza a relação estabelecida pelos sujeitos ao tecerem olhares para si mesmos e para os outros.

Com uma sensibilidade imensa, Rampazo trata de questões humanas muito pertinentes, como a comparação que as pessoas fazem umas com as outras, na tentativa de serem melhores ou de se equipararem, impulsionando a sociedade das aparências em detrimento das essências.

Pinóquio, ao se projetar em outras personagens de Collodi, compara-se a elas e deseja ser como tais, enfatizando as características mais positivas que cada uma traz consigo. Deseja ser como o amável Gepeto, como o inteligente Grilo Falante, como o mestre de marionetes e como tantos outros, mas ainda que faça muito esforço para se parecer como eles, fixa seu olhar sobre o espelho e tudo que vê é um simples boneco de madeira.

Madeira essa que também é simbólica, pois vem de uma árvore vívida e sonhadora. Esta, por sua vez, também teve seu momento de ser transformada em menino: a árvore sonhava em ser menino e o menino em ser árvore. A relação árvore-menino mostra a conexão entre ambos, o que têm em comum, o que os une, o que cada um descobre sobre o outro e principalmente sobre si. Talvez ser “apenas” um pedaço de madeira possa representar uma profundidade imensa de coisas, que só se descobre olhando para dentro em um processo de autodescoberta, de valorização da essência e das próprias verdades carregadas. 


As pequenas verdades de Pinóquio são ressignificadas à medida que o olhar se volta para si, mostrando que, mesmo pela simples aparência, nossa essência está repleta de quem somos e de quem temos potencialidade de nos tornar, reconhecendo-nos e aceitando-nos dentro da nossa própria identidade.

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.

Fernanda Cristina Cunha

Marguerite se sente incomum e luta todos os dias para preservar as aparências diante aqueles que a rodeiam. Suas ações são imutáveis, se fechando em repolho, Margarite tem dificuldades em realizar ações que para muitos são simples, como se relacionar com colegas de trabalho, conhecer lugares novos, ir à festas, usar roupas de determinados tecidos e até usar um despertador.

Ela se sente agredida pelo barulho, pelas conversas constantes de seus colegas e pelo desábito. Cansada desse estado, acompanhamos o encontro dela consigo mesma. Ao deparar-se com um diagnóstico, diferente do esperado, Margarite vê nele as respostas para aquilo que tanto sentiu ao longo da vida.

A Diferença Invisível de Julie Dachez, com ilustração de Mademoiselle Caroline, publicado no Brasil pela editora Nemo ele é uma lição de de respeito e de tolerância, que nos trás de modo sensível um recorda da vida de Julie, portadora de Autismo.






Contudo, para além do diagnóstico, o livro trata dos desafios daqueles sofrem por não se encontram, ou não se aceitarem no mundo que estão. Sendo assim uma forma de falar sobre o diferente, a liberdade e a  autoaceitação.


Fernanda Cristina Cunha é graduanda de Psicologia pela Univille. Atua como bolsista do Prolij e busca através dos livros que lê as longas caminhadas por dentro de si mesma. 
Jennifer Bretzke Meier

Em sua obra “Já pensou se alguém acha e lê esse diário?”  a  autora Nilza Rezende dá a voz à João Gabriel, um adolescente cercado de incertezas e ansiedade. Seu pai saíra de casa sem dar qualquer explicação e  a mãe pensa que mudar de cidade será  a melhor solução para recomeçar. Ele não quer um novo início, quer continuar onde está, frequentar os mesmos lugares e sair com amigos que o conhecem o suficiente, para não comentar sobre a sua família.

Infelizmente, essa fase determinada de sua mãe trouxe um namorado para viver com eles. Aí ficou insuportável, João precisava escrever, desabafar e por isso criou “O diário”. Não se engane, além de suas tristezas, o jovem rapaz compartilha dia-a-dia na escola, primeiro amor e muitas emoções. Você vai gostar de abrir este diário...



A fluida escrita de Nilza permite ao leitor sensibilizar-se com as angústias do jovem João Gabriel e relembrar sua própria adolescência, fazendo reflexões sobre como os sentimentos - mesmo tão confusos- são prazerosos e proporcionam incríveis descobertas.

Jennifer Bretzke Meier graduanda de Letras (Português/ Inglês) na Univille, atua como bolsista no Prolij e vê a literatura como fonte inesgotável de sabedoria e conhecimento.

Camilla Moraes 
Havia um grande pêssego maduro que tinha um cheiro muito gostoso e parecia delicioso. Quem vai ficar com o Pêssego?

A girafa alta, o crocodilo de boca grande, o rinoceronte pesado, o macaco esperto, o coelho saltitante e a lagarta inquieta: todos queriam comer o pêssego.

O livro Quem vai ficar com o pêssego, de Yoon Ah-Hae & Yang Hye-Won, a cada nova página inicia com a frase: Quem vai ficar com o pêssego?

E cada um dos animais procura uma questão a seu favor para conseguir ficar com o pêssego, a girafa diz que o mais alto deve ficar com o pêssego, o rinoceronte diz que precisa ser o mais pesado a ficar com o pêssego, o crocodilo diz que quem deve ficar com o pêssego é quem tiver a maior boca, o coelho disse que quem tinha as orelhas mais compridas devia ficar com o pêssego, o macaco disse que devia ser quem tinha a cauda mais longa, e então chegou a vez da lagarta... E agora o que será que essa pequenina usou de argumento?


A obra vai trabalhando de forma lógica com a criança, mas ao mesmo tempo a divertindo até se resolver a questão de quem ficará com o pêssego?! Ao final, o livro ainda traz duas atividades explicando como organizar as coisas de diferentes maneiras.

Camilla Moraes é aluna do curso de Psicologia na Univille. Atua como bolsista no Prolij e vê em cada livro um novo sonhar.

Lara Cristina Victor 
Nesta obra encantadora, o poeta Antonio Barreto e o ilustrador Diogo Droschi, passeiam em uma viagem poética na construção do novo de uma forma singular e bela. Os poemas se apresentam de maneira descontraída e os mesmos aparecem em um formato a fazer o leitor transitar livremente pelos versos e navegar por caminhos infinitos e misteriosos. Além de brincar com a palavras, ressoando novos sentidos aquilo até então concreto.

Este livro surge a partir de uma experiência única para o autor, envolvendo luzes coloridas, ovnis, naves, grilos e vagalumes. Assim sendo, os poemas são apresentados criativamente a partir dessa temática que é ressignificada por Antonio, como mostra nos poemas “Grilume”, “Vagalovnis”, “Surrealesma”, “Nave-mãe”, entre outros. Assim como destaca Bartolomeu Campos de Queirós, “Sua capacidade em tomar das palavras o muito além delas surpreende e encanta”.




