No dia 1º de dezembro, primeiro domingo do advento, o novo lar de nossa querida Sueli Cagneti, na Praia Brava, recebeu os prolijianos para nosso tradicional amigo secreto, com direito a muita conversa, indicações de livros, carinho e sabores deliciosos de despedida e recomeço. 


        Após o delicioso almoço proporcionado pela coordenadora pelo seu aniversário e produzido pelo amigo Marcos, a prolijiana Áurea começou as festividades poéticas com a leitura de um texto próprio sobre o PROLIJ e seus membros.      


        Em seguida, a prolijiana e mestranda Luciane - que não participou do amigo secreto este ano - agradeceu toda dedicação de sua orientadora, presenteando nossa coordenadora. E também não ficou sem receber, Áurea com seu grande coração lhe trouxe um chocolatinho.


        O amigo secreto foi iniciado pela "dona do Prolij" que pegou nossa artista. Maria Lúcia ganhou os livros "Guaynê derrota a cobra grande", de Tiago Hakiy e "Os homens tristes", de Gustavo L. Ferreira e Paulo Vieira. 


        Maria Lúcia pegou a prolijiana colaboradora Ana e a presenteou com seu livro "A Narrativa Visual na Literatura Infantil Brasileira: Histórico e Leituras Analíticas" - que Ana ajudou a revisar - e o livro de contos "O casamento da Lua", da Ed. Boa Companhia.


       Ana, com um poema autoral, revelou que sua amiga secreta era a Rafaela e a presenteou com o livro "Canções", de Mario Quintana. 


        Rafaela pegou Sonia e lhe deu o elogiadíssimo livro do angolano Ondjaki "A Bicicleta que tinha Bigodes". 


     Sonia presenteou a Viviane com "A invenção de Hugo Cabret".

        
        Viviane presenteou Leandro com "Por que ler os clássicos", de Italo Calvino.


     Como não podia faltar, um amigo secreto repetido ocorreu. Leandro presenteou seu irmão Cleber com "Fábulas Selecionadas", de La Fontaine, com ilustrações de Calder. 


        Cleber, por sua vez, presenteou Áurea com "A mocinha do Mercado Central", de Stella Maris Resende e "Em busca do leitor literário", de sua autoria.

       Áurea, apesar de todos os desafios em seu caminho, conseguiu presentear Alcione com um lindo castiçal de advento.

        Para fechar o ciclo, desta vez sem trocas diretas, Alcione presenteou Sueli com um enfeite natalino para sua nova casa. 


        Como todo evento do Prolij, uma criança esteve entre nós, Gabriel, filho de Marcos, e não ficou sem receber um mimo. Também Marcos foi presenteado com "Pedro Pedreiro", de Fernando Vilela e Chico Buarque. Além de Sueli ganhar uma máscara da última viagem do Cleber e seu presente de aniversário dos prolijianos: dois jogos de copos e taças; afinal desejamos muitas realizações e brindes nesta nova fase. 




        O Prolij encerrou assim suas atividades de 2013 e deseja a todos boas festas!

