Isabela Giacomini
“Quanto mais palavras você conhece e usa, mais fácil fica a vida. / Por quê? / Vai saber conversar, explicar as coisas, orientar os outros, fazer melhor o trabalho, arranjar um aumento com o chefe, progredir na vida, entender as histórias que lê, convencer uma menina a te namorar”. Esse é o empoderamento que a linguagem traz, especialmente àqueles que leem e se debruçam sobre diferentes livros, assim como o pai do menino vendedor de palavras o fez e ensinou o filho a fazê-lo.

Muito esperto, e tendo um pai muito inteligente e leitor assíduo, aproveita-se do conhecimento dele para promover sua fama no grupo de amigos. A cada dia os garotos fazem perguntas sobre o significado das mais diversas palavras para que ele pergunte ao pai, que sempre tem as respostas na ponta da língua. Todos ficam boquiabertos e até passam a desconfiar de tanta sabedoria, mas o pai mostra que seu vocabulário é amplo por conta da leitura, que enriquece o indivíduo em vários aspectos. O menino passa então a negociar os significados que o pai conhece por recompensas que os amigos o trazem.

O pai, no entanto, quando descobre essa “venda de palavras”, ao invés de puni-lo, instiga no filho a vontade dele mesmo pesquisar os significados, e o apresenta às enciclopédias. O menino fica maravilhado a cada novo termo que descobre e ele mesmo passa a responder algumas curiosidades dos garotos. Até que um dia, um deles, com muita inveja, decide perguntar o significado de uma palavra inexistente, sem pé nem cabeça. O pai confessa que não sabe e o menino se frustra, pois pensa que pais têm de saber tudo!


A obra de Ignácio de Loyola Brandão além de mostrar toda a riqueza das palavras e da leitura e a importância de dominar a linguagem, traz a questão de que ninguém é obrigado a saber tudo sobre tudo, que nosso conhecimento é vinculado àquilo que vivemos, estudamos e experimentamos, que é possível à medida que está ao nosso alcance e que nem por isso somos menos inteligentes ou somos incapazes. Ao dizer “eu não sei” o pai mostra para o filho que este é o mundo concreto, onde aprendemos com as situações que nos são postas, e que muitas vezes são nelas que vemos quem está verdadeiramente ao nosso lado, aceitando quem somos e o que sabemos ou não.

O livro é ainda mais bonito e atrativo com as ilustrações de Newlands e com as cores utilizadas, sempre dando enfoque às palavras, protagonistas de toda a história. Mesmo com um número bastante grande de palavras, há uma harmonia no momento da leitura, com fontes usadas intencionalmente. E claro, assim como os meninos ficam curiosos com tantas palavras, nós leitores também ficamos e vamos logo tendo a mesma vontade do menino em pesquisa-las! Não só a personagem se envolve com a situação, como o leitor assume este papel de desbravador da linguagem!

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.


Isabela Giacomini
Há 137 anos nascia o escritor Monteiro Lobato, considerado o precursor da literatura infantil no Brasil, e merecidamente! Ele trouxe um novo olhar às crianças, falando sobre sua esperteza, curiosidade e imaginação, mesclando também elementos da cultura brasileira, possibilitando uma maior aproximação aos seus leitores. Ele não apenas criou histórias encantadoras que nos suspendem no mundo concreto e nos levam a diferentes aventuras, como buscou incentivar a leitura, a falar da importância de ser crítico, a valorizar as diversidades entre as pessoas, a respeitar a natureza, a resgatar histórias clássicas da literatura, a preservar a cultura nacional e local e a preconizar os momentos de contação de histórias através de suas personagens icônicas. E por falar nas personagens, como não lembrar do Sítio do Pica-Pau Amarelo, da boneca Emília com suas pílulas falantes, da Narizinho de nariz arrebitado, de Pedrinho com suas aventuras pelo sítio, da Tia Nastácia com suas receitas maravilhosas, de Dona Benta com suas histórias antes de dormir, da Cuca com seus planos mirabolantes de captura, do Tio Barnabé, do Rabicó, do Burro Falante, da Vaca Mocha e tantos outros, quase incontáveis?! Ainda que existam críticas a termos utilizados por ele, temos que lembrar que cada escritor vive em um tempo histórico, com pensamentos não necessariamente iguais aos contemporâneos, e que, mesmo assim, se pararmos para ler bem a fundo sua obra, observaremos que as próprias histórias desconstroem preconceitos e mexem com assuntos e temáticas muito pertinentes até hoje, mostrando que a literatura desestabiliza a noção de uma temporalidade bem definida e que atinge leitores sob diferentes perspectivas a cada vez que é lida, em cada novo momento.


Viva nosso pai da Literatura Infantil e pai de tantos outros autores que nele se inspiraram para escrever! Viva o Dia Nacional do Livro Infantil!

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.