Assim como Vagalovnis, há tantas outras obras poéticas e sensíveis que permeiam o acervo do Prolij, disponíveis para possibilitar tantos outros encantamentos.

Lara Cristina Victor é aluna do curso de Psicologia na Univille. Atua como bolsista no Prolij e vê em cada criança um pouquinho de si mesma.

Isabela Giacomini 
Nesse livro, Munduruku reconta fábulas populares do repertório indígena, que foram narradas através dos tempos e afirma que o importante é o ensinamento que deixaram para seus descendentes, em suas palavras: “Essa tem sido a silenciosa contribuição que os povos indígenas têm dado para tornar nossa terra mais bonita, sadia e equilibrada” e que, portanto, os leitores devem agradecer pela sabedoria de seus antepassados. A obra é dividida em três fábulas: O jabuti e a raposa, O jabuti e o veado-cantingueiro e O jabuti e a onça, que serão resenhadas a seguir:

A primeira delas fala de um pajé que reuniu o povo de sua aldeia em volta da fogueira para lhes cantar uma música dos ancestrais, para rezar aos espíritos e para contar-lhes uma história. O pajé fala ainda para seu povo que os índios correm riscos hoje em dia, pois estão em contato com os homens brancos que acham sua cultura superior e que, para provar o contrário, que nem sempre aquele que se vê como melhor é necessariamente o mais esperto, começa a história sobre a raposa e o jabuti. A raposa, querendo bancar a esperta, fez um desafio com o jabuti para testarem a coragem. O desafio era que o jabuti ficasse enterrado em um buraco, coberto por terra, durante três anos e depois seria a vez da raposa. Torcendo pela morte do pobre animal, a raposa passava pelo buraco e chamava o jabuti para ver se ainda vivia. Para seu descontentamento, todas as vezes o jabuti respondia e lhe perguntava se o tempo estava logo no fim. E assim, em sua ancestral paciência, o jabuti ficou ali durante os três anos. Agora era a vez da raposa e o jabuti a enterrou, fazendo com que os outros animais a observassem. O que será que aconteceu com ela? Durou por três anos embaixo da terá? Será que ela é mesmo a mais esperta? Talvez teria sido melhor não escolher logo um jabuti para fazer seu desafio!

Em “O jabuti e o veado-catingueiro”, o pajé se reúne com as crianças perto da fogueira e pede para que se deitem no chão, olhando para o céu, mesmo sem luar, mas explicando-lhes que as estrelas eram crianças que estavam lá no alto cuidando das que estavam aqui na terra. Depois, voltaram a se sentar para ouvir a história do pajé, mais uma vez sobre um jabuti, que dessa vez era desdenhado por um veado-catingueiro, que se achava melhor pela sua agilidade na locomoção. O pobre jabuti sempre ouvia deboches, sobre nunca sair do lugar, sobre não conseguir conhecer o mundo por conta de sua lentidão. Contudo, muito esperto, o jabuti disse que tinha ido até o outro lado da terra e voltado em uma semana e que era o veado que tinha chegado depois. O veado desafiou-se então a fazer o mesmo percurso em dois dias, mas o jabuti disse que em tempo menor que o dele era impossível, pois ter pernas compridas não era o suficiente, precisava de rapidez no pensamento, já que algumas distâncias podem ser vencidas com ele. Decidiram então marcar uma corrida para o dia seguinte, em que se reuniram outros animais esperando pela vitória do veado. Mal sabiam que o jabuti tinha combinado com seus irmãos para que se espalhassem ao longo do percurso para irem se revezando e assim ganharem a corrida. O jabuti sabia que aquilo não era completamente correto, mas sabia também que o tal do veado-catingueiro não tinha o direito de lhe excluir e caçoar. E assim foi, o veado aprendeu a duras penas que precisava conviver com as diferenças e que muitas vezes a inteligência e astúcia eram mais necessárias que a ligeireza.


Em “O jabuti e a onça” o pajé inicia falando às crianças sobre a importância das histórias e de fazê-las manterem-se vivas, pois dão continuidade aos povos. Um dos pequenos perguntou-lhe como colocar todas as coisas bonitas que dizia em prática. E, para isso, o sábio lhes contou uma história. Uma onça muito faminta estava atrás de comida por muito tempo, mas sempre tinha insucesso. Todo cheiro que sentia era uma esperança ou apenas uma elaboração de sua mente faminta. Um dia, porém, ouviu um som de uma flauta com uma música parecida com “Do osso da onça fiz minha flauta”. Atônita, a onça foi atrás da vozinha e se deparou com um jabuti tocando flauta. Muito esperto, o jabuti disse que a onça estava ouvindo mal de longe e que na verdade cantava: “do osso do veado fiz a minha flauta”. O jabuti decidiu então se afastar bastante, ficando perto de sua toca e cantar mais uma vez para comprovar a má audição da onça. E, novamente, cantou a primeira versão. A onça enfurecida correu para pegar o jabuti, mas ele se escapou para a toca. Sorte dela que conseguiu agarrar sua perninha, mas ainda mais esperto, o jabuti disse que aquilo era a raiz de uma árvore e não sua perna. Naquele dia a onça levou uma bela lição, e mesmo assim não desistiu e ficou ali, na porta da toca, esperando pela saída do jabuti. Ainda bem que ele podia ficar tranquilo, sem pressa, dentro de seu casco, enquanto ela ficava pintada de raiva e de fome!

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.

Fernanda Cristina Cunha
A violência,
seja qual for a maneira como ela se manifesta,
é sempre uma derrota.
Jean-Paul Sartre

Nesse mês de agosto discutimos "A Casa Tomada" de Julio Cortázar mediado pelo Ian Pogan, e "Impotências" de Marçal Aquino, mediado pelo professor Alexandre Cidral.

"Agora era tarde. Como me sobrava o relógio de pulso, vi que eram onze horas da noite. Cingi meu braço à cintura de Irene (eu acho que ela estava chorando) e saímos assim à rua. Antes de nos afastarmos senti tristeza, fechei bem a porta de entrada e joguei a chave no bueiro. (...)." (Cortazar, 1951)

Escrito em 1951, o conto "A casa tomada", foi publicado no livro Bestiário de Cortazar. Ele faz parte do gênero fantástico não simplesmente pelo mistério que se instaura no texto, mas pelo efeito discursivo do fantástico que se materializa através narrativa.

O Bestiário de Julio Cortazar

Já o conto do autor paulistano foi publicado em 2003, na obra Famílias Terrivelmente Felizes e conta a história daquele que não é dito e além do mais é esquecido.