Por Luciane Piai

 O livro Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo apresenta lendas e mitos africanos por meio de doze contos que abordam a criação do mundo.  A personagem principal desse enredo é uma fictícia jovem mãe africana, chamada Adetutu, do povo iorubás. Ela foi capturada, acorrentada e lançada num porão de navio negreiro para ser trazida ao Brasil, juntamente com outros como escravos.
Foram muitas as suas perdas, grande o sofrimento, para esquecer a dor do distanciamento dos seus dois filhos, Taió e Caiandê. Da sua família e da sua aldeia, ela se transporta, através do sonho, para o mundo espiritual de seu deus Xangô, de quem era filha e sacerdotisa devota. Uma única era a certeza: não tinham lhe tirado as suas memórias; havia também orgulho de sua origem nobre, de seus deuses e de seus ancestrais.
Adetutu sonhou com a criação do mundo e dele participou: Olorum, o Ser Supremo, encarrega o filho mais velho, Oxalá, na missão da criação, porém, devido a sua prepotência, Exu, seu irmão mais novo, apronta as suas façanhas e Odudua, outro irmão, é quem cria todos os elementos do mundo. Todavia, faltava criar o ser humano e esse poder estava na cabeça de Oxalá. Após várias tentativas, ele consegue transformar em humanos. A Iemanjá, chamada de Odóia, de Iá Mi, Rainha do Mar e Senhora do Oceano, coube cuidar das cabeças de todos os homens e mulheres.
Prandi, no epílogo, continua a narrativa da chegada de Adetutu em Salvador, Bahia, onde foi vendida como escrava urbana e após trinta anos compra a alforria e constrói um templo para Xangô; estava assim criado o candomblé, a religião dos orixás em terras brasileiras.
O autor, no apêndice, apresenta através de documentos iconográficos o ritual da religião afro. Que tal, você também participar  da criação do mundo?
                                                                     
FICHA TÉCNICA:

Obra: Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo
Autor: Reginaldo Prandi
Ilustradora: Joana Lira
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2007


Por Luciane Piai

            Os griôs são contadores de histórias da tradição oral africana; dominam e guardam a palavra para o registro de suas memórias. O nome griô é específico da antiga região do Mali e começou a ser utilizado no século XVII, pois antes disso era conhecido por diéli. Em outras línguas, ou seja, em outros países, eles recebem nomes diferentes como: jaaro, bambaado, wambaabe, guewel e marok’i.
            Para se tornar um deles era necessário ser filho de pai e mãe griôs e, por tradição, receber uma educação especial para se tornar autêntico. É interessante saber que cada grande vila tinha sua aldeia desses contadores de histórias. Eles tinham as escolas específicas, nas quais aprendiam as técnicas de memorização, a confecção dos instrumentos musicais e como tocá-los, além do uso das vestimentas adequadas para cada ocasião. Quanto às mulheres, elas recebem o nome de griotes. A sua formação é distinta da dos homens, sendo transmitida de mãe à filha. Elas dominam o canto, a dança e tocam os instrumentos. “Os griôs podem ter o conhecimento de mais de mil contos ou ser peritos na arte dos provérbios.” (LIMA & HERNANDEZ, 2010, p. 26)
            Eles conhecem as suas histórias e as repassam – palavra a palavra. E entoam canções na hora da colheita, ao som de seus tambores, de seu balafom e da sua kora, recordando, assim, o tempo da fartura.
Cada um tinha a sua faceta: os instrumentistas, os poetas, os cantores, os dançarinos, os sábios dos provérbios, o distribuidor de contos e lendas, os guerreiros, os sacerdotes, os genealogistas, os conselheiros, os representantes do governo e os diplomatas.
 Que tal conhecer a história de Sundiata Keita e do seu griô, Bala Fasekê Kouyaté? Venha ouvir a kora de vinte e uma cordas.
                                                     
FICHA TÉCNICA:

Obra: Toques do griô - Memórias sobre contadores de histórias africanos
Autoras: Heloisa Pires Lima & Leila Leite Hernandez
Ilustrador: Kaneaki Tada
Editora: Melhoramentos
Ano: 2010

A capoeira é amorosa, não é perversa.
É um hábito cortês que criamos dentro de nós,
uma coisa vagabunda. (Mestre Pastinha) [1]

