Por Alcione Pauli

“Nosso corpo tem que estar bem tranquilo quando ouvimos uma história.” (p. 31)

         O livro Coisas de Onça, de Daniel Munduruku, apresenta quatro fábulas indígenas nas quais a onça é a principal protagonista, quem narra os acontecidos são os velhos pajés e a carinhosa e sábia Kaluhá.
         Na primeira narrativa a onça para não ser vencida pelo esperto e ágil coelho, pensa, pensa e permite que ele beba e banhe-se na fonte dos animais maiores.
         Mais adiante, a onça encontra um girino já saltitante e este desafia a onça com o grito de bravura, a onça respira e solta um miado assustador que faz tremer a terra. O sapo, timidamente, produz o seu coaxar e, imediatamente, outros sapos ecoam o seu coaxar num coro longo, que provoca a fuga rápida e desesperada da temida onça.
         Na terceira fábula, a onça e o veado, num encontro inusitado, convivem juntos na mesma casa contrariando a natureza de cada um, até que numa noite os dois animais abandonam a casa construída em parceria para nunca mais compartilharem o mesmo espaço.
         Na última história a onça protege um poço de água e a raposa deseja o precioso líquido. E raposa para poder saciar sua sede precisa inventar artimanhas para poder lograr a feroz felina.
         No entrelaçar das fábulas há falas, memórias e ensinamentos nos quais são oferecidos como um gotejar da cultura ancestral. Um registro e um pedido do próprio autor “aos leitores que, ao tomar contado com este texto, elevem seu pensamento ao Criador, agradecendo pela sabedoria que estes antepassados deixaram escrita na memória da gente brasileira” (p. 05).
         As imagens preparadas por Ciça Fittipaldi são leves e coloridas, dando a impressão de um passeio pela floresta. Os movimentos das formas remontam aos momentos de convívio em torno da aldeia e das fogueiras. Uma obra agradável aos ouvidos e olhos.

FICHA TÉCNICA:

Coisas de Onça
Autor: Daniel Munduruku
Ilustrações: Ciça Fittipaldi
Editora: Mercuryo Jovem
Ano: 2011
Reunião semanal dos prolijianos!

 Por Cleber Fabiano da Silva

          “Na minha aldeia, que fica lá dentro da Floresta Amazônica, numa região muito distante, a que se chega depois de viajar luas e luas, as crianças gostam muito de se divertir, especialmente de brincar de pular na água e ouvir histórias” (p. 8). Eis uma interessante representação do tempo-espaço de infância narrado por Yaguarê Yamã no livro: Puratiĝ – o remo sagrado, editora Peirópolis.
         Na obra, o leitor tem contato com as vivências do narrador e de um grupo de amigos ao correr, brincar e explorar as proximidades da aldeia durante o dia. Após o banho e o pôr do sol, todas as crianças esperam ansiosas as histórias antigas contadas pelo pajé e pelos mais velhos.  Dentre as narrativas ouvidas, estão lendas e mitos de origem: o surgimento do mundo, do povo Mawé, dos clãs, da tradição do remo sagrado e, naturalmente, a lenda do guaraná – importante fruto da região – já que os indígenas Saterê Mawê habitam áreas entre o Amazonas e o Pará e são chamados de “povo do guaraná”.
         Um momento marcante das lembranças de Yaguarê encontra-se na passagem em que os curumins, sem perceber, chegam à casa do pajé Karumbé. “De ar e sorriso amistoso, sempre disposto a ajudar aqueles que precisavam de remédios e cura para as enfermidades. Alguém em que podíamos confiar e cujas palavras nos indicavam o caminho certo a seguir nesse mundo” (p. 24). Ficam evidentes durante toda a escrita da obra, as marcas e o respeito à oralidade e à ancestralidade.
         Outro ponto a destacar diz respeito às crenças sobre o remo sagrado: puratiĝ. “Conta-se que ele já foi uma arma muito poderosa e que nele estava escrito o caminho do bem e do mal” (p. 37). Foi levado para as cidades encantadas do fundo das águas pelo primeiro boto, mas matava tanto que resolveram devolver. Nos dias atuais, o remo é símbolo da luta e defesa da causa indígena. Suas histórias preservam a riqueza desses povos e valorizam a sua tradição.
         Para além das narrativas, vale conferir ainda nessa edição, as ilustrações realizadas pela artista Queila da Glória, pelo próprio autor – especialista em pintura corporal – e pelas crianças da comunidade.
        