Conhecemos a vida, ou melhor, a não vida de um falecido tio, o narrador caminha pelas possibilidades de vida, comparando-a com a vida real da qual ele viveu, buscando expressar as trajetórias de vida mais dignas que poderiam vir a acontecer, com namoradas, empregos, filhos, sexo e amor.


Famílias terrivelmente felizes de Marçal Aquino


Em ambas obras os personagens não se encaixam no mundo em que vivem,  são apresentados como eternos aprendizes da sobrevivência, cada qual com seus medos, ilusões e fugas. Contudo, esses abandonos da vida em comunidade ocorrem no primeiro conto por escolha, no segundo compulsoriamente.


Quadro de sínteses de A Casa Tomada


Detalhe do quadro de sínteses de A casa Tomada
Quadro de sínteses de Impotências 

Detalhe do quadro de sínteses de Impotências



Os registros acima são resultados de ambos os encontros. Ficamos felizes com a presença de todos. .
No próximo mês temos mais!

Fernanda Cristina Cunha é graduanda de Psicologia pela Univille. Atua como bolsista do Prolij e busca através dos livros que lê as longas caminhadas por dentro de si mesma. 

Jennifer Bretzke Meier
Charles Perrault, foi um escritor e poeta francês do século 19, o pioneiro dos contos de fadas voltados especificamente para as crianças, também conhecido como “Pai da literatura infantil juvenil”. Seus contos não eram romantizados como nas releituras feitas ao longo dos séculos, mas sim demonstravam que haviam valiosas lições a serem aprendidas pelas crianças por meio da literatura, por mais chocante que fosse.
“Era uma vez Perrault” reúne seis histórias do escritor, recontadas por Katia Conton, que se preocupou em acrescentar poeticidade ao texto sem perder a essência característica de Perrault:
Pele-de-asno: Em um reino muito antigo, viviam um rei e uma rainha, a rainha ficou muito doente e percebendo que iria morrer, pediu ao marido “Por favor, assim que eu me for, se case com uma mulher mais bonita do que eu”, apesar da relutância o rei aceitou seu pedido e ela pode descansar em paz. Acontece que a rainha era muito bela, e a única que se aproximava em beleza era sua própria filha. O homem pediu a princesa em casamento, ela apavorada relutou e se escondeu na floresta, trocando suas luxuosas vestes pela pele de um asno. Com isso, tinha esperança de que o rei a deixasse em paz, mas como poderia ser feliz? Voltaria a ter uma vida normal?


Barba-Azul: Era uma vez um homem de barba azul, todos na aldeia comentavam a respeito da característica tão peculiar, apesar de imensa riqueza, ninguém se aproximava dele. O homem tinha tido diversos casamentos, mas misteriosamente nenhum deu certo. Depois de insistir, e subornar a mãe de uma jovem, ela decidiu casar com ele. Muito feliz com a generosidade do marido, a jovem se sentia confortável na casa. Certo dia, Braba-Azul lhe informou que viajaria, e que a esposa poderia dar uma festa na casa. Lhe deu todas as chaves e lhe proibiu de utilizar apenas uma. Instigada pela curiosidade, na ausência de barba-azul a esposa abre o cômodo com a chave proibida, revelando um grande mistério.
Estes, e outros fabulosos contos compõem “Era uma vez Perrault” aliando as narrativas as ilustrações de artistas plásticos contemporâneos como Alzira Fragoso, Elisa de Magalhães, Flávia Ribeiro, Luciana Schiller, Luiz Hermano me Márcia Clayton.

Jennifer Bretzke Meier graduanda de Letras (Português/ Inglês) na Univille, atua como bolsista no Prolij e vê a literatura como fonte inesgotável de sabedoria e conhecimento.

Fernanda Cristina Cunha
"Não Era Você Que Eu Esperava", é uma graphic novel emocionante, que nos faz refletir sobre o nós, e a nossa dificuldade de lidar com o inesperado. Do ilustrador francês Fabien Toulmé (Autor também de Duas Vidas), foi publicado no Brasil pela editora Nemo, em 2017, com tradução de Fernando Scheibe.

A obra conta a história de mais do que o encontro entre um pai e uma filha que não é o que ele esperava. Ela é um olhar justo, sincero e comovente sobre o relacionamento de um pai com a filha que nasceu com Síndrome de Down.

A um primeiro momento o leitor o testemunho que choca por sua sinceridade, também aquece pela empatia que Fabien Toulmé consegue passar no leitor, descrevendo todos os estados emocionais do qual viveu. O modo fracês e cru obra contrapõem o preconceito velado, tão comum aos brasileiros. Ao apresentar essa jornada em busca da mudança da percepção sobre as coisas e de se aproximar da própria filha fazem a história mais envolvente.

Entre a raiva, rejeição, dúvida, momentos de tristeza e felicidade inesperada, o autor conta o difícil caminho entre as expectativas e a descoberta da trissomia de sua filha logo após o nascimento, quando nada acusava durante os testes de gravidez, passando pelas tempestades, desafios e dores, até chegar no momento de sublimação do amor.


"não é você que eu estava esperando, mas eu ainda estou feliz que você veio" resume a história de Toulmé e Julia perfeitamente. O autor transcorre sobre os maiores desafios da paternidade diante a Sindrome de Down, como encarar as necessidades especiais de sua filha? Como aprender a amá-la? E é nessa história de amor que ficamos imersos, comovidos e esperançosos.

A esperança surge a partir do momento que vemos que o amor pode ter mais de uma face, que ele se transforma, se potencializa e rompe todas as barreiras.

Fernanda Cristina Cunha é graduanda de Psicologia pela Univille. Atua como bolsista do Prolij e busca através dos livros que lê as longas caminhadas por dentro de si mesma. 

Isabela Giacomini
Volume 1: Raven e Dimas mostram a força de uma amizade que vai se construindo em uma jornada e que se dá ao acaso. Tudo começa quando um urso um tanto rabugento é acordado por uma garotinha que busca seus pais, pois se perdeu depois que brincava de correr atrás de uma borboleta. Quase sem ter paciência, Dimas resolve ajudar a garota e os dois saem com uma mochila enorme (só com o essencial) e um desenho da família, que é feito por Raven, a se aventurar. No caminho passam por algumas situações difíceis, como quase provar uma fruta venenosa! Mas nada se compara às maluquices do rei da Cidade das Charadas, que inventa leis para lá de absurdas, como a de que toda resposta só pode ser dada com a condição de que alguma charada seja desvendada, por isso, Raven e Dimas já não aguentam resolver enigmas. Entre suas andanças para lá e para cá, conhecem algumas personagens divertidas como Bianca, a Dona Oráculo, a Dona Pivara, a capivara do bar e Raimundo, o guarda da Cidade das Charadas. Bear é uma HQ com ilustrações belíssimas, que mesclam o humor ao sensível, elas, atreladas aos balõezinhos com uma linguagem super atual, marcada pela oralidade, sem uso de letras maiúsculas em inícios de falas, tornam a obra uma verdadeira imersão do leitor por meio da diversão, e claro, da curiosidade. Bear surgiu como uma webcomic, onde uma página do quadrinho era postada todas as terças-feiras e os leitores tinham o exercício de conferir semanalmente para ver seu rumo e, agora, estão reunidas em livros. E o melhor é que a história não encerra por aqui, pois esse é só o primeiro volume!

