Cymara Sell
Nicole Barcelos 


Às vésperas de um dos feriados mais aguardados do ano, o Natal já se anuncia: seja nas decorações das casas, no ritmo de final de ano e nas tradições que começam a se preparar, é difícil estar completamente aquém desse momento, independentemente de credo e de sua própria tradição. É fato, porém, que algo particular ao humano, e uma de nossas mais famosas narrativas, transborda em outras histórias que são tecidas no curso do tempo. Por essa razão, nós resolvemos reunir um punhado de "histórias de Natal" (cada uma a sua moda) na pequena lista a seguir, indo dos clássicos aos contemporâneos, infantis, juvenis e adultos, para que qualquer leitor possa nelas encontrar, quem sabe, um pouco de si.


A Pequena Vendedora de Fósforos, de Hans Christian Andersen – É bem provável que o conto seja um velho conhecido da infância, mas é sempre bom voltar a um texto e comparar a percepção atual com as leituras anteriores, principalmente se o sentimento natalino já começou a lhe afetar. Caso ainda não o tenha lido, saiba que está perdendo uma das mais emblemáticas histórias de Natal e que a humanidade se divide entre aqueles que consideram seu final triste e aqueles que o consideram feliz. 

Vanka, de Anton Tchekhov – Vanka é um garotinho que na véspera de Natal escreve uma carta fazendo um pedido a um certo velhinho. É um conto de Tchekov, em que a tristeza e ternura pelo ser humano se misturam, então leia ao lado de uma caixa de lenços ou de um ombro amigo.

O presente dos Magos, de O. Henry – A tradição de dar presentes no Natal iniciou-se com as oferendas feitas pelos reis magos ao menino Jesus. Depois deles, segundo o autor, poucos foram aqueles que presentearam com tamanha sabedoria. Entre esses raros está o casal do conto. Talvez ao final você lembre ainda do bom e velho verso de Camões que diz que o amor é o que se ganha ao se perder. 

Menino Inteiro, de Bartolomeu Campos de Queirós – O nascimento e a infância de Jesus narrados não de acordo com os fatos, mas com a poesia que decorre da boa-nova. Um livro para quem crê e quem não crê, tão ou mais belo que os evangelhos.

Miguel e os demônios, de Lourenço Mutarelli – É uma boa pedida para quem é meio Grinch e acha as histórias de natal açucaradas e sentimentais demais. Pode-se dizer que Miguel é um Vanka adulto, pós-moderno e brasileiro, sofrendo  no calor e no consumismo natalino de São Paulo. Mas certamente há bem mais que isso no romance, trama policial que mistura charadas metafísicas, obsessões, humor e uma magia sinistra. Mas aqueles que já encarnaram totalmente o espírito natalino, talvez também se comovam e queiram abraçar Miguel e seus demônios.

O Natal de Poirot, de Agatha Christie – A dita "rainha do crime" colore o feriado em tons de vermelho, mas de vermelho sangue. Em um mistério nada "anêmico", o detetive belga, Hercule Poirot, vê-se mais uma vez envolvido na investigação de um assassinato. Mais apropriado para aqueles que talvez apreciem um pouco de morbidez em época de festa, O Natal de Poirot condensa aquilo que há de melhor na prosa de Agatha Christie: ritmo, um grande mistério e um olhar para o humano muito particular.

Um conto de Natal, de Charles Dickens – Outro clássico natalino, também traduzido como "Os fantasmas de Scrooge" (título sob o qual recebeu uma das suas muitas adaptações de cinema), pois, o conto acompanha Scrooge, um velho rabugento e mesquinho que se vê assombrado por fantasmas bastante peculiares em pleno Natal: um de seu antigo sócio e os outros três, do Espírito de Natal (passado, presente e futuro), que pretendem ensinar-lhe uma lição sobre essa época festiva. Provavelmente um dos contos mais famosos da literatura ocidental e uma das obras mais populares de Dickens, Um conto de Natal ressoa ainda hoje ecos de sua importância, permeando muito do imaginário popular e do que se entende por espírito natalino.

Feriado sem Nome, de Shaun Tan – Este conto faz parte do livro “Contos de Lugares Distantes” (publicado pela finada editora Cosac Naify, em 2012) e, embora não seja sobre o Natal é, ao mesmo tempo, totalmente sobre o Natal.  Trata-se de um conto de uma página sobre o qual não se pode falar muito além de: LEIA! Os demais contos do livro são igualmente sensacionais. Aliás, toda obra de Shaun Tan é assim: surreal e repleta de amor pelas coisas simples e pequenas.



Cymara Sell atua como bolsista no Prolij desde 2016. É graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa) e lê para lembrar que é gente.

