A convite do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Prolij tem o prazer de participar do  IIIº Encontro de Agentes de Leitura do Programa Arca das Letras, na IIIª Feira Sustentável de Santa Catarina. O objetivo é disseminar o gosto literário às comunidades rurais de todo o Brasil; para contribuir com esta iniciativa os prolijianos ministrarão oficinas relacionadas às linguagens verbal e visual da Literatura Infantil Juvenil. Prestigie!



Por Alcione Pauli

Todos comumente conhecemos nossos pais: parentes que nos cuidam, ensinam um bocado de coisa e nos tentam proteger de todos os perigos. Katy, escritora da nação Potiguaras, poeticamente no livro Nós somos só filhos, reflete a maravilha da teia da vida de pertencermos a uma terra, a um fruto, a uma pedra e a um tempo.
Somos filhos de quem? O que somos? O que sentimos ao entardecer e ao amanhecer? O que significa somos só filhos? Estes são alguns questionamentos provocados pela sensível escrita de Katy e da imagem de Negro.
Provocações e encantamentos que cruzam entre palavras, tintas, cores, texturas e a arte da cestaria, nos convidam a pensar por que estamos aqui, o que somos ou o que podemos ser. Uma leitura para todas as idades que nos abre caminhos para nossa ancestralidade brasileira.

FICHA TÉCNICA

Obra: Nós somos só filhos
Autora: Sulamy Katy
Ilustrador: Mauricio Negro
Editora: Zit
Ano: 2011

Por Alcione Pauli

A água do rio Tapajós é o cenário onde se desenrolam as peripécias do personagem Koru. O guerreiro divaga enquanto observa tudo do rio: o rumo, os peixes, as plantas, as capivaras. Suas inquietações surgem após ter participado de uma experiência misteriosa e, para encontrar as respostas a questões incitadas nessa experiência, ele recorre ao rio.
As mulheres da aldeia acham que Koru enlouqueceu, mas sua esposa, a fiel Maíra, acredita no marido. E por nutrir esse sentimento pelo companheiro, ela decide participar da aventura de flutuar pelas águas do rio Tapajós junto de Koru.
Há um momento na história em que o casal mergulha no rio, e esse mergulho é para dentro deles mesmos. Os sonhos de Koru e Maíra cruzam e há uma explosão de fenômenos. Maíra, com carinho e delicadeza, não abandona o marido.
O retorno da viagem ao rio guarda respostas e novos mistérios.
O livro desse paraense do povo Munduruku faz as pernas tremerem e o coração bater, alimentando assim a alma e as inquietações humanas. Para dialogar com a linguagem escrita, o artista Fernando Vilela cria imagens a partir de anotações e de viagens na arte indígena brasileira de diversas etnias. A técnica utilizada é a xilogravura.
 Sabedoria das águas, de autoria de Daniel Munduruku, é um mergulhar nas letras e nas marcas das ilustrações.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Sabedoria das águas
Autor: Daniel Munduruku
Ilustrador: Fernando Vilela
Editora: Global
Ano: 2004



Por Sueli de Souza Cagneti

Puxando uma lata que representa uma locomotiva e duas caixas de papelão que transportam passageiros, Moussa viaja imaginaria e cotidianamente, conduzindo e/ou conduzido por dois fios.
Um dos fios o liga e o separa da mãe, ao partir com seu trem rumo à fantasia - no centro do povoado, debaixo de um baobá, seu avô inicia suas tardes e a de tantos outros meninos com Era uma vez...
O outro fio o religa à mãe e ele volta, passando pelos mesmos lugares, mostrando ao leitor a paisagem, as pessoas, a fauna e a flora de terras africanas, no Senegal.
As ilustrações em cores quentes e figurativas nos apontam para um mundo tão particular, mas tão igual ao nosso, quando se trata de aconchego materno e fantasia (ainda mais complementada por histórias de um avô).
Conhecer Dois fios é conhecer um pouco dos fios com os quais Moussa brinca e vive, mas – essencialmente – é conhecer os dois mesmos fios que nos separam e nos ligam a Moussa, garantindo as marcas do humano, independente de geografia, etnia, religião ou o que quer que seja. Somos iguais. Nossa essência nos sinaliza isso. E basta. O restante é embalagem.
           
