Por Sueli de Souza Cagneti

Cadê?, de Graça Lima, é dessas brochurinhas próprias para os bem pequenos, que brinca seriamente com o faz de conta.
Escondendo-se da mãe e jogando com ela e com o cenário no qual está inserido, o garotinho joga para ganhar a parte que realmente lhe interessa: ser encontrado. É, claro, pela mãe.
Além da qualidade do texto e das imagens, a obra apresenta - sem alarde - uma das questões fundamentais do momento: o protagonismo do negro na literatura.
E a importância aqui está em dar à mãe e ao filho negros o espaço principal na narrativa, sem que o texto aponte para isso. Eles são. E basta! É de livros assim que as crianças precisam: de inserções multiculturais sem que seja necessário apelar para a inclusão.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Cadê?
Autora e ilustradora: Graça Lima
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2009

No hotel, prolijianos se preparam para a apresentação "The journey of the ugly ducking in Brazil"* na Annual Humanities Summer Conference
Cidade do México - 2009


*Tradução: A jornada do patinho feio no Brasil; trabalho dos pesquisadores Alcione Pauli, Sueli de Souza Cagneti, Alencar Schueroff e Cleber Fabiano da Silva.

Por Cleber Fabiano da Silva e Sueli de Souza Cagneti

As armadilhas do destino (ou seriam frutos das nossas escolhas?) tecem o enredo central da narrativa Órfãos de Haximu, das irmãs Inês e Maria Lúcia Daflon, editora FTD. Filhos da paixão entre a nativa Yarima e o médico inglês Philip Spenser, os irmãos Daniel e Nape foram separados por nascer gêmeos: fatalidade que na cultura indígena yanomami permite a morte de uma das crianças. Como a menina já havia sido prometida a um primo da mãe e a saúde do menino revelava mostras de fragilidade, portanto, pouca chance de sobrevivência na floresta, adivinhava-se sua sina naquela comunidade. Criado em Londres pelo pai, percorreria caminhos muito distintos da irmã que foi parar numa instituição destinada a abrigar crianças em situação de risco.
Após sua festa de 21 anos, o pai de Daniel resolve contar-lhe a principal parte de sua história segredada durante muitos anos. Em uma de suas viagens ao Brasil, nos idos dos anos 80, enquanto atuava como médico infectologista junto às missões religiosas na aldeia Yanomami, envolveu-se com Yarima. Surpreso, o jovem descobre que desse romance nasceu também sua irmã gêmea que fora criada na tribo até os 10 anos de idade quando ocorre um fato lastimável: em 1993, durante o genocídio causado por garimpeiros interessados nas riquezas daquelas terras – denominado Massacre de Haximu – perde sua mãe.
Agora, aos 24 anos e com mestrado concluído, Daniel parte em busca de seu grande sonho: direcionar os estudos para a cultura ameríndia e trabalhar com os índios de Roraima. É chegada a hora de voltar ao shabono (espécie de habitação circular coletiva) onde nasceu e de retornar os laços com sua irmã, cuja vida, apesar do tempo e da distância em muito está ligada a sua. Vem dela o conselho: “Você escolhe o caminho, Daniel. O caminho daqui não é igual ao caminho de Londres. Aqui não tem universidade, não tem doutorado. Tem vida comunitária, tem povo da floresta enfrentando fazendeiro e garimpeiro. Se quer mesmo ajudar, vem educar criança na escola Yanomami” (p. 54).
Magistralmente escrito por quatro mãos e ilustrado por mais duas habilidosas. Um misto imperceptível entre ficção e realidade. O livro emociona e instiga-nos para a vigilante defesa de uma causa que ainda precisa ser resolvida em nosso país. Por mais quanto tempo seremos órfãos de nós mesmos?

FICHA TÉCNICA:

Obra: Órfãos de Haximu
Autoras: Inês Daflon e Maria Lúcia Daflon
Ilustrador: Joãocaré
Editora: FTD
Ano: 2010

2010: Visita do Centro de Educação Infantil Artes e Manhas
Por Raquel Selner

         Foi-me permitido redigir meu texto a lápis. Melhor assim. Gosto de ter o direito de chamar meu rascunho de arte final, de voltar atrás quando acho que devo, de entregar a versão definitiva do que nunca foi ensaiado.
         Emília é esse rascunho bem feito, é esse ensaio com plateia. Tia Nastácia remendou o mundo todo na indomável boneca que aprendeu a ser gente. Lobato envolveu todos os seus leitores nessa realidade que desconhece o impossível. Enquanto há pessoas que ainda estão ensaiando sua vida, Lobato criou o roteiro de várias outras. Emília teve uma atuação digna de aplausos.
         Mas não quero ser hipócrita: Emília me incomoda. Afinal, para que serve a Literatura Infantil se não for para incomodar aqueles que se bastam? Pois é, Emília me incomoda - me irrita, até. Boneca metida a sabida. Pois é muito bem feito que leve lambada e seja forçada a voltar atrás.
         Sorte que meu texto está a lápis. Ainda dá tempo de eu voltar atrás no que escrevi no parágrafo anterior. Passar a borracha. Ela está a poucos centímetros de minha mão. Mas não quero, não vou apagar o que está feito. Não quero me dar ao luxo do arrependimento.
         Talvez seja por isso mesmo que Emília me incomoda. Porque ela é feito eu: não se arrepende, só se redime. Quando li a Emília, tive raiva porque soube que aquela era eu em muitas situações. No livro que li, “A Reforma da Natureza”, a boneca fez uma porção de mudanças naquilo que ela achava besta na natureza. Pois é, eu também já tive vontade de mudar muitas coisas no mundo tendo como parâmetro único o meu referencial. Dancei.
         E a raiva vem daonde? Do meu reflexo. A Literatura é um espelho que exalta nossas maiores qualidades, mas também evidencia os defeitos. E essa coisa da Emília ser revoltada e metida a sabe-tudo é defeito? Depende da leitura - ou melhor, do leitor. Sempre considerei como defeitos, MEUS defeitos.
         Que bom que na vida temos Donas Bentas para nos guiar e nos exortar quanto àquilo que ainda não aprendemos a enxergar!