Por Luciane Piai

         O livro Mestre gato e comadre onça / uma história de capoeira - recontado e ilustrado por Carolina Cunha - é um valoroso material para se conhecer as manifestações culturais, dentre as quais a capoeira é um legítimo legado da tradição africana.  Na obra, a autora com dinamismo, através de personagens animais, ensina a ginga da capoeira de uma forma leve e divertida. Leitor/leitora, você não pode perder as façanhas do gato capoeirista. E ainda: para apreciar a leitura com um gingado próprio, acompanha um CD com cantigas da capoeira, gravadas por crianças e mestres do Grupo Nzinga, Espaço Cultural Pierre Verger e Projeto Pequenos do João. Tenho certeza que a criançada vai adorar como eu também gostei.
        A autora conheceu essa história da Iaiá Cici, uma contadora de histórias, por isso ela a reconta. Mestre gato e comadre onça é uma fábula afro-brasileira, muito conhecida e cantada pelos capoeiristas. Ah, se você desconhece o vocabulário próprio desse jogo, não se preocupe, ele está no final da história. E os golpes e os movimentos? Também está lá tudo explicado. E quer saber mais, como por exemplo de qual país e povos ela é originária, quais os mestres capoeiristas mais conceituados? Basta abrir as páginas e você encontra as respostas no final do livro. Chega de delongas e vamos à leitura!
                                                                    
FICHA TÉCNICA:

Obra: Mestre gato e comadre onça / uma história de capoeira
Autor: Carolina Cunha
Ilustradora: Carolina Cunha
Editora: Edições SM
Ano: 2011




[1] http://nzinga.org.br/pt-br/mestre-gato-e-comadre-on%C3%A7a

Por Luciane Piai

O lirismo poético na obra A dolorosa raiz do Micondó, da poetisa e jornalista de São Tomé e Príncipe, Conceição Lima, perpassa os versos, transmitindo muita dor como foi identificado no próprio título da obra. A poetisa ganhou destaque pelos seus poemas em 1975,  no período pós-independência de São Tomé e Príncipe; ela tem publicado em antologias, em jornais e em revistas de diversos países. A obra, uma coletânea composta por vinte e sete poemas, sugere um olhar para os acontecimentos históricos ocorridos com a colonização. Na época do povoamento, o arquipélago recebeu escravos, trazidos pelos portugueses, de vários países do continente africano para trabalharem nas lavouras de cana-de-açúcar. Eram grupos de diferentes origens e línguas. A autora reflete, em sua obra, essa diversidade linguística e no final da coletânea apresenta um glossário com termos em crioulo.
 Presente no título da obra, o termo Micondó, ou imbondeiro designa uma árvore sagrada, com uma simbologia de retomada às origens, uma busca nos antepassados. Essa árvore está presente em algumas regiões do continente africano.   
Conceição Lima, autor do citado livro, em seus versos faz uma crítica à política local e também um grito pessoal e coletivo pela identidade, pois seu povo foi separado neste processo de colonização. Além de transmitir poeticamente todas as atrocidades ocorridas, a autora tem esperança e o desejo de mudanças em seu país.

FICHA TÉCNICA:

Obra: A dolorosa raiz de Micondó: poesia
Autor: Conceição Lima
Editora: Geração Editorial
Ano: 2012

Por Luciane Piai

O SOPRO DOS ANCESTRAIS
Ouça mais as coisas
que os seres.
A voz do fogo se ouve,
ouça a voz da água,
escute no vento
o arbusto soluçar.
É o sopro dos ancestrais...
(Birago Diop, p.249)