Volume 2: Neste volume, Raven e Dimas voltam com mais aventuras, ainda em busca do pais da menina. Dessa vez, seguem rumo e se deparam com uma nova cidade, bem diferente da Cidade das Charadas, essa é a Cidade das Crianças. Um lugar onde todos os adultos voltaram a ser crianças e super desobedientes, em que os próprios filhos têm de cuidar deles e de seus irmãos menores. Inicialmente essa parecia uma ideia incrível, não havia adulto algum para obedecer, para mandar comer brócolis, fazer lição de casa ou arrumar a cama, mas já pensou como ela ficaria depois de algum tempo? Quem é que trabalharia? Quem cuidaria para que as paredes não fossem rabiscadas? Quem é que cuidaria dos afazeres de casa? E em meio a um caos, Raven e Dimas descobriram que todos que entravam ali também se tornavam crianças. Sorte da menina é que ela já era uma, então nada mudaria, mas quanto ao Dimas? Tornou-se um bebê urso e, como já é de se esperar, ursinhos são manhosos e teimosos e querem ficar perto de suas mães. A partir daí uma nova aventura inicia, pois Raven, além de buscar por seus pais têm que cuidar do amigo, que agora também quer ir em busca dos seus. Os dois, em um momento, descobrem algo que pode mudar todo o rumo da história e por isso saem em busca do castelo, no topo da montanha, com seus novos colegas. Mais uma vez, encontram a cidade em plena confusão, pois independente de onde forem há crianças, mas, em meio a tudo isso, eles aprendem a lidar com novos apuros e podem seguir suas jornadas ainda mais experientes. No final desse volume a autora traz ainda o processo de criação dos quadrinhos, algumas informações e ilustrações extras e até um QR code para assisti-la desenhando uma das páginas da HQ. Tem como não se envolver? E no próximo capítulo tem mais, é claro!


Volume 3: No terceiro livro, Raven e Dimas, tendo voltado ao normal, iniciam a jornada acampados em uma barraca, que logo em seguida se enche de água, pois, na verdade, estão a navegar em um grandioso rio que trocou de sentido. Os dois conseguem uma canoa e conhecem o senhor Rio, que está em prantos pois lhe roubaram o cetro que dá controle às aguas, coisa de alguém que queria eliminar a superfície e tornar tudo um fundo de mar, ou de rio. Assim, Raven e Dimas são solicitados a ajudarem-no e recebem o poder de respiração enquanto estiverem submersos. Outra vez deixam de lado o grande objetivo de encontrar os pais da garota e se colocam em uma nova tarefa- a de recuperar o cetro roubado. No fundo do mar se encontram com a Dona Pivara, que não perdeu tempo para abrir um bar nas profundezas e também com um tubarão, que conhece sobre o reino e sobre o tal rei que roubou o cetro. Acontece que, no fundo do mar estava se planejando uma verdadeira rebelião, e as criaturas deveriam se alistar ao exército para que juntos dominassem o mundo e se vingassem da superfície. Dimas, Raven e o Tubarão como queriam resolver a situação, compraram fantasias e passaram pelo processo de alistamento, pois somente assim poderiam acessar o reino. Ao descobrirem quem era o verdadeiro rei ficaram boquiabertos e o tubarão Djair, o rei legítimo, não deixou a história quieta. Uma nova confusão acontece em busca do cetro e no retorno para a superfície, e assim a aventura continua e, claramente, não acaba por aqui! Em seu site das webcomics, a autora Bianca Pinheiro fala que a série Bear passará por um hiato, mas que ela voltará a produzir em breve, então vamos aguardar!

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.


Lara Cristina Victor
Este livro sensível conta sobre pequenas e grandes coisas do mundo. Foi escrito e ilustrado por Oliver Jeffers, que escreveu o livro para seu filho quando ainda bebê, a fim de lhe explicar sobre algumas coisas que ele considerava importantes do mundo, em suas palavras “enquanto eu tentava entender o mundo por você”.

O carinho e cuidado do autor pode ser sentido pelo leitor no decorrer da leitura, ao visualizar as imagens tão vibrantes e carregadas de detalhes, assim como a linguagem escrita tão simples e ao mesmo tempo tocante. Oliver explica minuciosamente tanto sobre a galáxia, sobre a terra e o mar, como sobre as pessoas, animais, cidade e campo.

São muitas as vezes em que estamos tão conectados nesse planeta, que não nos damos conta das coisas grandes que estão ao redor de nós e também das coisas pequeninas que passam despercebidas no decorrer de nossos dias. Coisas essas, que podem nos fazer refletir sobre como nada é fixo, eterno, imutável. Como tudo está em constante transformação, tudo muda, tudo troca de lugar. As coisas se desfazem, se destroem e também se criam novamente.


Observar tudo com um pouco mais de calma e de cuidado pode fazer com que aprendamos mais sobre o mundo e a pessoas, assim como desacelerar um pouco nosso ritmo frenético e mecânico, que apenas nos limita e empobrece a alma. Procuremos olhar mais para nós mesmos, fazer as coisas no nosso tempo e saber criar nosso melhor ritmo para que sejamos mais ativos, humanizados e transformadores.

Lara Cristina Victor é aluna do curso de Psicologia na Univille. Atua como bolsista no Prolij e vê em cada criança um pouquinho de si mesma.
Jennifer Bretzke Meier
Nick Carraway, um comerciante muda de cidade e acaba por se tornar vizinho de um bilionário conhecido por Jay Gatsby, o qual era conhecido pelas luxuosas festas que oferecia em sua mansão, tamanha riqueza era alvo de muitos rumores.

Após ser convidado para muitos eventos, Nick descobre que a maioria dos convidados sabe muito pouco sobre o magnata, qualquer traço de seu passado parece ter sido apagado; Intrigado Nick visita sua prima Daisy e seu marido Tom Buchanan, um antigo atleta universitário abastado, sem saber que a relação do casal com o bilionário misterioso era mais antiga do que ele poderia imaginar.

Daisy e Jay se envolvem amorosamente, aproveitam as festas e o entretenimento de Tom, para se verem. A audácia dos amantes se mostra insuficiente diante das amarras que os impedem de permanecerem juntos, e, apesar da fortuna, a maior preciosidade (Daisy) não estava ao seu alcance.