Lara Cristina Victor
Isabela Giacomini
Para revisitar a infância e mergulhar na cultura brasileira, selecionamos alguns livros que mesclam cultura popular à imaginação e à diversão desmedida, confira abaixo as obras e sinta-se convidado(a) a lê-las e a descobrir a diversidade de gêneros e maravilhas que temos em nosso país:

Livro Armazém do Folclore, de Ricardo Azevedo:
Ricardo Azevedo cria um verdadeiro Armazém do Folclore ao trazer um compilado de gêneros que dizem muito sobre nossa cultura. Seu livro alterna quadras populares, com contos típicos e regionais, com frases feitas (que seriam expressões utilizadas em determinados contextos, como “dar uma colher de chá”), com lendas folclóricas, brincadeiras com palavras, receitas culinárias, adivinhas, trava-línguas, ditados, piadas e até mesmo histórias sobre personalidades icônicas como o Bicho-Papão. O livro propõe um jogo ao leitor, à medida que vai mudando a cada página suas possibilidades de leitura e de interação e permite uma visita encantadora pelas manifestações artístico-culturais do povo brasileiro. Por ora o leitor identifica-se com diversos ditos, cantigas, expressões e lendas e em outras ocasiões tem a oportunidade de conhecer traços da cultura nacional que não são necessariamente de sua região, ampliando a visão e o repertório da produção humana. Percebemos ainda que a obra é cheia de pesquisa, fruto dos estudos de Azevedo, que buscou unir a cultura popular, e por vezes apenas presente na oralidade, em um livro que permite que crianças, jovens, adultos- quem quiser- tenham acesso e conheçam um pouquinho mais da riqueza e da pluralidade cultural que possuímos e que precisamos preservar.


Livro Jogo da Parlenda, de Heloisa Prieto e ilustrações de Spacca:
“Escolha versos tradicionais, pequenas rimas fáceis e rápidas de dizer. Lembre-se de que cada verso precisa ter cinco ou seis sílabas. Acrescente aos versos o ritmo de uma cantiga e bata os pés ou as mãos para acentuá-lo”. Essa é o modo de preparo das parlendas proposto por Heloisa Prieto. Ela traz em seu livro diversas brincadeiras com os versinhos, alguns deles muito conhecidos, juntando as rimas a uma narrativa que cria para uni-los. Primeiramente o narrador sai para caminhar e encontra alguns amigos brincando com as palavras, logo as parlendas e novas personagens vão surgindo em meio a narrativa e ao texto prosaico. O que se sabe é que para divertir-se, jogar com as palavras pode ser uma boa saída. A criatividade da autora faz com que entremos no jogo da parlenda com a narradora e nos sintamos novamente como crianças. “Para ser saborosos, toda parlenda precisa de uma pitada de maluquice, um toque de humor e uma grande dose de imaginação”.


Livro Dezenove poemas desengonçados, de Ricardo Azevedo:
Esta é uma obra que nos remete ligeiramente a infância, sendo o autor, Ricardo Azevedo, que escreve e ilustra este livro repleto de poemas singelos e divertidos, mas que por trás da simplicidade dos versos, traz um trabalho cuidadoso com palavras e imagens que estimulam a reflexão sobre temas muito importante e atual para nossa vida.


Livro Trocadilho, de Jacqueline Salgado e ilustrações de Taline Schubach:
Uma junção de vários poemas muito divertidos, cheios de rimas, de sonoridade, de brincadeiras com as palavras, de recursos de linguagem e até de referências a textos clássicos. Os trocadilhos e versos construídos são muito poéticos, mexem com a imaginação do leitor e são intensificados pelas ilustrações de Schubach que tem a sensibilidade de trazer traços leves, que lembram os desenhos de criança, coloridos, alegres e abertos à invenção, efetivando o convite aos leitores de qualquer idade a se sentirem nesse universo da infância, com vistas à imaginação e à fantasia pelo jogo com as palavras: “troco uma folha em branco por folhas frescas de jasmim, também troco um pé de cabra por um pé de alecrim/ troco um canto qualquer da casa pelo canto da andorinha, troco um banco de dinheiro por um banco na pracinha”.


Livro Aula de carnaval e outros poemas, de Ricardo Azevedo:
Um livro que retrata a energia do carnaval, completo de poemas, ilustrações, quadrinhas, adivinhas e muitos versos para rimar. É assim que Ricardo Azevedo nos apresenta essa festa que é uma das mais antigas da humanidade, acreditando ser o Carnaval um rito que festeja a existência e a esperança. Pelas palavras do autor, durante essas festas e folias, acredita-se que costumava imperar um grande espírito de coletividade e igualdade entre as pessoas. Além de ser uma data que dá destaque a nossa extraordinária diversidade, que é o que caracteriza as manifestações da cultura popular.
Ricardo Azevedo, portanto, deposita toda sua paixão pelo carnaval nesta obra, buscando incentivar a arte popular, a nossa cultura e a esperança de construir um mundo melhor.


Lara Cristina Victor é aluna do curso de Psicologia na Univille. Atua como bolsista no Prolij e vê em cada criança um pouquinho de si mesma.

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.




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