 A África vem até nós pelas sociedades orais que, tradicionalmente, transmitiram de geração a geração as histórias e, atualmente, chegam através da escrita. A obra é uma coletânea de Contos e lendas da África, composto por dezessete contos e lendas africanas, assemelhando-se a outros contos populares de outros continentes, escritos por Perrault, Irmãos Grimm e Andersen, por também apresentarem homens ou animais que disputam quem é o mais esperto ou o mais veloz. A vingança está presente na narrativa através do castigo trágica da própria morte, para quem trai ou mente, assim como a maldade para com o outro, a fim de ganhar alguma vantagem. No conto com o título O caçador mais forte que o leão que engole a tempestade observa-se que há uma moral no final da história: respeitar sempre o cachorro mais velho que está com idade avançada.
Yves Pinguilly é um escritor francês que escreveu cerca de quarenta livros para jovens, muitos tendo como cenário os países da África. É um conhecedor apaixonado por esse continente há mais de vinte e cinco anos. O autor escolheu histórias de alguns países para essa narrativa, e logo no início da obra ele situa o leitor com um mapa e assinala o país e o respectivo povo do qual o conto e a lenda foram resgatados. Outro aspecto relevante e essencial para a leitura é a existência de um pequeno abecedário africano que se encontra no início das narrativas; apresenta vocábulos específicos desse continente.
A ilustração de Cathy Millet é do tipo que nos surpreende a cada novo conto, como uma nova ilustração que se lê com a pretensão de descobrir a história, porém ela é sutil, apenas nos incentiva imediatamente à narrativa.  Seus traços são simples, lembram traços infantis. Neles, a forma geométrica predomina, sendo de cor preta e branca, com sombreamento. Ficou curioso/curiosa? Então venha logo, antes que o sol se ponha.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Contos e lendas da África
Autor: Yves Pinguilly
Ilustrador: Cathy Millet
Tradutor: Eduardo Brandão
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2005

Por Luciane Piai

Jovem talentoso, poético, dramaturgo.
Jovem intenso, profundo, meigo e ardente.
Esse é Federico García Lorca.
Tão jovem o levaram cruelmente.
Homens insensíveis da Guerra Civil espanhola.
Lorca deixa para o mundo suas palavras.
Em forma de poesia e obras teatrais.
Sempre Lorca... – uma vez lido a paixão é eterna.
“Este riso de hoje é meu riso
de ontem, meu riso de
infância e de campo, meu riso
silvestre, que defenderei
sempre, sempre, até morrer.” (LORCA, p.28)
A obra Santiago foi escrita aos seus vinte e poucos anos.
É um fragmento do primeiro livro de poesia, o “Livro de Poemas”.
Leia um verso e depois se delicie com os demais:
“- Avozinha. Onde está Santiago?
- Por ali marcha com seu cortejo,
a cabeça cheia de plumagens
e de pérolas mui finas o corpo,
com a lua rendida a seus pés,
com o sol escondido no peito.” (LORCA, p.8)
                                                               
FICHA TÉCNICA:

Obra: Santiago
Autor: Federico García Lorca
Ilustrador: Javier Zabala
Tradutor: Willian Agel de Mello
Editora: WMF Martins Fontes
Ano: 2009

Por Alcione Pauli e Maria Lúcia Rodrigues

Com a doçura dos contos de fadas, Tiago Hakiy, filho da etnia Sateré-Mawé, encanta, empolga e envolve os leitores no seu texto Guaynê Derrota a Cobra Grande: uma história indígena. O autor conta com a parceria de Maurício Negro que ilustra com maestria essa história. A obra é vencedora do 9º Concurso Tamoios de Textos de Escritores Indígenas, de 2012, concurso desenvolvido pela INBRAPI (Instituto Indígena Brasileira para Propriedade Intelectual) juntamente com a FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil).
Nesta obra premiada, autor e ilustrador sopram palavras e descortinam imagens que nos colocam para dentro da mata, junto do rio Andirá, no Amazonas. Na leitura navegamos nos lugares mais profundos e acompanhamos o guerreiro-príncipe que enfrenta a grande Moi, e como o caçador da “Chapeuzinho Vermelho”, sem medo, o guerreiro abre o estomago da maligna e salva sua amada.
No texto imagético a história de Tiago Hakiy ganha a cores e sentimentos de Maurício Negro que, com uma paleta que revela a força e os segredos da natureza nas cores do fogo, da terra e da água – totalmente tingida de mata densa -, as imagens traduzem a integração entre homem e natureza em traços de duplo sentido, em formas que se revelam aos poucos aos nossos olhos, como que camufladas pela floresta do povo Mawé. São vermelhos de fúria e luta de Guaymê contra a cobra grande, alternados pelo vários verdes e ocres que traduzem o frescor da mata e das águas do Rio Andirá. Quase que dá pra sentir, no virar das páginas, os sons da mata.
Uma linda história de amor, escrita com início que remete aos caminhos do “era uma vez”... e com o final maravilhoso de sentimento de “foram felizes para sempre”. Uma obra indígena que além de trazer palavras e procedimentos da cultura do povo Mawé auxilia ao leitor no esclarecimento dos vocábulos, apresentando no final do livro um glossário para enriquecer o enredo e nos colocar em contato com a etnia Sataré-Mawé. Uma obra sensível e delicada. Imperdível!