Nicole Barcelos é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Atua como bolsista do Prolij desde 2014 e vive se perdendo em buracos de coelho.
Resenha: Uma Ilha Lá Longe

Gabrielly Pazetto

No livro Uma Ilha Lá Longe, de Cora Rónai, com ilustrações de Rui de Oliveira, criaturas mágicas
vivem entre humanos pacificamente, sendo admirados e muito observados, até que máquinas e construções passam a fazer parte do cotidiano do povoado – agora cidade – causando danos a estes animais fantásticos. 
A narrativa, detalhista, utiliza as palavras certas para explicar sobre as singularidades dos pégasos, centauros e unicórnios, mas peca por subestimar o leitor e explicar algo que muitas vezes já estava explicado. Ainda assim, a história emociona por mesclar elementos mágicos com fatos que conhecemos muito bem, além de brincar com a imaginação do leitor em relação ao paradeiro destas criaturas nos dias atuais. 
As ilustrações do carioca Rui de Oliveira, nos brinda com a riqueza dos detalhes dos desenhos, sempre em preto e branco, com elementos singulares que compõe as suas texturas, como na imagem contrastada da pequena família observando as máquinas no campo enquanto flores, do outro lado da cerca, florescem. 
O belo desfecho nos dá aquela pontinha de alegria nesta história que não tem muitos momentos felizes, afinal, estas criaturas mágicas e aladas estão por aí em alguma ilha lá longe. 


RÓNAI, Cora; OLIVEIRA, Rui de. Uma Ilha Lá Longe. Rio de Janeiro: Record, 2007.



Gabrielly Pazetto é graduanda de Letras na Univille e técnica em Informática. Faz dos livros que lê barcos de viagens inesquecíveis.
Letícia Marques Hermesmeyer

Um Jardim para Pétala, escrito por Christina Dias, ilustrado por Ellen Pestili, publicado pela editora Planeta Infantil, é disposto em quarenta e oito páginas ilustradas. A obra infanto-juvenil foi publicada em 2013 e conta a história de Pétala, uma sonhadora criança que encantará a todos que lerem com sua fértil e inocente imaginação. 
Com toda sua doçura, Pétala desejava ter um jardim em sua casa. Missão quase impossível para seu pai. Os dois moravam sozinhos em uma casa no subúrbio de uma cidade grande, sem muito – ou nenhum – espaço para plantar flores. No entanto, Pétala mostrou que, para realizar um sonho, não há barreiras, basta abusar de muita fantasia. Com o tempo, Pétala persuade seu pai, que passa a ter imaginação igual a da menina e, assim, o jardim, em sua casa, nasce, cresce e floresce. Tudo o que a menina passa a ver são flores, “os jogos, os filmes, a merenda” (p. 27) e a casa não era mais cinza, “o chão ganhou cores, os azuis cintilavam formando ondas de brilho, as cachoeiras caíam das paredes” (p. 37). 
As ilustrações da obra chamam a atenção e aproximam o leitor da imaginação de Pétala e seu pai, pois retratam os principais fatos da história de maneira engenhosa e inovadora. Elas afirmam o texto verbal e possuem função predominantemente estética. Desta forma, a ilustradora Ellen Pestili tornou o texto mais agradável esteticamente, penetrando na mente do leitor e servindo de complemento para o entendimento e construção do imaginário do leitor. O que mais me chamou a atenção no conto foi a forma singela com que a autora abordou a relação entre fantasia e realidade, fazendo com que os leitores vejam a felicidade nas pequenas questões da vida, induzindo-os a enxergarem flores no que os olhos cansados só veem dores. A criatividade de Pétala é tão pura e natural, que, gradualmente, é transmitida a seu pai e também aos leitores. 
 Embora a obra seja destinada ao público infanto-juvenil, ela pode e deve ser lida em todas as faixas etárias. Isto porque trata de um tema que aflora a imaginação em todos que a lerem e, principalmente, por nos fazer refletir sobre o ritmo frenético que nós adultos levamos a vida. A história nos faz abrir os olhos para enxergar o mundo com a pureza de uma criança e também a despertar a esperança como a autora Christina Dias aponta: “Assim como Pétala existem muitas crianças no mundo inteiro que sabem transformar aridez em beleza e assim fazem nas casas, nas ruas e nos cantinhos onde vivem (p. 46)”.

DIAS, Christina. Um jardim para Pétala. São Paulo: Planeta Infantil, 2013.




Letícia Marques Hermesmeyer é estudante de Letras (Habilitação em Língua Portuguesa e Inglesa) na Univille, tem 20 anos e é apaixonada pela vida, pelos sonhos, pelas pessoas, pela felicidade e, sobretudo, pela paz interior. É professora de Língua Inglesa e não consegue ver-se fora desse mundo de constante aprendizagem. Adoraria viajar ao redor do mundo, conhecer novas culturas e descobrir como as pessoas encaram a vida. Sua alma é sonhadora e a liberdade é sua principal matéria. Acredita, assim como Paulo Freire, que a “educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
Nesse ano, a Semana de Letras da Univille volta a acontecer, integrando programas e projetos vinculados ao curso para promover uma semana inteira de atividades para acadêmicos e comunidade!  
Ele incluirá: o 22ª Encontro do Proler Joinville, o IX Abril Mundo do Prolij, o 7ª Seminário de Pesquisa em Linguagem, Leitura e Cultura: Linguagem, Leitura e Cultura em Diálogo e o evento internacional, Pátria Língua Portuguesa.