O “Grande Gatsby” escrito por F.Scott Fitzgerald não foi um sucesso em sua publicação, devido ao mal momento econômico no país de origem do autor (EUA), mas se destacou ao ser publicado anos mais tarde. A icônica obra trata de temas universais: poder, luxúria, cobiça, riqueza, orgulho e amor e ensina uma importante lição sobre o valor dos relacionamentos.
A obra também foi adaptada para o cinema, com o mesmo título do livro em 2013 e conta com a atuação de Leonardo DiCaprio e venceu as categorias de melhor figurino e melhor design de produção no Oscar de 2014.

Jennifer Bretzke Meier graduanda de Letras (Português/ Inglês) na Univille, atua como bolsista no Prolij e vê a literatura como fonte inesgotável de sabedoria e conhecimento.


Fernanda Cristina Cunha
É na tinta acrílica que Odyr Bernardi transforma cada página da sua adaptação de "A Revolução dos Bichos" em uma obra de arte dando corpo e movimento ainda mais sensíveis à narrativa de George Orwell.

A Revolução dos Bichos, escrita em meio a Segunda Guerra Mundial, ataca satiricamente as práticas de Stalin e a própria história da União Soviética, criticando assim o que o regime instituído pela Revolução Russa se tornara.

Cansados de se submeterem a exploração, os animais da Granja Solar, motivados pelo discurso do velho Porco Major, veem a possibilidade de impelir uma revolta em busca da posse da fazenda. Em uma tentativa de implantar um sistema igualitário e cooperativo do qual possibilitem a eles deixar no passado a vida miserável e infeliz que vinham vivendo, cria-se uma nova tirania, agora muito mais opressora e doentia dos quais estavam sujeitos.


A realidade sombria escrita por Orwell pode a primeira vista ser apreciada como uma parábola simples e comovente. Contudo, se atendo a cada personagem, vê sê pintada a face da humanidade no seu melhor e pior. Destacando assim os demônios e as cruzes de cada ser humano: ganância, preguiça, inveja e dor.

Mas é na sensibilidade de Odyr que essa face se mostra ainda mais brutal. A adaptação quase nos faz crer que a história já foi concebida no HQ. Nada se perde e os textos mais marcantes aparecem de forma integral na obra, preservando assim as sensações de sua leitura. Cada página parece ganhar movimento diante o sentimento de impotência dos quais o leitor sujeita-se ao decorrer da história.

A revolução que se inicia através de um discurso nobre de igualdade entre todos os animais da Granja, mostra ao leitor com uma aterrorizante perfeição, como o poder transforma oprimidos em opressores. Parafraseando Christopher Hitchens "O que este livro nos diz é que aqueles que renunciam à liberdade em troca de promessas de segurança acabarão sem uma nem outra.

Fernanda Cristina Cunha é graduanda de Psicologia pela Univille. Atua como bolsista do Prolij e busca através dos livros que lê as longas caminhadas por dentro de si mesma. 


Isabela Giacomini
Cuidado com o menino! escrito e ilustrado por Tony Blundell e traduzido por Ana Maria Machado faz um revisitamento às histórias clássicas infantis que trazem a figura icônica do lobo mau. Nesse caso, a história remontada é de Chapeuzinho Vermelho, que assume a figura de um menino e do lobo que nem é tão mau assim, pois se coloca a ouvir os conselhos do menino. Este, por sua vez, mostra uma esperteza muito maior, e, mesmo que o lobo queira comê-lo prontamente, dá algumas sugestões de preparos de refeições especiais com meninos, entregando-lhe receitas mirabolantes.

Entre os pratos estão a sopa de menino, que precisa de ingredientes como uma tonelada de batatas, um barril de tijolos e um poço cheio d’água; um pastelão de menino, que leva uma vaca de leite, seis sacos de cimento, um tanque de feijão e outras coisas que parecem mais impossíveis ainda e, por último a receita de bolo de menino, super elaborada, que precisa de cinco baldes de bombeiro, um carrinho de mão de nozes, entre outros. O menino, como parece já saber qual é o objetivo do lobo, vai o despistando cada vez mais, mas será que ele é tão bobo assim?  

A obra é um revisitamento riquíssimo tanto dos personagens como do enredo, através de ritmo, de repetições que envolvem o leitor e de um tom bem-humorado. A figura do lobo é um dos elementos que mais chamam a atenção pela desconstrução que é proposta. Assim como há um grande engajamento na leitura pela familiaridade que traz ao conto clássico, por outro lado, cria um estranhamento em quem o lê, pois as personagens diferem, assim como suas atitudes perante situações já conhecidas ou previstas, fazendo com que a história crie um rumo único e ainda mais curioso.


O autor propôs rupturas também com a moral dos livros infantis, mais precisamente das fábulas, com os desenhos utilizados para representar a ferocidade do animal e com a cor proposital da camiseta do menino: vermelha.

Por isso, Cuidado com o menino! não poderia deixar de ser uma de nossas sugestões para trabalhar com crianças e jovens. Uma dica muito legal é a de apresentar a obra depois de já conhecerem alguns dos contos clássicos, especialmente Chapeuzinho Vermelho. Dessa forma, eles mesmos podem fazer inferências sobre o livro, o relacionando, achando semelhanças e diferenças e brincando também de reinventar as histórias a partir de uma atividade divertida que envolve habilidades de leitura e escrita.

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.




Lara Cristina Victor
O livro O Passeio, escrito por Pablo Lugones e ilustrado por Alexandre Rampazo, conta um pouco da história de um pai e sua filha. A história é apresentada inicialmente com o empurrãozinho dado pelo pai, que faz com que a menina supere o medo de andar de bicicleta sem rodinhas. Durante o passeio, a menina conta sobre as sensações e emoções vivenciadas na companhia do pai, revela como em alguns momentos, consegue ultrapassar o pai e em outros, é ele que toma a dianteira. Ainda, fala sobre como ora eles andavam juntinhos, quase que de mão dadas, ora a distância aumentava significativamente - e isso era natural -, e esse podia ser o momento perfeito para se deixar levar pelo vento e desfrutar a paisagem.

Essa leitura nos dá abertura para refletir sobre a imensidão que uma relação é capaz de alcançar, o quanto o contato saudável com o outro nos dá liberdade e confiança para continuar seguindo em frente, assim como aceitar que nem tudo terminará de forma feliz, mas o importante é desfrutar os momentos únicos deste percurso. É por meio deste passeio que a obra nos mostra o quanto que o tempo vai passando ligeiramente e não nos damos conta; o quanto precisamos aproveitar ao máximo o tempo que a vida nos dá, principalmente junto das pessoas que amamos e que nos fazem bem, e também, como sem estarmos preparados, de uma hora para outra tudo pode mudar.