FICHA TÉCNICA:

Obra: Dois Fios
Autores: Pep Molist e Emilio Urberuaga
Tradutor: Ronaldo Polito
Editora: Cosac Naify
Ano: 2012
        Como nos lembrou o prolijiano correspondente nacional Luís Camargo, na semana passada, a Revista Crescer, da Editora Globo, realizou sua premiação dos "30 Melhores Livros Infantis do Ano". Nas palavras da própria revista: "Tudo começa em março, quando especialistas e apaixonados por literatura infantil enviam para a CRESCER seus livros preferidos" do ano anterior, então são cruzados os dados e uma lista com 30 destes livros é publicada. A coordenadora do Prolij, a Profª Dra Sueli de Souza Cagneti, é uma das especialistas envolvida nesta escolha.
        Como em outras edições, temos o prazer de ter discutido e resenhado algumas destas obras. Neste ano: Uma princesa nada boba, O leão e o camundongo e Mil e uma estrelas; as três obras estão também analisadas no segundo volume da Coleção Livro do Livros - Resenhas do PROLIJ.

        Confira os demais livros premiados aqui!




Por Alcione Pauli e Maria Lúcia C. Rodrigues

“Mais importante que as dores no corpo foi a liberdade que jamais tinha experimentado.” (Olívio Jekupé)

Guerreiro da nação Guarani, Olívio Jekupé viajou pelo mundo e escreveu alguns livros. Escreve por acreditar que a tecnologia da escrita pode apresentar um olhar singular sobre os misteriosos povos indígenas.
Ao apresentar “Tekoa conhecendo uma aldeia indígena”, Olívio nos convida a conhecer o mundo visto pelo povo guarani. Para fazer esta viagem o autor cria personagens fora da Tekoa e os insere lá no lugar no qual vivem os guaranis - conforme suas leis e costumes - para um mergulho silencioso e cuidadoso nos ritos e mitos que circulam nos alimentos, nos eventos e nas relações.
Os personagens Eduardo e seu filho Carlos, Mirim e seu pai Tucumbó são os que fazem a informação aparecer.  Carlos é um menino de São Paulo que passa um mês com o menino Mirim, filho do Cacique Tucumbó. Mirim apresenta tudo ao Carlos sem pressa. Passeia entre as bananeiras e os rios e vai ensinando coisas de seu povo. Sem querer ensinar revela os segredos que pode soltar.
Carlos é envolvido pelo pio da Coruja e adormece entre os guaranis. Depois de um sono revigorante descobre o que é Tekoa, poi-poi, yvira nhex, petynguá, mboy, tokoiró... os dias passam e ao retornar para sua casa, em São Paulo, leva em sua memória a... “Saudade é uma distância que não se mede em quilômetros. Aquela gente tão igual e tão diferente. Um povo cuja cultura é tão antiga e cheia de sentidos.” (p. 27).
Mais do que a informação por trás do enredo está a riqueza poética das imagens que o ilustrador Maurício Negro cria para o livro, que já em sua capa apresenta um emaranhado de signos mesclados nos tons terrosos.
A viagem do menino não começa na palavra, o leitor sabe que há um deslocamento do personagem pelas marcas de pneus, atravessando as páginas e mapas. Negro constrói suas imagens com elementos naturais como: folhas, terra, palha, sementes que aliados à fotografia e ao grafismo, seja por tinta ou por desenho, juntam-se à técnica antiga do pirógrafo que, com sua ponta fina e incandescente, queima a madeira, tatuando-a definitivamente. Por que não dizer que as ilustrações da obra são uma salada de expressões plásticas que sintetizam a riqueza da cultura indígena brasileira?  Cada página do livro traz uma novidade em termos de cores, traços e técnica empregada, tal qual é a novidade encontrada por Carlos - a cada dia passado na aldeia guarani.  
A plasticidade das ilustrações para a obra é latente; é um convite a nos deleitarmos com os minuciosos detalhes, com as formas e cores da natureza que invadem as páginas do livro. Assim é Tekoa: um texto com vida que brinca e informa.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Tekoa conhecendo uma aldeia indígena
Autor: Olívio Jekupé
Ilustrador: Mauricio Negro
Editora: Global