Por meio dessa postagem, divulgamos publicamente a relação de aprovados e ensalamentos para o 7º Seminário de Pesquisa em Linguagem, Leitura e Cultura: Linguagem, Leitura e Cultura em Diálogo, promovido pelo Proler (Programa Nacional de Incentivo à Leitura). Basta clicar aqui.

Kauane Cambruzzi

Caio Riter conta a história de “Maria e seu sorriso na janela” delicadamente e sem pressa, levando o leitor a imaginar-se embaixo da janela de Maria, esperando com ela a passagem de Marcelo e de seu skate.
Poucas coisas deixam uma criança tão feliz quanto poder brincar na rua e com Marcelo não é diferente. Ele voa em seu skate, faz da calçada sua pista de corrida, embora sempre desacelere quando passa em frente à janela de Maria. Ele, ainda tão menino e já sabedor do valor de um sorriso cheio de graça.
O leitor, seja criança ou crescido, torna-se amigo de Marcelo, compartilhando sua vontade de ver o belo sorriso de Maria e sua curiosidade quando um dia ela não lhe sorri mais. Na verdade, nem abrir a janela ela abre!
Esse é um livro cheio de poemas em forma de prosa, que teve a primeira edição publicada pela Editora Gaivota, ilustrado por Rafael Antón, que traz sua própria graça ao livro, nos fazendo abrir sorrisos feito os de Maria ao ver os traços e as cores escolhidas pelo artista. Antón nos mostra a menina dos sorrisos na capa do livro, debruçada na janela com as negras tranças ao vento esperando Marcelo passar ou talvez, nos convidando a abrir o livro como ela abre sua janela: com sorrisos no rosto, ansiosos por ver Marcelo passar em seu skate.

RITER, Caio. Maria e seu sorriso na janela. São Paulo: Editora Gaivota, 2013.



Kauane Cambruzzi é graduanda em Letras na Univille. Tem os cabelos cacheados e sabe que deve agradecer à bisavó por eles, assim como deve agradecer ao pai por lhe comprar livros e à mãe por lê-los, trazendo a literatura para sua vida.
Carolina Roberto Floriano

O livro “Selma”, de Jutta Bauer, da editora Cosac Naify, com a tradução de Marcus Mazzari, de 2007, é um pequeno e ótimo livro para carregar, além de ser uma linda história que pode ser direcionada tanto às crianças, quanto aos adultos; neste conta-se a história de uma ovelha chamada Selma. 
A narrativa começa com a pergunta “O que é felicidade?”, e então a rotina de Selma é contada pelo grande Bode, (2007, p. 10-22)

“Era uma vez uma ovelha... que toda manhã, ao nascer do sol, comia um pouco de grama... até o meio – dia, ensinava as crianças a falar... praticava um pouco de esporte à tarde... depois comia grama de novo... papeava um pouco com a dona Maria ao anoitecer... e caía num sono profundo e pesado pela noite”.


E então Selma é questionada sobre o que faria se tivesse mais tempo, e a ovelha responde exatamente o que faz sempre, apenas se prolongando mais em suas atividades, em seguida é questionada sobre o que faria se ganhasse na loteria, e Selma novamente não abre mão de seus afazeres usuais. 
Dessa forma, podemos entender a história de Selma como uma forma de reflexão sobre o que nos faz feliz, e que o segredo da felicidade talvez esteja em fazer aquilo que nos faz bem, ou em como o que pode parecer normal para alguém, ou até simples demais, para outro é o que realmente importa.


BAUER, Jutta. Selma. São Paulo: Cosac Naify, 2007.


Carolina Roberto Floriano é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa) e professora de inglês em uma escola de idiomas. É apaixonada por línguas e tudo o que vem acompanhado delas.


Nicole Barcelos

Algum dia dividiremos a liberdade em fatias e nos 
amaremos - sem fome - em absurda alvorada. 
(Bartolomeu Campos de Queirós)


De não em não, poesia feita narrativa por Bartolomeu Campos de Queirós, denota já em seu título as muitas ausências denunciadas em seu decorrer. Publicada em 1998 pela Editora Miguilim, de Belo Horizonte, a obra acompanha uma família comum assolada pela Fome, em um lugar qualquer, sob a lua que ilumina o mundo inteiro. 
A Fome (assim mesmo, com “F” maiúsculo) chega de mansinho, sem ser convidada, para visitar pais e filhos no calar da noite, e faz notar todas as faltas na casa dos personagens anônimos, em que “só havia o vazio e o resto”. Antagonista (ou protagonista), pois, ela é a presença das ausências: da falta de alimento, sim, mas também de tudo aquilo que foi sacrificado para afastá-la - o relógio do pai (com o qual se foi o tempo), a medalha de ouro (que engole também a esperança), o rádio de pilha (e já não houve mais música), as alianças dos pais (com quem foi também o pai), todos usados para que ela se fosse apenas temporariamente. Afinal, como bem observa o texto “quanto menos se possui, com mais frequência a Fome nos visita”. 
Nessa narrativa de ausências, de silêncios e não ditos, a Fome fala e denuncia a dura realidade daqueles que dela sofrem - em detrimento de quem ela serve. É na beleza das imagens projetadas por Campos de Queirós por meio de tão singelas palavras (não particularmente favorecidas pelo projeto gráfico que as acompanha) que nos deparamos também com uma dolorosa verdade sobre o mundo - nosso mundo, o mesmo mundo deles e dos outros, que se ergue sob a mesma lua. 



QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. De não em não. Ilustr.: CAMPOS, Glória; VAZ, Bernardo. Belo Horizonte: Editora Miguilim, 1998.


Nicole Barcelos é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Atua como bolsista do Prolij desde 2014 e vive se perdendo em buracos de coelho.


Gabrielly Pazetto 

Em Depois da Montanha Azul, a carioca Christiane Gribel brinca com a ingenuidade de um pequeno povoado, alheio às suas próprias belezas e encantos, que, após ouvirem um certo viajante, enxergam tudo sob um ponto de vista diferente. 
A narrativa de frases curtas e diálogos simples encanta pela maneira com que transmite pensamentos tão puros, não apenas por parte das crianças, guias desta história, mas também por parte dos adultos, como o simpático e caricato prefeito, que mais parece um personagem de desenho animado. 
As ilustrações da gaúcha Bebel Callage parecem terem sido tecidas suavemente à mão. Detalhes como as expressões das árvores ao verem os meninos, o lindo riacho gelado que parece mais ter sido pintado com aquarela faz tudo soar mais fantástico. O destaque mesmo é para o momento derradeiro, em que a pequena população chega até o topo da montanha que exibe várias cores e texturas, um belíssimo mosaico de estampas. Ainda há pequenos animaizinhos, sempre ao fundo, como os porquinhos e os passarinhos, que parecem terem sido desenhados por uma criança. 
O momento que nos faz suspirar e emociona é o encontro final com o viajante. A narrativa segue uma linha inocente, calma e encantadora para nos dar uma grande tremida no coração. A sensação que fica é de que todos temos uma montanha azul para subir e desafiar. 
GRIBEL, Christiane. Depois da Montanha Azul. Rio de Janeiro: Salamandra, 1968.




Gabrielly Pazetto é graduanda de Letras na Univille e técnica em Informática. Faz dos livros que lê barcos de viagens inesquecíveis.

Jéssica de Oliveira

O livro “A Princesa Anastácia”, escrito e ilustrado por Elma Neves, tem a proposta de ilustrar o mundo com as cores através de uma princesinha muito esperta e dona de si que não aceita mais as cores que lhe forma impostas e que entristecem sua vida. 

Anastácia vai em busca de sua cor preferida, pois cansou de viver em um mundo preto e branco e quer levar esperança ao mundo através dessa cor: o verde que simboliza a esperança. Ela passa a mensagem de que não importa as tristezas do mundo, ele ainda pode ter esperança, ou ser colorido de alegria. 

Ilustrado pela própria autora que encontrou nas cores a inspiração para produzir seu primeiro livro, “A Princesa Anastácia” é especial porque além da leveza e da profundidade da mensagem que transmite, apresenta uma personagem ainda menina, negra e com os cabelos cacheados dispensando os estereótipos que costumam ser representados em muitas obras infantis. Um convite a esperançar o mundo. 



 NEVES, Elma. A Princesa Anastácia. São Paulo: Difusão Cultural do Livro, 2006.


Jéssica Duarte de Oliveira é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Acredita que a literatura é uma porta de acesso à liberdade. 
Carolina Reichert

A curiosa Rafaela vive incomodando os pais com a mesma pergunta: “como ele foi parar aí dentro?”. Desconfortáveis, os adultos a seu redor buscam alternativas para não dizer a verdade: “a girafa é tão alta que encontrou seu filhinho numa nuvem. Coitadinho dele, era tão pequenino e estava com tanto frio, que ela decidiu colocá-lo dentro da própria barriga” ou “No fundo do mar existe uma fila imensa de ostras que guardam os filhos dos seres marinhos. Quando eles querem ter um bebê, eles vão até lá, batem nas ostras e escolhem o bebê que mais gostam. Foi assim que a baleia escolheu seu filhote”. 

“Como ele foi parar aí dentro?”, de Ilan Brenman, publicado pela editora Aletria em 2013, narra a jornada da pequena Rafaela, que não desiste até encontrar a verdade sobre como as mamães, bicho ou gente, ficam grávidas. 

A obra de Brenman e a ilustração de Vanessa Prezoto caminham juntos numa narrativa delicada e repleta de descobertas inerentes ao universo infantil, e aborda de maneira sensível e graciosa um assunto que pode ser constrangedor para alguns adultos, como para os pais de Rafaela.




