Por Lutrícia Monti e Sianny Ferraz

INFANTIL
O menino ia no mato
E a onça comeu ele.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do menino
E ele foi contar para a mãe.
A mãe disse: Mas se a onça comeu você, como é que
o caminhão passou por dentro do seu corpo?
É que o caminhão só passou renteando meu corpo
E eu desviei depressa.
Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
Eu não preciso de fazer razão.






         O poema de Manuel de Barros, “Infantil”, nos leva para um universo de imaginação e a tentativa de um menino criando uma poesia. O poema é uma narrativa simples carregada de imaginação e é também extremamente visual, pois em cada verso percebe-se a sensibilidade do eu lírico.
          O poema é iniciado com uma narrativa em forma de história, sendo que essa história é bem típica do imaginário infantil, “o menino ia no mato/ e a onça comeu ele/ depois o caminhão passou por dentro do corpo do menino”.  Logo entra o papel da mãe “mas se a onça comeu você, como é que o caminhão passou por dentro do seu corpo?”, a resposta do menino é simples “olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia/ e não preciso fazer razão”, nesse último verso podemos ver a transformação da história que o menino narra, para emoção que ele quer transmitir. E nisso consiste a poesia e o idioleto manoelês, imaginar e não fazer razão, e, dessa maneira, percebe-se com clareza o porquê do título “infantil”, ser criança também é não fazer razão. 
        A delicadeza e sutileza das palavras que seu Manoel de Barros escolhia para seus poemas, refletiam a forma como ele levava a vida, um poeta que escolheu a infância como meio de expressão, que apreciava coisas simples, cotidianas e pouco valorizadas pelos adultos. Para nosso poeta passarinho, a poesia estava na invenção das coisas, a beleza das palavras libertadoras de Manoel de Barros, não podem ser vistas por pessoas razoáveis. Partiu jovem, aos 84 anos, nunca deixou a infância, sempre foi um vagabundo profissional, que nunca precisou de razão para fazer poesia.


Relação dos participantes do Programa Institucional de Literatura Infantil Juvenil da Univille.
Tecnologia do Blogger.