FICHA TÉCNICA:

Obra: Guaynê Derrota a Cobra Grande: uma história indígena
Autor: Tiago Hakiy
Ilustrador: Maurício Negro
Editora: Autêntica
Ano: 2013

Por Luciane Piai

            Ocanrã, Ejiocô, Etaogundá, Irossum, Oxé, Obará, Odi, Ejiobê, Ossá, Ofum, Ouorim, Ejilá-Xeborá, Ejiologbom, Icá, Oturá e Oturopom são os dezesseis odus, chamados de príncipes do destino; eles fazem parte da mitologia dos iorubás.  Sabe qual é a missão deles? Bem, vou contar só um pouquinho... Eles têm o ofício de colecionar e contar histórias; cada odu é responsável por um assunto específico. Esse povo acredita que tudo na vida se repete: o que acontece e acontecerá na vida de alguém já aconteceu no passado para outra pessoa. As crianças iorubas, quando nascem, ficam sob a proteção de um dos dezesseis príncipes do destino, o seu odu, o padrinho de seu destino.  Agora, fiquei pensando... Eu não tenho um odu, gostaria de tê-lo. Privilégio dos iorubás !!! O povo fazia oferendas e rezas a eles a fim de receber favores, proteção e orientação. Cada um tinha que cuidar de seu destino e seguir a tradição. Como os príncipes do destino não vinham mais à Terra dos homens, os adivinhos iorubás, através do jogo dos búzios, com os dezesseis príncipes de Ifá, eram consultados para orientar a vida dos seres humanos.
Voltando à história... Os dezesseis príncipes trabalhavam para Ifá, o deus, o orixá do destino, o mestre do acontecer da vida. Certo dia Ifá desejou conhecer as histórias de cada odu, para saber o que aconteceria na terra. Então convidou todos em sua casa no Orum, o céu dos deuses iorubás, para uma reunião. Alguém faltou? Pense... E assim na primeira reunião Ifá determinou que todos deveriam vir juntos à sua casa a cada dezesseis dias para contar as histórias acontecidas; isso iria completar ao todo dezesseis reuniões. Imagine ao final de todas as reuniões: foram trezentas e uma histórias contadas sobre a vida dos homens e mulheres. Calma, não se assuste! Nesse livro são apenas dezesseis, pois “Ifá” escolheu apenas uma história de cada reunião para ser narrada. Ah, já estava esquecendo: no final de cada reunião era servido um delicioso banquete para todos os príncipes. Que tal provarmos também?!
                                                                     
FICHA TÉCNICA:

Obra: Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira
Autor: Reginaldo Prandi
Ilustrador: Paulo Monteiro
Editora: Cosac Naify

Ano: 2001

Por Maria Lúcia Costa Rodrigues

Algumas pessoas nascem para ver o belo nas coisas mais insignificantes. Nem as adversidades da vida as fazem perder esse olhar sensível, ainda bem, caso contrário não teríamos Manoel de Barros ou o Gabriel, nosso personagem da vida real imortalizado em sua obra e por Chistina Dias no livro Instruções para construir uma flor. Por meio de uma escritura poética, a obra traz até nós a história desse negro, filho de escravos alforriados que construiu sua singular casa com rejeitos dos outros.
                Dos afagos de Gabriel o que era caco renasceu, o que era toco floresceu. Sua casa e seu jardim se transformavam numa bricolagem de rejeitos: cacos de tijolos, pedregulhos, retalhos de azulejo, ladrilhos, vidros, tudo eram formas cheias de possibilidades aos olhos de Gabriel.
                No livro de Dias, a história de descobertas do personagem ao construir a casa flor a partir do nada é narrada pelo próprio protagonista. A personalidade sensível e rústica de Gabriel ganha vida nas aquarelas da ilustradora Semiramis Paterno.  É assim que o leitor pode conhecer um pouco desse ser encantador, que faz parte da história da arquitetura espontânea brasileira. Mas somente os mais curiosos e sensíveis saberão seguir as instruções à risca para construir uma flor.