BRENMAN, Ilan. Como ele foi parar aí dentro? Ilustr. Vanessa Prezoto. Belo Horizonte: Aletria, 2013.  
Nicole Barcelos 

Fita verde no cabelo (de João Guimarães Rosa) já se tornou um clássico da literatura infantil juvenil brasileira, tal qual sua contraparte dos contos de fada do século XVI. A narrativa da menina de “fita verde inventada no cabelo” que há muito encanta leitores de todos os tipos também foi o estopim das atividades do grupo de leitura e discussão do Prolij em 2014, não por acaso chamado “Não era chapeuzinho”. 
Com uma o intuito de retomar as resenhas no blog do programa, nada mais justo do que retornar a esse clássico fundador com o olhar não de um, mas de seis resenhistas, membros do grupo de discussão. Você pode conferi-los abaixo! 



Escolhas 
Carolina Roberto Floriano 

 O conto “Fita Verde no Cabelo”, de João Guimarães Rosa, da editora Nova Fronteira, com ilustrações de Roger Mello, de 1992, se assemelha ao conto de Charles Perrault, “Chapeuzinho Vermelho”, porém traz novas perspectivas e escolhas da protagonista. 
Por maiores que sejam as semelhanças com a obra de Perrault, Guimarães Rosa mostra uma Chapeuzinho diferente, esta, ao invés de usar uma capa vermelha, leva uma fita verde no cabelo, que pode ser interpretada como algo não maduro, ou a imaturidade da menina ao sair da casa: “Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo” (1992, p.5). 
Outro ponto de dessemelhança é que Fita-Verde não é tão obediente quanto Chapeuzinho Vermelho, além da questão do lobo, que o autor não projeta como o grande vilão da história, pois é como se este não existisse (“Daí, que, indo, no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. [..] E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso” 1992, p.8 e p.11). 
 Neste momento do conto, quando Fita-Verde decide tomar o caminho mais longo, assim chegando mais tarde do que o esperado na casa de sua avó, se deparando com a senhora em um estado deplorável, percebe que perdera sua fita verde, e que está por perder sua Vovozinha, ela finalmente se dá conta de que suas escolhas refletiram no estado no qual encontrou sua avó, e então Fita-Verde amadurece: “Fita-Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez. [...] Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino do corpo” (1992, p.26 e p.27). 
Em suma, pode-se concluir que, quando é possível fazer escolhas, deve-se pensar duas vezes antes de seguir algo, falar alguma coisa ou optar por qualquer alternativa. No conto, o caminho que Fita-Verde decidiu tomar e as consequências que foram acarretadas por essa decisão. Outro elemento que foi levantado no conto é o crescimento mental que temos a partir de problemas enfrentados ao longo da vida, nos levando a amadurecer, quer queiramos ou não. 

Carolina Roberto Floriano é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa) e professora de inglês em uma escola de idiomas. É apaixonada por línguas e tudo o que vem acompanhado delas. 



Até que a morte nos amadureça
Camila Gomes

“Fita Verde no Cabelo” é uma obra de João Guimarães Rosa, que conta com trinta e duas páginas, publicado pela editora Nova Fronteira. O livro é uma leitura da obra “Chapeuzinho Vermelho” de Charles Perrault. 
A obra, apesar de infantil, trata de questões sérias como mortalidade e amadurecimento, mas sem parecer sensacionalista nem melancólico demais. É com leveza que Guimarães traz esses assuntos à tona, utilizando de uma clássica história infantil para aproximar seus leitores pequeninos dessa realidade. 
O livro pode seguir diferentes interpretações, depende muito de quem o está lendo, uma vez que a obra, apesar de ser direcionada ao público dos pequenos, pode ser facilmente lida por adolescentes e adultos. 
É esse grande leque de interpretações que torna a história tão aberta para os mais variados públicos. Os simbolismos e os diálogos presentes podem significar mais do que aquilo que o livro demonstra. 
Ao meu ver, a morte da avó de Fita Verde significou o amadurecimento do personagem, uma vez que ela também perde a fita no cabelo. A cor verde carrega muitas simbologias, uma delas é a esperança. Isso pode significar o que muitas vezes é a entrada na vida adulta, o amadurecimento que a morte pode trazer em relação à perda e ao luto. 
É um livro com uma história muito aberta, com seus símbolos e diálogos direcionando o leitor à sua própria interpretação, dentro do seu próprio contexto pessoal. 

Camila Gomes é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Lê porque acredita que a leitura é a melhor forma de viajar sem sair do lugar. 