FICHA TÉCNICA:

Obra: Puratiĝ: o remo sagrado
Autor: Yaguarê Yamã
Ilustradores: Queila da Glória, Yaguarê Yamã e as crianças Saterê Mawé
Editora: Peirópolis
Ano: 2001
        No dia 12 de dezembro de 2012 (12.12.12), o Prolij comungou com a simbologia do número e promoveu uma confraternização do fim das atividades, repleto de desejos para o ano que chega. Como já é de praxe, os prolijianos se reuniram num agradável local para conversar, lembrar, trocar presentes e também comer. 
        Entre deliciosas massas, pizzas e risotos, fizemos uma dinâmica de interação, que revelou muita sintonia e alegria neste grupo que mais é uma família. Depois partimos para o Amigo Secreto Literário!
        A poética Luciane quis começar, presenteou a delicada prolijiana Áurea com o novo livro do André Neves, Tom.


         Áurea, num cargo quase vitalício, presenteou novamente nossa coordenadora cheia de brilho e sucesso, Sueli. Desta vez, com um lindo buquê de flores e os dois volumes do livro As confissões, de Rousseau.


        Sueli, por sua vez, pode presentear aquela que tem como uma filha, Alcione, com dois livros de temática indígena, As fabulosas fábulas de Iauaretê, de Kaka Werá Jecupé, e Kurumi Guaré, de Yaguaré Yama, além de uma bela camisola. (A pequena Luísa também foi envolvida na brincadeira, ganhando da "vovó" Sueli o livro A pequena sereia). 

 
        A cheia de garra Alcione (e rainha na doce visão de sua filha Luísa) presenteou Maria Lúcia com A Arte da África, da Editora Scala. 

         
        Maria Lúcia presenteou o sempre amigo Leandro com A poesia completa de Manoel de Barros. 


         Leandro presenteou seu irmão, o prolijiano divertido e estudioso Cleber, com Imagens da África, de Alberto da Costa e Silva.

 

       Cleber que passara a noite brincando que tinha pego a Viviane, realmente presenteou-a com O coelho que fugiu da história, de Rogério Manjate.


        A alegre e familiar Viviane presenteou a prolijiana ponto de equílibrio Sonia, com o livro Kafka e a boneca viajante, de Jordi Sierra i Fabra. 


        Por sua vez, Sonia presenteou aquela que foi considerada polivalente, Ana, com Tempo de Voo, de Bartolomeu Campos de Queirós. 

  
        Num círculo perfeito de presentes, Ana presenteou Luciane com o livro de Mário Quintana, que agrega três obras do poeta, Canções, Sapato Florido e a Rua dos Cataventos.


        Esta noite ainda teve a despedida da Ana como extensionista-bolsista, mas sua aprovação para uma nova modalidade de prolijiano: colaborador. Para marcar esse momento a coordenadora a presenteou com o clássico da Literatura Infantil Juvenil italiana Coração, de Edmondo de Amicis.
        E a prolijiana Alcione compartilhou a alegria de ter seu primeiro livro publicado, A sabedoria das florestas e o poder das águas, pela Editora Mercuryo Novo Tempo, presenteando nossa coordenadora (além de orientadora e autora do prefácio do livro) com o primeiro exemplar .

        O Prolij encerra assim suas atividades de 2012, e deseja a todos um Natal cheio de alegria e que 2013 chegue com ainda mais literariedade e realizações. Retornaremos nossas atividades em fevereiro. Boas festas!