Deste modo, essa é uma obra bastante delicada, com texto e ilustrações muito sensíveis que nos fazem vivenciar esse passeio de modo único, sendo essa uma história inspirada na vida do autor, que nos convida a nos aventurar neste e em tantos outros passeios literários.

Lara Cristina Victor é aluna do curso de Psicologia na Univille. Atua como bolsista no Prolij e vê em cada criança um pouquinho de si mesma.



Jennifer Bretzke Meier 
Em um grande labirinto moravam quatro amigos: Sniff, Scurry, Hem e Haw, todos os dias pela manhã, calçavam seus tênis e iam à procuro do que os deixava felizes: Queijo Mágico!

Sniff e Scurry tinham uma boa memória e eram capazes de se lembrar onde já haviam passado, por isso não tinham de desbravar novos caminhos, Hem e Haw também eram muito inteligentes, porém se sentiam inseguros com novas rotas e preferiam andar sempre pelas mesmas partes do labirinto. Em uma manhã especial os pequenos encontraram o Posto de queijo Q, um local do labirinto cheio de queijo mágico. Não poderiam estar mais felizes, se deliciavam com o queijo e imaginavam todas as coisas que poderiam fazer com aquele estoque imenso.

Nos dias seguintes, Sniff e Scurry acordavam cedo e seguiam para o posto de queijo Q, eles mediam o queijo para ver o quanto ainda restava e também o cheiravam para ver se não estava velho. Hem e Haw, começaram a acordar muito tarde e não procuravam mais por postos de queijo, pois achavam que duraria para sempre: eles estavam enganados. Sniff e Scurry ficaram tristes mas seguiram rapidamente atrás de um queijo melhor e mais saboroso, já os dois outros colegas se desesperaram com o ocorrido e Hem exclamou: Quem mexeu no meu queijo?! Se recusavam a aceitar que o queijo mágico tivesse chego ao fim, talvez fosse melhor sentar e esperar que quem o tivesse levado, o devolvesse.



Eles podiam esperar e nunca reaver seu queijo mágico, ou poderiam ir com Sniff e Scurry atrás do delicioso – e desconhecido – queijo novo.

Muitos dos leitores deste clássico expressaram o desejo de ter conhecido a obra ainda quando crianças, deste modo, Spencer Johnson em conjunto com Steve Pillegi, transpuseram a sensibilidade do tema através da leitura leve e ilustrações coloridas, dinâmicas e expressivas.

Quem mexeu no meu queijo? é um best-seller motivacional, que auxilia adultos, jovens e crianças ao fornecer formas de lidar com as mudanças na vida, abandonar o medo e encarar novos desafios, com a premissa de que se apegar ao passado pode impedir de desfrutar um futuro incrível.


Jennifer Bretzke Meier graduanda de Letras (Português/ Inglês) na Univille, atua como bolsista no Prolij e vê a literatura como fonte inesgotável de sabedoria e  conhecimento.

Isabela Giacomini
“Quanto mais palavras você conhece e usa, mais fácil fica a vida. / Por quê? / Vai saber conversar, explicar as coisas, orientar os outros, fazer melhor o trabalho, arranjar um aumento com o chefe, progredir na vida, entender as histórias que lê, convencer uma menina a te namorar”. Esse é o empoderamento que a linguagem traz, especialmente àqueles que leem e se debruçam sobre diferentes livros, assim como o pai do menino vendedor de palavras o fez e ensinou o filho a fazê-lo.

Muito esperto, e tendo um pai muito inteligente e leitor assíduo, aproveita-se do conhecimento dele para promover sua fama no grupo de amigos. A cada dia os garotos fazem perguntas sobre o significado das mais diversas palavras para que ele pergunte ao pai, que sempre tem as respostas na ponta da língua. Todos ficam boquiabertos e até passam a desconfiar de tanta sabedoria, mas o pai mostra que seu vocabulário é amplo por conta da leitura, que enriquece o indivíduo em vários aspectos. O menino passa então a negociar os significados que o pai conhece por recompensas que os amigos o trazem.

O pai, no entanto, quando descobre essa “venda de palavras”, ao invés de puni-lo, instiga no filho a vontade dele mesmo pesquisar os significados, e o apresenta às enciclopédias. O menino fica maravilhado a cada novo termo que descobre e ele mesmo passa a responder algumas curiosidades dos garotos. Até que um dia, um deles, com muita inveja, decide perguntar o significado de uma palavra inexistente, sem pé nem cabeça. O pai confessa que não sabe e o menino se frustra, pois pensa que pais têm de saber tudo!


A obra de Ignácio de Loyola Brandão além de mostrar toda a riqueza das palavras e da leitura e a importância de dominar a linguagem, traz a questão de que ninguém é obrigado a saber tudo sobre tudo, que nosso conhecimento é vinculado àquilo que vivemos, estudamos e experimentamos, que é possível à medida que está ao nosso alcance e que nem por isso somos menos inteligentes ou somos incapazes. Ao dizer “eu não sei” o pai mostra para o filho que este é o mundo concreto, onde aprendemos com as situações que nos são postas, e que muitas vezes são nelas que vemos quem está verdadeiramente ao nosso lado, aceitando quem somos e o que sabemos ou não.

O livro é ainda mais bonito e atrativo com as ilustrações de Newlands e com as cores utilizadas, sempre dando enfoque às palavras, protagonistas de toda a história. Mesmo com um número bastante grande de palavras, há uma harmonia no momento da leitura, com fontes usadas intencionalmente. E claro, assim como os meninos ficam curiosos com tantas palavras, nós leitores também ficamos e vamos logo tendo a mesma vontade do menino em pesquisa-las! Não só a personagem se envolve com a situação, como o leitor assume este papel de desbravador da linguagem!

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.


Isabela Giacomini
Há 137 anos nascia o escritor Monteiro Lobato, considerado o precursor da literatura infantil no Brasil, e merecidamente! Ele trouxe um novo olhar às crianças, falando sobre sua esperteza, curiosidade e imaginação, mesclando também elementos da cultura brasileira, possibilitando uma maior aproximação aos seus leitores. Ele não apenas criou histórias encantadoras que nos suspendem no mundo concreto e nos levam a diferentes aventuras, como buscou incentivar a leitura, a falar da importância de ser crítico, a valorizar as diversidades entre as pessoas, a respeitar a natureza, a resgatar histórias clássicas da literatura, a preservar a cultura nacional e local e a preconizar os momentos de contação de histórias através de suas personagens icônicas. E por falar nas personagens, como não lembrar do Sítio do Pica-Pau Amarelo, da boneca Emília com suas pílulas falantes, da Narizinho de nariz arrebitado, de Pedrinho com suas aventuras pelo sítio, da Tia Nastácia com suas receitas maravilhosas, de Dona Benta com suas histórias antes de dormir, da Cuca com seus planos mirabolantes de captura, do Tio Barnabé, do Rabicó, do Burro Falante, da Vaca Mocha e tantos outros, quase incontáveis?! Ainda que existam críticas a termos utilizados por ele, temos que lembrar que cada escritor vive em um tempo histórico, com pensamentos não necessariamente iguais aos contemporâneos, e que, mesmo assim, se pararmos para ler bem a fundo sua obra, observaremos que as próprias histórias desconstroem preconceitos e mexem com assuntos e temáticas muito pertinentes até hoje, mostrando que a literatura desestabiliza a noção de uma temporalidade bem definida e que atinge leitores sob diferentes perspectivas a cada vez que é lida, em cada novo momento.