Tudo era uma vez 
Nicole Barcelos 

É num revisitar do “era uma vez” que João Guimarães Rosa ressignifica uma velha estória e a torna nova em seu "Fita Verde no Cabelo". Publicada pela editora Nova Fronteira em 1992 e ilustrada por Roger Mello, a obra se constrói no espaço do indeterminado, em um tempo incerto de “algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto”. Não há dúvidas que será essa meninazinha sem juízo suficiente a protagonista da história, a qual ela nomeia: é Fita Verde, que segue para a casa de sua avó sem saber o que a espera. 
 Aqui, a fita verde inventada no cabelo da protagonista de mesmo nome faz as vezes de capuz vermelho de uma certa chapeuzinho, e o conto de fadas é reinventado. Não há lobo com que topar na floresta, e é a própria menina quem decide trilhar o caminho mais longo ao invés do “encurtoso”, tomando seu tempo para chegar à casa da avó, distraída pelas surpresas do trajeto. Mas é ao deparar-se com a velha senhora que tem sua maior surpresa e o lobo, o qual não temia, assume uma nova forma. 
 De escrita e ilustração poética (cada qual uma narrativa à parte), o livro lança um novo olhar ao tão conhecido conto da menina de capuz vermelho, cesto e pote, que é vítima de um lobo muito diferente do de sua contraparte brasileiríssima e verdejante, que mais parece amadurar forçosamente diante das vilanias fatais da própria vida. 

Nicole Barcelos é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Atua como bolsista do Prolij desde 2014 e vive se perdendo em buracos de coelho. 






Do verde ao vermelho
Jéssica Duarte de Oliveira 

João Guimarães Rosa vem nos apresentar uma encantadora versão de um clássico que tem passado de geração para geração, e encantado. O autor trata da morte de forma sutil e fala de um dos amores mais singelos que poderia existir: o de uma neta por sua avó e da avó pela neta. No livro Fita Verde no Cabelo, Guimarães Rosa reinventa a história e nos apresenta uma Chapeuzinho Vermelho sem capuz e sem juízo, que está descobrindo o mundo a sua volta, que opta pelos caminhos fáceis e esquece de suas obrigações. 
Fita Verde demora para chegar à casa da avó, vai brincando pelo caminho, sem pressa, menina, cheia de si, sempre com a fita no cabelo, a fita verde. Verde. Ao encontrar com a avó que a estava a esperar, a menina se dá conta de que perdeu sua fita e amadurece, vira moça, toma juízo ao perceber que perdera bem mais do que a fita. 
Fita Verde passa por um processo de metamorfose doloroso, mas na vida, a dor muitas vezes ensina que estamos aqui de passagem. 
 Com um quê de poesia e a sensibilidade para lidar com a partida de um dos seres mais importantes na vida de uma criança, Fita Verde no Cabelo, na leveza das palavras de Guimarães, é um convite à emoção, ao amadurecimento e a percepção das coisas realmente importantes e raras na vida. As imagens falam por si, os lobos representam os medos, nas sombras e uma única cor – o verde - vibra diante dos mistérios que o branco, o preto e o cinza apresentam. 

Jéssica Duarte de Oliveira é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Acredita que a literatura é uma porta de acesso à liberdade. 



Fita Verde
Gabrielly Pazetto 

Em uma nova e arriscada versão de Chapeuzinho Vermelho, João Guimarães Rosa se joga na descoberta da menina-mulher que precisa aprender a conviver com o luto e assim amadurece. 
Nesta versão nada inocente, o autor nos guia, com maestria, através da história da pequena Fita Verde que vai visitar a sua vovózinha (desta vez por um caminho longo e seguro). A menina encontra a avó fraca e debilitada, e o famoso diálogo da revelação do lobo-mau na tradicional história infantil, se transforma em um triste diálogo de despedida que nos faz pensar no luto, na vida, na morte. Sem saber, estamos vendo Fita Verde no final de um grande caminho de amadurecimento, deixando a sua pequena fitinha para trás. 
Guimarães Rosa escolhe as palavras certas ao montar o diálogo de Fita Verde com a sua vovó, deixando nas reticências um tom ainda mais sombrio e reflexivo. 
As ilustrações de Roger Mello, com um traço singular e com imagens carregadas de simbologia, nos presenteiam com uma carga emocional muito forte. Vale ressaltar aqui, a ilustração dos lenhadores com cabeça de lobo que encontram Fita Verde no caminho e a adição de cores pontuais ao longo da história. 

Gabrielly Pazetto é graduanda de Letras na Univille e técnica em Informática. Faz dos livros que lê barcos de viagens inesquecíveis. 