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Texto produzido para a disciplina Literatura Infantil e Juvenil, do 2º ano de Letras, da profª Dra Sueli de Souza Cagneti.
  
      Nesta quarta-feira (dia 15 de agosto), às 16h, acontecerá a inauguração da nova loja da Livraria Paulinas, em Joinville. O Prolij se alegra com essa chegada, acreditando ser mais um local para a fomentação da leitura em nossa cidade.



Livraria Paulinas
Rua João Colin, 119 - Centro - Joinville - SC
(esquina com a rua XV de novembro)
Telefones: 3027-2509 / 3062-5376
livjoinville@paulinas.com.br - www.paulinas.org.br

Em Portugual para o III Congresso Internacional de Literatura Infantil - 2010

Por Georgia de Souza Cagneti[1]

É tempo de lagartear no Sítio do Picapau Amarelo. Mês de abril é o mês de Lagarto, quando todos descansam e não se faz nada. Como para as crianças descansar é quase um castigo, decidem ir conhecer os mistérios do céu. Com eles segue Tia Nastácia, não de escolha própria, mas acaba por decidir a primeira parada: a Lua! Lá encontram São Jorge e um dragão domesticado e comportado. Enquanto Emília, Narizinho e Pedrinho seguem viagem, a quituteira fica para cozinhar para São Jorge, apesar do medo que tem do dragão. As crianças passeiam pela via Láctea, visitam os anéis de Saturno, viajam montados em um cometa e nos fazem sonhar um céu sem fronteiras.
Lendo Viagem ao Céu de Monteiro Lobato, uma maravilhosa aula de astronomia, permeada de fantasia, perfeita para despertar interesse pelo cosmos nas crianças, fiquei procurando exemplos do racismo lobateano, tão criticado, atualmente, por alguns.
Será isso racismo, dizer que para uma cozinheira católica é a maior honra preparar seus quitutes para um Santo?
Tia Nastácia participa ativamente da aventura desde o princípio. E não da maneira que se esperaria de uma doméstica. Antes de mais nada é preciso contextualizar a história! No Brasil do início do século passado qual era a posição ocupada pelo negro na sociedade e qual o tratamento que este recebia. Uma sociedade em formação, onde persistiam os ideais escravagistas, apesar da abolição. Onde os princípios católicos afirmavam a ausência da alma nos índios, assim como nos animais. Onde o trabalho do homem livre negro valia muito menos, tanto que para alguns valia mais trabalhar em troca de comida e abrigo, sem dia de descanso, nem horário.
Tia Nastácia tem direito ao mês de Lagarto, exatamente como D. Benta, sua patroa, e não graças ao sindicato ou aos seus direitos trabalhistas, mas porque é vista como igual. As crianças conversam sobre incomodá-la ou não para fazer um novo Visconde. A opinião mais festejada é a sua, os moradores do Sítio consultam-na antes de tomar uma decisão e o seu parecer conta. E quando um anjinho de asa quebrada precisa de ajuda, é nas curas da boa Nastácia que os meninos pensam.
Ela, devota de São Jorge, (vale lembrar que é Ogum, transposto das crenças afro para as cristãs) tem seu desejo/sonho realizado, podendo conhecê-lo pessoalmente. Tem seu lugar no mundo respeitado. Isso é igualdade, ou seja, o contrário do racismo.
Além de desmentir acusações, este livro é uma viagem deliciosa, que nos ensina sobre o céu e a terra: uma leitura perfeita para todas as idades.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Viagem ao Céu
Autor: Monteiro Lobato
Editora: Brasiliense
Ano: 1932


[1] Mestranda em Línguas Estrangeiras para a Comunicação Interncaional, na Università degli Studi di Perugia, It.
        A coordenadora do Prolij e votante da FNLIJ, Profa Dra Sueli de Souza Cagneti, participou, no fim de maio, da Festa dos 44 anos da FNLIJ, realizada no Salão Portinari, Rio de Janeiro. Evento no qual os certificados foram entregues aos vencedores do Prêmio FNLIJ 2012.


        Nossa coordenadora entregou à Cosac Naify o certificado do Prêmio na categoria Tradução pelo livro "O menino que mordeu Picasso", de Antony Penrose, tradução de José Rubens Siqueira.


Prolijianos visitam o Sítio do Picapau Amarelo em Taubaté - 1999

        Agosto já chegou, mas o VII Abril Mundo ainda repercute. Para que o tempo não apague as importantes discussões levantadas na tarde de comunicações de nosso congresso foram lançados os Anais do VII Abril Mundo 2012: A Literatura Africana e Afro-Brasileira. Os participantes que tiveram 75% de presença ou mais têm direito a um exemplar dos Anais, que podem ser retirados na sala do Prolij (Piso térreo da Biblioteca Universitária - Univille Campus), de segunda à sexta-feira das 8h às 12h e das 14h30 às 18h30. Informamos que os professores das Escolas Municipais terão seu exemplar através da Secretaria de Educação (no mesmo procedimento dos certificados).  Mais informações: (47) 3461-9059.

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