Viva nosso pai da Literatura Infantil e pai de tantos outros autores que nele se inspiraram para escrever! Viva o Dia Nacional do Livro Infantil!

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.

Lara Cristina Victor
Isabela Giacomini
Para revisitar a infância e mergulhar na cultura brasileira, selecionamos alguns livros que mesclam cultura popular à imaginação e à diversão desmedida, confira abaixo as obras e sinta-se convidado(a) a lê-las e a descobrir a diversidade de gêneros e maravilhas que temos em nosso país:

Livro Armazém do Folclore, de Ricardo Azevedo:
Ricardo Azevedo cria um verdadeiro Armazém do Folclore ao trazer um compilado de gêneros que dizem muito sobre nossa cultura. Seu livro alterna quadras populares, com contos típicos e regionais, com frases feitas (que seriam expressões utilizadas em determinados contextos, como “dar uma colher de chá”), com lendas folclóricas, brincadeiras com palavras, receitas culinárias, adivinhas, trava-línguas, ditados, piadas e até mesmo histórias sobre personalidades icônicas como o Bicho-Papão. O livro propõe um jogo ao leitor, à medida que vai mudando a cada página suas possibilidades de leitura e de interação e permite uma visita encantadora pelas manifestações artístico-culturais do povo brasileiro. Por ora o leitor identifica-se com diversos ditos, cantigas, expressões e lendas e em outras ocasiões tem a oportunidade de conhecer traços da cultura nacional que não são necessariamente de sua região, ampliando a visão e o repertório da produção humana. Percebemos ainda que a obra é cheia de pesquisa, fruto dos estudos de Azevedo, que buscou unir a cultura popular, e por vezes apenas presente na oralidade, em um livro que permite que crianças, jovens, adultos- quem quiser- tenham acesso e conheçam um pouquinho mais da riqueza e da pluralidade cultural que possuímos e que precisamos preservar.


Livro Jogo da Parlenda, de Heloisa Prieto e ilustrações de Spacca:
“Escolha versos tradicionais, pequenas rimas fáceis e rápidas de dizer. Lembre-se de que cada verso precisa ter cinco ou seis sílabas. Acrescente aos versos o ritmo de uma cantiga e bata os pés ou as mãos para acentuá-lo”. Essa é o modo de preparo das parlendas proposto por Heloisa Prieto. Ela traz em seu livro diversas brincadeiras com os versinhos, alguns deles muito conhecidos, juntando as rimas a uma narrativa que cria para uni-los. Primeiramente o narrador sai para caminhar e encontra alguns amigos brincando com as palavras, logo as parlendas e novas personagens vão surgindo em meio a narrativa e ao texto prosaico. O que se sabe é que para divertir-se, jogar com as palavras pode ser uma boa saída. A criatividade da autora faz com que entremos no jogo da parlenda com a narradora e nos sintamos novamente como crianças. “Para ser saborosos, toda parlenda precisa de uma pitada de maluquice, um toque de humor e uma grande dose de imaginação”.


Livro Dezenove poemas desengonçados, de Ricardo Azevedo:
Esta é uma obra que nos remete ligeiramente a infância, sendo o autor, Ricardo Azevedo, que escreve e ilustra este livro repleto de poemas singelos e divertidos, mas que por trás da simplicidade dos versos, traz um trabalho cuidadoso com palavras e imagens que estimulam a reflexão sobre temas muito importante e atual para nossa vida.


Livro Trocadilho, de Jacqueline Salgado e ilustrações de Taline Schubach:
Uma junção de vários poemas muito divertidos, cheios de rimas, de sonoridade, de brincadeiras com as palavras, de recursos de linguagem e até de referências a textos clássicos. Os trocadilhos e versos construídos são muito poéticos, mexem com a imaginação do leitor e são intensificados pelas ilustrações de Schubach que tem a sensibilidade de trazer traços leves, que lembram os desenhos de criança, coloridos, alegres e abertos à invenção, efetivando o convite aos leitores de qualquer idade a se sentirem nesse universo da infância, com vistas à imaginação e à fantasia pelo jogo com as palavras: “troco uma folha em branco por folhas frescas de jasmim, também troco um pé de cabra por um pé de alecrim/ troco um canto qualquer da casa pelo canto da andorinha, troco um banco de dinheiro por um banco na pracinha”.


Livro Aula de carnaval e outros poemas, de Ricardo Azevedo:
Um livro que retrata a energia do carnaval, completo de poemas, ilustrações, quadrinhas, adivinhas e muitos versos para rimar. É assim que Ricardo Azevedo nos apresenta essa festa que é uma das mais antigas da humanidade, acreditando ser o Carnaval um rito que festeja a existência e a esperança. Pelas palavras do autor, durante essas festas e folias, acredita-se que costumava imperar um grande espírito de coletividade e igualdade entre as pessoas. Além de ser uma data que dá destaque a nossa extraordinária diversidade, que é o que caracteriza as manifestações da cultura popular.
Ricardo Azevedo, portanto, deposita toda sua paixão pelo carnaval nesta obra, buscando incentivar a arte popular, a nossa cultura e a esperança de construir um mundo melhor.


Lara Cristina Victor é aluna do curso de Psicologia na Univille. Atua como bolsista no Prolij e vê em cada criança um pouquinho de si mesma.

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.





Isabela Giacomini
Que tal trabalhar com os clássicos? 

Abaixo segue uma dica de leitura muito rica para envolver jovens estudantes por meio de temáticas instigantes e de uma narrativa que permite muitas reflexões e olhares sob a perspectiva da contemporaneidade. A leitura torna-se ainda mais produtiva quando é feita a ponte entre o momento em que o livro foi escrito e entre o contexto em que o leitor se situa, e claro, com uma boa mediação! Confira a resenha:

Madame Bovary marca o início do Realismo em nível mundial. Na obra, Flaubert fala de temáticas que anteriormente existiam, mas eram veladas, como o adultério, as falsas relações, a infelicidade no casamento, o empoderamento feminino, os afetos trocados por interesses, a condição do homem enquanto provedor da casa e a sociedade envolta por anseios mascarados.