O tempo brinca com Chapeuzinho 
Nadia Lidiane Otto

Ao aprofundar a dimensão psicológica das personagens em Fita verde no cabelo, Guimarães Rosa ultrapassa o exercício da releitura do conto Chapeuzinho Vermelho. O escritor acaba por criar para a menina e sua avó outro universo onde viver, mais denso e repleto de palavras não ditas, a ponto de levar o leitor suavemente para longe do conto de origem. 
Uma das palavras não ditas, mas que surge por trás de certas escolhas que o escritor faz ao longo do texto, é tempo. O tempo parece estar junto às sombras de cada personagem, movendo-as e trocando seus papeis. Caso seguirmos por este caminho, poderemos imaginar que o tempo é um antagonista do conto. 
Na passagem “todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto”, a personagem flutua entre dois momentos temporais, naquele instante imensurável entre um segundo e outro, em estado de latência. É quando o desafio lhe é imposto. 
No bosque o tempo ilude os lenhadores fazendo-os acreditar que, assim como nas versões clássicas, conseguiram derrotar a morte, “pois os lenhadores tinham exterminado o lobo”. A única tarefa que lhes resta é tentar matar o próprio tempo. 
Se o tempo toma o lugar da morte na estória, a dinâmica entre o antagonista, a avó e Chapeuzinho muda. Quem devora a carne da avó? 
A avó que definha é a morte. Chapeuzinho é seu lobo, que precisa provar a morte, jogá-la de um lado para outro na boca a fim de sentir seu gosto. Daí poderá degluti-la, para ser assimilada. Assim a morte tornar-se-á natural novamente e Fita Verde poderá retornar ao caminho. 
Quando Fita verde no cabelo encerra, fica a impressão de que o escritor estava escrevendo o prólogo o tempo todo, apenas para encaminhar o leitor ao verdadeiro início, aquele que sobrevêm ao fim. 

Nadia Lidiane Otto é graduada em Letras (Língua Portuguesa) e em Comunicação Social (Cinema e Vídeo). Atua como agente de cultura no Museu de Arte de Joinville. Lê para conhecer a humanidade.



Ficha técnica: 
Obra: Fita verde no cabelo.
Autor: Guimarães Rosa
Ilustrador: Roger Mello
Editora: Nova Fronteira
Ano: 1992
Nesse ano, Ouro Preto foi a casa do 7º CBEU (Congresso Brasileiro de Extensão Universitária), com a temática "Inovação e emancipação: valores humanos, tecnológicos e ambientais". O Prolij teve a oportunidade de estar lá na semana passada, trocando experiências e criando novas vivências a partir do contato com a cidade, a universidade e os tantos projetos e programas (de tantos lugares no Brasil) que lá estiveram presentes!

O trabalho apresentado (um poster, exposto no dia 09 de setembro no Centro de Convenções da UFOP, Universidade Federal de Ouro Preto) trazia os dois grupos de estudo do programa: o grupo de leitura e discussão e o grupo de leitura e contação de histórias, ambos projetos estabelecidos nos últimos dois anos da nova coordenação do Prolij. As representantes desse e da Univille (Universidade da Região de Joinville) a viajarem a Ouro Preto foram as acadêmicas bolsistas do programa, Nicole de Medeiros Barcelos e Carolina Reichert (agora já não mais bolsista, uma vez que concluiu o curso de Letras no primeiro semestre de 2016), apresentadoras e autoras do poster junto às professoras Berenice e Alcione. Abaixo, é possível conferi-lo na íntegra!





Por Priscila Fernanda Ferreira
Curso de Letras - 2015/2016

Quando comecei a pensar em um projeto para meu trabalho de conclusão de curso, me perguntei várias vezes se eu conseguiria trazer um tema que pudesse mexer com os alunos que provocasse neles um aprofundamento, uma troca de percepções de visões diferentes de mundo, foi então que comecei a pensar na literatura indígena. Fui apresentada a essa literatura pela Professora Alcione Pauli nas aulas de intertextualidade e estudos literários, as possibilidades de discussões e infinitas análises que essa literatura propõe me chamou muito a atenção, e também porque a literatura indígena é muito rica em tudo, desde a própria escrita até as ilustrações. Tudo me fascinou e foi então que eu resolvi trabalhar com essa literatura em sala de aula no meu estágio. Todo o aprendizado durante as aulas de intertextualidade, todas as discussões, todas os contra pontos levantados durante a leitura de diversos livros despertou em mim a vontade de realizar esses contra pontos em sala de aula com alunos do ensino fundamental e do ensino médio. Trago aqui a justificativa do porquê resolvi trabalhar com a literatura indígena, tanto as observações das aulas e as aulas de intertextualidade colaboraram para a criação do meu projeto. As aulas foram tocantes, criativas, curiosas e para os alunos foi extremamente novo e eles receberam muito bem, conseguiram atingir os objetivos esperados e colaboraram do início ao fim. Estou muito feliz em poder levar a literatura indígena para a sala de aula e ser a prova viva de que ela é rica, ensino muito e traz aos alunos uma curiosidade e uma criticidade muito visível.
Quando falamos em literatura indígena, devemos iniciar introduzindo a história da cultura do índio. Os índios foram os primeiros a pisarem nas terras brasileiras e com toda a sua cultura estabeleceram uma grande intimidade com a natureza, utilizando dela, para sobrevivência e desenvolvimento. Um dos grandes autores da literatura indígena Daniel Munduruku ressalta:

O papel da literatura indígena é, portanto, ser portadora da boa notícia do (re)encontro. Ela não destrói a memória na medida em que a reforça, e acrescenta ao repertorio tradicional outros acontecimentos e fatos que atualizam o pensar ancestral”. (Literatura indígena e o tênue fio entre escrita e oralidade, 2008).