FICHA TÉCNICA

Obra: Instruções para construir uma flor
Autora: Christina Dias
Ilustradora: Semiramis Paterno
Editora: Cortez

Por Maria Lúcia Costa Rodrigues

Por que pedras encantam tanto as crianças? Será que é porque ninguém as quer, ou porque sua inércia guarda segredos do tempo?
Essa tendência para empecilho talvez só Drummond possa explicar, porque se depender das crianças e do dicionário manuelês, a utilidade de uma pedra não terá importância nenhuma, mas sua irrelevância sim,  é ali que estão esquecidas a grandeza do nada que poetas e crianças conhecem tão bem.
E para conhecermos essa grandeza do nada Prisca Agustoni e André Neves nos apresentam Abauye, um menino africano que adorava colecionar pedras. As carências de sua vivência eram afagadas pelas pedras e pelas palavras, de preferência aquelas mais primorosas e caras como joias. Estas ele sabia muito bem usar, aprendeu com as mulheres de sua aldeia.
Para poder colecionar pedras Abauye parte numa jornada pelas estradas de seu país africano. Na aventura vivida por Abauye, ele não encontra só pedras, encontra também a triste Noémia, que não vê encanto nas pedras do menino.
Nessa história, André Neves com seu traço singular completa o texto de Prisca Agustoni com muita graça para mostrar que o desafio imposto por Abauye, para trazer aos lábios da jovem Noémia um sorriso, vem revelar ao leitor a magia das palavras que transformam realidades.

FICHA TÉCNICA:

Obra: O colecionador de pedras
Autor: Prisca Agustoni
Ilustrador: André Neves
Editora: Paulinas

Luciane Piai

        Baba Wagué Diakité nasceu e viveu grande parte de sua vida na região do Mali, África Ocidental. Na sua obra literária O dom da infância – Memórias de um menino africano, transmite para o leitor a vivacidade de suas memórias, sem deixar de lado sua origem simples e humilde, porém com uma dignidade e fidelidade a todos os seus antepassados. A sua narrativa é recheada de provérbios africanos, de muita sabedoria, deixando-a fluir com a leveza e a originalidade de um garoto: “O corpo inteiro de uma criança é de ouro, menos a cabeça – diziam -, e é necessário um ancião dedicado para transformar essa cabeça em ouro.” (DIAKITÉ, 2012, p. 16-17). Assim, esperava-se que as crianças e os jovens da família Diakité crescessem com bom caráter e boa educação, com os valores passados na aldeia. Os pais de Baba, vivendo longe da aldeia de Kassaro, desejaram que seus filhos tivessem uma vivência significativa com seus familiares, de acordo com a tradição. Então, desde pequeno, o menino conviveu com seus avós paternos, seus tios e seus primos no compound (conjunto de moradias cercadas por um muro, onde vivem as pessoas ligadas a um antepassado comum).
        O autor, também pintor e ceramista, ilustra a própria obra, utiliza azulejos como suporte para suas pinturas e ilustrações. Ao término de suas memórias faz um apêndice e dá o título de “Cantos da África Ocidental”. E, assim, contextualiza a República do Mali, os habitantes dessa região, os diversos povos africanos, entre eles, os Bambara. A história desse povo, traz o poder das palavras, já que na tradição oral africana os provérbios são muito comuns. Ainda faz um breve relato da estrutura familiar e social da aldeia, a sua alimentação, o seu vestuário, as suas festas e o mercado. E você, está a fim de experimentar instantes memoráveis nesse continente?