Por Dhuan Luiz[1]

Tomar fôlego.
Para tudo na vida necessitamos tomar fôlego.
Não menos seria nessa reta final de mais um ano letivo.
Não menos seria para escrever sobre um grande escritor que trabalhava a palavra em toda sua essência poética.
Bartolomeu Campos de Queirós, escritor brasileiro, nascido em 1944 em Belo Horizonte. Sinto-me mal em descrevê-lo assim: escritor brasileiro, nascido em... Meu íntimo induz-me a descrevê-lo alquimista das palavras, no qual a magia transita entre a prosa e a poesia, rompendo qualquer conceito acabado que as distinguisse, o mundo das palavras é grande, e se permitirmos, residem ambas em uma mesma dimensão.
Brasileiro? Sim, orgulho pra nós. Porém é bem verdade que sua prosa poética cabe em qualquer canto do mundo onde houver imaginação e sensibilidade para absorver sinestesicamente a palavra.
Bartolomeu, ou Bartô para os íntimos, e sinto-me assim, íntimo, desde que a lâmina afiada de sua prosa cantou sob minha paixão pela leitura. Sua escrita é destinada a jovens e crianças, e não há nada como preservar esse brilho dentro de nós. Ele mesmo, velho jovem homem, preservava esse brilho, não somente dentro de si como também exteriorizava através de sua escrita autobiográfica, e nela sentimos a nostalgia das coisas que nunca vivemos, mas que semelhanças existem de nossas saudades.
Bartô compreendia a palavra como ácida, bomba ocidental sobre o firmamento do oriente, tal como a compreendia como o afago de uma mãe, e os olhos de uma criança.
Tomar fôlego.
Para tudo na vida necessitamos tomar fôlego, ele dizia.
Injusto da sua parte dizê-lo, quando textos como o que segue insiste em tirar-nos, com excelência, todo o fôlego que nos resta.
“Sem o colo da mãe eu me fartava em falta de amor. O medo de permanecer desamado fazia de mim o mais inquieto dos enredos. Para abrandar minha impaciência, sujeitava-me aos caprichos de muitos. Exercia a arte de me supor capaz de adivinhar os desejos de todos que me cercavam” (Vermelho Amargo, 2011).

PS: Uma frase define um pouco dos sentimentos que transitaram sobre mim ao decorrer de nossas aulas de LIJ esse ano:
“Quantos anos você teria se não soubesse sua idade?” Confúcio.


[1] Acadêmico do 2º ano de Letras na Universidade da Região de Joinville. Texto produzido para a disciplina de Literatura Infantil Juvenil (LIJ), ministrada pela Profª Dra Sueli de Souza Cagneti, neste ano com contribuições do estagiário Silvio Leandro da Silva do Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade, prolijiano e pesquisador de Bartolomeu Campos de Queirós.


Por Áurea Cármen Rocha Lira e Sueli de Souza Cagneti

            Em um urutau, diferente ave noturna de boa parte da América do Sul e proximidades, é no que se vê transformada uma índia orgulhosa e gananciosa que despreza o grande Jaxy, o Lua. Essa índia sonhava acordada com ele, nutrindo-lhe forte amor, mas a distância os separava. Para testar a intensidade de tal sentimento, ele vem à Terra, mas caberá à irmã da índia olhos que veem além da aparência, pois Jaxy se transforma em um velho, sendo a distância, em princípio física, substituída por outra intransponível: a do preconceito. Como castigo, ela vira um urutau e sua irmã, agora Jaxy Tatá, estrela que brilha no céu ao lado de seu amor verdadeiro.
Olívio Jekupe e Maria Kerexu revivem as tradições guaranis ao presentearem-nos com A mulher que virou urutau, edição bilíngue (além do português, a versão em guarani é de Jera Giselda), 2011.
Às ilustrações das mãos de Taísa Borges somam-se as palavras de forma a redimensioná-las. E, na linha dos novos tempos, cabe à parte informativa do final do livro o complemento desse achado. 

FICHA TÉCNICA:

A mulher que virou urutau
Autores: Olívio Jekupe e Maria Kerexu
Ilustrações: Taísa Borges
Editora:
Ano: 2011
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