A literatura indígena é um conjunto de gêneros que trazem em suas linhas diferentes relatos sobre a origem do mundo, cerimônias, histórias de animais, narrativas sobre fatos gerais da vida, contos, poemas e etc. Podemos visualizar nessa literatura uma escrita mais particular de narrativas tradicionais coletivas, passando por trabalhos que dirigem-se à recriação de elementos da tradição oral (personagens, cenários, símbolos) até a criação individual.
Depois de nos presentearem com suas músicas, artes e habilidades eles também propõe uma leitura de vida muito interessante. A literatura acompanha a existência humana há muito tempo, nós vivemos em um mundo que modifica-se frequentemente, e com isso, proporciona raízes diferentes a cada modificação. Por isso sempre conseguimos estabelecer histórias novas a serem contadas e, dessa forma, a literatura vai recebendo e criando novas raízes. A literatura indígena começou a ser introduzida há pouco tempo, ou seja, essa temática é recente e pouco trabalhada, ainda precisa ser olhada com outros olhos pelas instituições e docentes. Segundo Daniel Munduruku:  

A memória é, pois, ao mesmo tempo passado e presente que se encontram para atualizar os repertórios e encontrar novos sentidos que se perpetuarão em novos rituais que abrigarão elementos novos num circular movimento repetido à exaustão ao longo de sua história. (Literatura indígena e o tênue fio entre escrita e oralidade, 2008)
  
Ainda com Daniel Munduruku:


Pensar a Literatura Indígena é pensar no movimento que a memória faz para apreender as possibilidades de mover-se num tempo que a nega e que nega os povos que a afirmam. A escrita indígena é a afirmação da oralidade. (Literatura indígena e o tênue fio entre escrita e oralidade, 2008).

Um dos motivos da falta de interesse para com o trabalho da cultura indígena é o não entendimento de como uma literatura de tradição oral pode estar sendo trazida a nós de forma escrita. Os indígenas aprenderam há muito tempo a se comunicar através da língua portuguesa e com isso passaram a conseguir expressar seus ensinamentos através da escrita. Isso proporcionou ao índio a disseminação de suas riquezas, de suas culturas e seus ensinamentos, proporcionando assim, a possibilidade da sociedade compreender seu modo de vida. Outro ponto importante a ser observado é com relação ao que o índio apropria-se para escrever suas histórias. Podemos ter plena certeza que é por conta de seus mitos, que são vivenciados pelas nações indígenas e passados de geração para geração, promovendo assim um ensinamento para ser seguido e repassado um ao outro. O foco principal do mito é o relato fantástico de tradição oral, geralmente protagonizado por seres que encarnam as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana.
A literatura indígena é muito rica e precisa ser vivida dentro da sala de aula por isso esta proposta de ensino se constituiu após a percepção acerca dos interesses dos alunos quando se fala em literatura indígena. Foi observado o quanto esta literatura é pouco trabalhada em sala de aula e o quanto ela desperta interesse nos alunos. Como a escola precisa seguir um currículo com competências a serem alcançadas pelos alunos, os temas étnicos – raciais e culturais pouco aparecem nas aulas de língua portuguesa. Ler textos que falem de culturas diferentes, mesmo pouco valorizadas, pode colaborar para a formação de leitores.
Os alunos mostram repulsa quando se fala em aula de literatura, e que somente é necessário que o aluno escolha uma obra, leia e realize resumos e apresentações simplórias para os colegas de classe. No ensino médio, desde o primeiro ano até o terceiro ano, os alunos trabalham com literatura direcionada ao vestibular, não mergulham em outras leituras, somente as que precisam ser revisitadas. Isso promove uma deficiência que impede o conhecimento mais amplo que a literatura pode oferecer aos alunos. A leitura de textos literários pode facilitar no momento de desenvolvimento de raciocínio e criticidade dos alunos, eles conseguem estabelecer uma relação com o cotidiano, a vivência de cada um e tudo que gira em torno de sua existência.
A falta de incentivação à leitura também cria um baixo interesse em relação a escrita, causando dificuldades ao invés de compreensão. A leitura mecanizada e a escrita direcionada impossibilitam a manifestação de ideias e de opiniões dos alunos. A literatura possibilita o enriquecimento de conhecimento do aluno e do professor. Segundo Alcione Pauli (2015, p. 19):

A literatura indígena como movimento literário é recente. Ao trazer a arte de como o indígena entende a vida, ele reconstrói na escrita sua relação com o mundo, a qual sempre esteve registrada na oralidade em seus mitos e seus ritos.
  
Portanto, precisamos recriar e organizar as prioridades e trazer sim a literatura indígena para a sala de aula, pois muitas vezes as escolas esquecem de oferecer aos alunos uma leitura sensível e adoçada, prendem-se somente a aquilo que precisa ser alcançado e esquecem de trazer novas cores nas vidas dos alunos. Quanto mais a gama de cores aumenta, mais o arco– íris fica evidente.




Referências Bibliográficas
  
MUNDURUKU, Daniel. Literatura indígena e o tênue fio entre escrita e oralidade. Disponível em .
CAGNETI, Sueli; PAULI, Alcione. Trilhas Literárias Indígenas Para Sala de aula. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
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