Bruna Furlan

Publicada pela editora Melhoramentos, Mumi Sem Memória, de Gabriele Clima, retrata com simplicidade uma narrativa tão suave quanto o protagonista dessa obra. 
Mumi é um garoto simples e que esquece, rapidamente, de tudo. Ele só não esquece do caminho de sua casa, pois, para onde quer que vá, leva consigo um fio de lã amarrado em seu tornozelo. As pessoas do vilarejo não são nem um pouco simpáticas com Mumi, mas ele, sempre meigo e tranquilo, nunca recorda das brincadeiras malvadas delas. 
Chiara Carrer, ilustradora da obra, por sua vez, seleciona elementos para criar composições que são narrativas por si só. A cada página, diferentes técnicas são utilizadas para desenhar a história e, com cores leves, várias texturas e distintos traços, Carrer traz delicadas ilustrações ao texto. 
 Porém, tudo começa a mudar com a chegada de um rico homem ao vilarejo, o que chama a atenção de seus moradores. Logo a inveja toma conta deles, causando uma transformação na dinâmica do próprio povoado. 
 Apesar de tudo, Mumi continua sendo o mesmo: um garoto alegre, tranquilo, bondoso e que se esquece de tudo. Será o comportamento dócil desse menino a lembrar às pessoas de valores que vão além dos materiais, transformando, por fim, a realidade em que vivem. 

CLIMA, Gabriele. Mumi sem memória. Ilustr.: CARRER, Chiara. São Paulo: Melhoramentos, 2013.



Bruna Furlan é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) na Univille e acredita que as palavras gentis são sempre a melhor escolha.
Letícia Marques Hesmesmeyer

O Menino e o Tempo, escrito por Bia Hetzel, ilustrado por Graça Lima, publicado pela Editora Manati é disposto em vinte e três páginas ilustradas. A obra infanto-juvenil foi publicada em 1999 e conta a história de Gustavo, uma ingênua criança que encontra refúgio em uma pedra de um rio. 
Gustavo é uma criança que busca em certo rio, um esconderijo, um lugar para esfriar o pensamento e para concentrar-se apenas no chiado do rio. Nesse lugar cheio de boas sensações, o menino faz novas descobertas e encaixa-se às circunstâncias e características de lá. Para ele, tudo em sua volta muda e evoluí, ao contrário do rio, que permanece imutável: “O tempo passa. O sol se esconde atrás da montanha. O ninho de pedra escurece, esfria. O tempo passa. Só o rio não muda” (p. 7). Sua fértil imaginação também fazia Gustavo ver em simples fósseis, as imagens de dinossauros percorrendo por ali. 
A linguagem utilizada por Bia Hetzel é agradável e de fácil compreensão, embora haja metáforas. O intuito principal da autora nessa obra não é apenas contar a história de um menino que passava horas e horas à beira de um rio, mas sim levantar questões reflexivas sobre a temporalidade. Por isso, a leitura deste livro é indicada para crianças e adolescentes, porém terá melhor aproveitamento aqueles que tiverem a leitura mediada por um adulto, por tratar de metáforas, algumas vezes, de difícil compreensão para o público infanto-juvenil, como em: “Mas o rio não corre para trás. O rio corre para sempre. O rio corre para sempre e nunca mais.” (p. 9). 
As ilustrações de Graça Lima são coloridas e estão presentes em páginas inteiras, contrastando com a página ao lado que contém o texto escrito. Elas são simples, porém muito poéticas. Além disso, por essa simplicidade lembram desenhos de uma criança, ocorrendo, assim, um processo de identificação do seu público leitor e facilitando a compreensão da história. As ilustrações feitas por Lima servem como complemento para o entendimento da obra. O que mais me chamou a atenção no texto foi a abordagem de Hetzel sobre o existencialismo e o tempo em uma obra infanto-juvenil. Com o tempo, a angústia do tempo pairava no peito de Gustavo, que a domava e ainda brincava com ela. A autora ainda faz indagações aos leitores, sobescritas nas falas do menino: “Como seria o mundo antes de ele nascer? Como será o mundo depois de ele morrer?” (p. 14). 