             
Por Cleber Fabiano da Silva

O talentoso e premiado ilustrador da Literatura Infantojuvenil, Rui de Oliveira, brinda-nos com uma obra que mescla biografia e arte. Em Três Anjos Mulatos do Brasil, Editora FTD, são apresentadas através de palavras e imagens as trajetórias dos seguintes grandes artistas de nosso país: Aleijadinho, Mestre Valentim e padre José Maurício.
Sobre os artistas plásticos e o músico, o autor expõe a formação artística e os momentos mais marcantes de suas carreiras. Bem como, suas extraordinárias obras e as fases de maior produção. Também são reveladas críticas referentes aos seus trabalhos e, as discriminações e preconceitos que sofreram. “Em tempos de pontuais manifestações de racismo e de uma pretensa e suspeitosa eugenia, [...] o Brasil gradualmente vai tomando a sua cor e a sua posição – na verdade o encontro e a mescla de todas as cores e culturas” (p. 09).
As histórias desses gênios remetem a própria formação de nosso povo e cultura. Provém de um tempo no qual a busca pelo ouro em Minas Gerais era intensa e o Rio de Janeiro não passava de uma colônia portuguesa, “[...] representam com suas miseráveis existências, o início de uma unidade nacional. E [...] hoje em dia, para sermos dignos do significado maior da obra que esses três artistas nos legaram, temos que preservá-la e, acima de tudo, salvaguardar os princípios da diversidade e da tolerância cultural e racial” (p. 09).
O leitor certamente apreciará o exímio trabalho de pesquisa histórica e os traços marcantes das ilustrações que contam magistralmente a ascensão e decadência desses grandes artistas. Portanto, sobre a pena e pincel de Rui de Oliveira, outro artista de primeira grandeza, essa obra convida a efetivar o legado histórico e cultural desses fabulosos brasileiros.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Três Anjos Mulatos do Brasil
Autor: Rui de Oliveira
Editora: FTD
Ano: 2011


Por Georgia de Souza Cagneti e Sueli de Souza Cagneti

Existem livros capazes de gerar polêmicas, existem livros que contam histórias polêmicas, existem livros que tentam por fim a tais questões e outros que entendem reacendê-las. Mas quando um livro consegue continuar polêmico quase 100 anos após a sua publicação, esse livro merece ser lido.
O Presidente Negro, essa obra tornada à tona com a eleição de Barak Obama, levantou muitas dúvidas quanto ao posicionamento do seu escritor e gerou várias acusações infundadas.
Uma leitura, apesar do seu poder, leve e agradável, fantástica em alguns pontos, mas reveladora da realidade em que viveu o seu autor. Monteiro Lobato não deixa nenhum tema esquecido e com grande ironia nos conta, falando do futuro, como viviam seus contemporâneos, como andava o Brasil, a Europa e os Estados Unidos em 1926.
Conta um mundo ignorado pelos livros de história - quem sabia como se sentia alguém que possuía um carro, quando as ruas ainda eram projetadas para cavalos, carroças e pedestres. Será que no futuro algum livro de história vai contar como se sentiram os primeiros donos de computadores? E os primeiros internautas? Nossos filhos já nascem no Facebook, tem gravidez seguida no Twitter e parto em direta via Skype. Será que algum escritor terá a capacidade de descrever a delícia que era receber uma carta das mãos do carteiro?
Com "O Presidente Negro", Lobato nos dá a possibilidade de reler a sua época e tirar nossas próprias conclusões.

FICHA TÉCNICA:

Obra: O Presidente Negro
Autor: Monteiro Lobato
Editora: Globo
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