O romance fala sobre o casamento entre Charles Bovary, um médico, com Emma, filha de um de seus pacientes, Rouault. Emma, muito jovem, sonhadora e leitora assídua de livros românticos vê em Charles uma possibilidade de ascensão no amor. No entanto, com a convivência, madame Bovary, vê-se enfadada com a simplicidade e monotonia do marido e da vida conjugal, sempre comparando sua vida às dos livros que lia e a seus ideais.

Ao longo da narrativa ela se permite conhecer outros romances e a se aventurar com outros homens às escondidas. São através de experiências que vê que o amor não é capaz de acabar com todas as suas dores e vontades, que suas escolhas não foram como esperava e que talvez a vida não seja suficiente para isso. Contudo, ela escolhe pela liberdade, faz suas próprias decisões em um tempo de muitas críticas, é símbolo de força feminina e representante da situação de tantas outras mulheres que viviam nas mesmas condições, infelizes com um casamento pacato e de aparências.

Gustave Flaubert chega a ser levado aos tribunais na época acusado de imoralidade por conta de sua obra, ainda que ela não tivesse sido publicada integralmente. Na primeira divulgação alguns trechos foram retirados, mas não foi o suficiente para que não recebesse críticas, é, no entanto, com essa proibição que o desejo dos leitores acessarem a obra cresceu, esse movimento permitiu também que muitos deles se identificassem e contribuíssem para uma maior repercussão das temáticas abordadas.

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura clássica uma oportunidade para levar mais discussões enriquecedoras para a sala de aula. 

Como já é de costume, no mês de abril costumamos celebrar a literatura infantil de uma maneira especial, por conta do aniversário de dois de nossos grandes escritores: Hans Christian Andersen e Monteiro Lobato! E em 2019, preparamos uma nova edição do Abril Mundo, um evento tradicional realizado pelo PROLIJ. Confira abaixo a programação completa e demais informações:

Dia 02/04 (terça-feira), das 14h30min às 16h30min, no anfiteatro do CCJ: encontro do Dia Internacional do Livro Infantil, com sessão de contação de histórias, discussão do conto "A roupa nova do imperador", de Andersen e um momento para refletir e pensar sobre a literatura infantil e o que ela tem para nos dizer, mostrar e ensinar, com mediação da professora pesquisadora Alcione Pauli.

Dia 10/04 (quarta-feira), das 18h às 19h, no anfiteatro do CCJ: encontro do Clube do Conto* para discussão da obra "O paraíso são os outros", de Valter Hugo Mãe, com mediação da professora Berenice Rocha Zabbot Garcia (Letras/Univille)

Dia 17/04 (quarta-feira), das 19h às 22h30min, local a confirmar: encontro do Salve o Cinema em parceria ao PROLER e ao segundo ano do curso de Letras, com sessão e discussão do filme "Into the wood", dirigido por Rob Marshall, com mediação de Nicole Barcelos

Dia 24/04 (quarta-feira), das 18h às 19h, no anfiteatro do CCJ: encontro do Clube do Conto* para discussão do conto "A pequena sereia", de Hans Christian Andersen, com mediação de Gabrielly Pazetto e Luana Simão (Letras/Univille)


*Para participar do Clube do Conto é necessária a inscrição, lembrando que basta realizar uma vez, pois ela é válida para todo o primeiro semestre do ano. Acesse o formulário pelo link: http://bit.ly/clubedoconto2019_1

Os eventos são abertos a todos os interessados. Venha participar conosco e fazer o mês de abril mais literário!


As inscrições para o Grupo de Leitura e Contação de Histórias de 2019 estão abertas!

O que é o grupo?
O Grupo de Leitura e Contação de Histórias, também chamado de Jornada (em homenagem à narrativa visual de Aaron Becker), é um dos projetos vinculados ao PROLIJ (Programa Institucional de Literatura Infantil e Juvenil da Univille) e tem a duração de um ano letivo, sendo que ao longo do primeiro semestre estudam-se histórias, poemas e narrativas diversas, alguns teóricos, as estratégias para se contar uma história e também há a análise de elementos extratextuais que podem ser utilizados. Já no segundo semestre, o grupo vai para escolas, Centros de Educação Infantil e demais espaços que solicitam a contação, para diversas sessões de muita história e literatura.


Quando acontece?
Os encontros do grupo acontecerão a partir do mês de abril de 2019, quinzenalmente, às terças-feiras, das 15h às 16h30min.

Onde será realizado?
No anfiteatro do CCJ da Univille, campus Bom Retiro, próximo ao anfiteatro I do bloco A.
  
Como funciona?
Se você ficou interessado basta se inscrever no link a seguir, até o dia 29/03: http://bit.ly/contacaoprolij2019 e ficar de olho no e-mail para receber as informações dos encontros a serem marcados!

Quem pode participar?
Todo mundo! Seja acadêmico, egresso ou membro da comunidade externa. A participação é livre e gratuita!


08 de março.
Dia da mulher.
Assim como: dia de luta, de força, de resistência, de empoderamento e muito, mas muito amor próprio.
Que nesse dia - assim como em todos os outros - as mulheres possam cada vez mais se unir, se amar e serem donas de si mesmas. Que este seja apenas mais um dia para que elas possam se lembrar que juntas podem muito mais e que são capazes de fazer absolutamente qualquer coisa que desejarem.
Para celebrar e incentivar este movimento, separamos poemas exclusivamente escritos por mulheres,  que retratam em seus versos carregados de sentimentalismo, histórias de luta, lições de vida, visões de mundo, representatividade, desilusões amorosas, dentre outras temáticas capazes de sensibilizar.

Confira abaixo nossa seleção de poemas:


ASSIM EU VEJO A VIDA

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Cora Coralina


MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles


LOBOS? SÃO MUITOS.

Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.
Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.
Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.
Hilda Hilst


LEMBRA

Lembra o tempo
em que você sentia

e sentir
era a forma
mais sábia de saber

E você nem sabia?
 Alice Ruiz


AMOR VIOLETA

O amor me fere é debaixo do braço,
de um vão entre as costelas.
Atinge meu coração é por esta via inclinada.
Eu ponho o amor no pilão com cinza
e grão de roxo e soco. Macero ele,
faço dele cataplasma
e ponho sobre a ferida.
 Adélia Prado


ÚLTIMO POEMA

Agora deixa o livro
volta os olhos
para a janela
a cidade
a rua
o chão
o corpo mais próximo
tuas próprias mãos:
aí também se lê
 Ana Martins Marques
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