Letícia é estudante de Letras, tem 20 anos e é apaixonada pela vida, pelos sonhos, pelas pessoas, pela felicidade e, sobretudo, pela paz interior. É professora de Língua Inglesa e não consegue ver-se fora desse mundo de constante aprendizagem. Adoraria viajar ao redor do mundo, conhecer novas culturas e descobrir como as pessoas encaram a vida. Sua alma é sonhadora e a liberdade é sua principal matéria. Acredita, assim como Paulo Freire, que a “educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
Sabrine Padilha

Uma galinha astuta, uma lebre esperta e um gato gordo e comilão são alguns dos protagonistas dos nove contos escritos e ilustrados por Debi Gliori em “Histórias Para Ler na Cama” (Companhia das Letrinhas, 2002). 
Cada um dos contos trata de adaptar algumas fábulas famosas e lhe dar um humor mais moderno, incorporando às histórias clássicas elementos novos. O resultado é mais do que positivo. 
Como é típico das fábulas, estas trazem ao final um tipo de lição, por exemplo: seja solidário (A Galinhazinha Vermelha), não seja guloso (O Gato Gordo), e, é claro, não tente devorar seus vizinhos (Sopa de Prego). 
As ilustrações de Gliori são belíssimas e acrescentam muito aos contos, que são divertidos e nada previsíveis em sua nova roupagem, tendo uma originalidade bastante peculiar que faz o leitor não conseguir parar até terminar todo o livro. 


GLIORI, Debi. Histórias para ler na cama. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.


Sabrine Sharon Padilha é acadêmica do curso de História da Univille e quando ela sonha, ela sempre se lembra.
Viviane Padilha

O livro A hora da Caipora, de Regina Chamlian (Editora Ática, 1998), faz parte da Coleção Contos de Espantar Meninos criados a partir dos mitos do folclore brasileiro.
A Caipora é a senhora das florestas, protegendo a mata dos caçadores que desrespeitam a natureza. Quando o menino Zezinho e seus irmãos se aventuram pela mata, encontram o espectro de Guilherme Limões, um caçador atrevido que ousou desafiar a Caipora. O espectro, disposto a contar sua história, relata as desventuras desse encontro, enchendo os meninos de medo e dá uma grande lição sobre a importância das matas.
O livro é recheado de sustos com sua atmosfera envolvente e bom humor, fazendo reconhecer diversos personagens do folclore brasileiro que permeiam o imaginário coletivo da nação. As ilustrações de Helene Alexandrino deixam a história ainda mais tenebrosa, alternando entre imagens coloridas e pequenos quadros em preto e branco.
A hora da Caipora prende o leitor da primeira à última página e a mata como cenário principal hipnotiza o leitor que se rende ao livro como os meninos se renderam à história de Guilherme Limões. Seja em frente a uma fogueira na mata ou no sossego do seu quarto, a Caipora com certeza conquistará o jovem leitor.



Viviane Elaine Padilha é acadêmica do terceiro ano de Pedagogia, e gostaria de ter um dedo verde para tornar o mundo um lugar melhor.
Nicole Barcelos

Chapeuzinho Amarelo é amarelada de medo. Tem medo de tudo, essa Chapeuzinho. Não fala, não anda, não vai à rua, não brinca. Está, a todo tempo, à margem – porque tem medo. Mas seu medo mais que medonho não é o de se sujar, ou de engasgar, ou de ter pesadelos: é de um lobo, um lobo que nunca se vê.
Sua presença, porém, é tão latente, tão amedrontadora, que a menina parece que está para topar com ele à cada esquina, de tanto pensar nele. É através de seu “encontro” com o medo, porém, que Chapeuzinho se dará conta de que o lobo pode ser, na verdade, outra coisa.
Não por acaso escrito na década de 1970, no auge de uma ditadura, em Chapeuzinho Amarelo, a protagonista que dá nome ao moderno conto de fadas de Chico Buarque tem um destino bastante diferente do de suas contrapartes europeias de Perrault e Grimm (e, se alguma coisa, é ela quem dá uma lição no seu próprio lobo).
 Com as ilustrações em preto, branco, amarelo e vermelho de Donatella Berlendis, esse livro-poema tem também uma narrativa visual rica em simbolismo e sugestão. Na reedição dos anos 1990 da editora José Olympio, Ziraldo é quem assina a ilustração - e apesar de revisitar alguns dos conceitos propostos pela primeira ilustradora, cria uma narrativa visual com menos sugestões simbólicas e mais ilustrativa do próprio texto escrito.
A poesia de Chico Buarque, porém, é de leveza e força quiçá subversiva, coroando o debut do autor na literatura infantil em um tempo não menos oportuno para tal.

BUARQUE, Chico. Chapeuzinho amarelo. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 1979.
BUARQUE, Chico. Chapeuzinho amarelo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.



Nicole Barcelos é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Atua como bolsista do Prolij desde 2014 e vive se perdendo em buracos de coelho.
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