FICHA TÉCNICA:

Obra: O dom da infância – Memórias de um menino africano
Autor e ilustrador: Baba Wagué Diakité
Tradução: Marcos Bagno
Editora: SM (Cantos do Mundo)                 
Ano: 2012
Luciane Piai


Caro leitor, eu estava desencantada/desacreditada dos mundos mágicos das bruxas e de outros seres que povoam o imaginário. No entanto, ao conhecer Mutango e Vilengo, as bruxas das Vassouras do Vento e das Nuvens, respectivamente, minha credibilidade nos poderes das bruxas retornou paulatinamente, com essas duas criaturas protetoras contribuindo para o bem estar da aldeia. E quanto às suas idades, dizem que vivem há séculos.
Pense: quando você vê a chuva mansinha chegar e o sol nascer, lembre-se: que são elas que nos presenteiam. Bem, o restante de suas façanhas vou deixar você descobrir, porque sabemos: com bruxas com tantos poderes não dá para meter bobeira.
Este livro de ficção infantojuvenil angolano, A Vassoura do Ar Encantado, foi escrito por Zetho Cunha Gonçalves, autor de Huambo, da Angola, que passou a infância e a adolescência em Cutato, província do Kuando – Kubango, onde aprendeu e vivenciou os costumes, as lendas de seu povo e o respeito à natureza. Com essa experiência, dedica-se exclusivamente à literatura e vive atualmente em Lisboa. As ilustrações são de Andrea Ebert, natural de São Paulo.


FICHA TÉCNICA:

Obra: A Vassoura do Ar Encantado
Autor: Zetho Cunha Gonçalves
Ilustrador: Andrea Ebert
Editora: Pallas
Ano: 2012



Por Luciane Piai

 O Menino Negro é um romance africano, do escritor guineano Camara Laye, escrito em 1953, porém, atual mesmo para o século XXI. Conforme Alan Mabanckou, essa obra é um “livro iniciático, um dos textos fundadores da literatura africana contemporânea” (CAMARA, 2013, p. 12). Camara Laye foi muito criticado na época por não abordar os conflitos de seu país; ele trilha outros caminhos: seus escritos estão baseados nas suas memórias da infância e da adolescência, todavia, serviu de inspiração para muitos escritores de sua geração e para os escritores contemporâneos do continente africano.
Laye, o próprio protagonista da narrativa, de forma sensível e com literariedade, traça um retrato da sua Alta Guiné natal. Quando o escreveu, já não morava na África, e sim na França. Possivelmente, é por estar longe de sua pátria e de seus entes queridos que o autor transmite no seu relato tanto afeto e amor em cada fase de sua vida. Durante a narrativa, ele faz questão de dizer que em certos fatos era o que lembrava, fazendo-se perceber alguns vazios de informação, os quais Laye não se preocupou em preencher, pois não fazem falta ao texto, já que as memórias literárias extrapolam o real vivido, transitam entre o real e o imaginário.
O livro apresenta, ainda, os costumes, as tradições, a importância dos ritos na cultura africana; pormenoriza o rito de passagem e a circuncisão, quando os candidatos desafiam o próprio medo do ritual secreto e se superam.
O foco principal está na convivência com seus pais, irmãos, tios, avó, professores, mestres, líderes religiosos e amigos, tão rara para os dias atuais.
Leitor: é impossível não se debulhar em lágrimas no final dessa história. Com certeza, você revivenciará laços de união com seu pai e sua mãe, assim como Laye o fez, quando partiu novamente em busca de seus estudos, seguindo seu destino.
                                                                                    
FICHA TÉCNICA:

Obra: O Menino Negro
Autor: Camara Laye
Tradutora: Rosa Freire d’Aguiar.
Editora: Seguinte
Ano: 2013
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