Por Luciane Piai

            Ocanrã, Ejiocô, Etaogundá, Irossum, Oxé, Obará, Odi, Ejiobê, Ossá, Ofum, Ouorim, Ejilá-Xeborá, Ejiologbom, Icá, Oturá e Oturopom são os dezesseis odus, chamados de príncipes do destino; eles fazem parte da mitologia dos iorubás.  Sabe qual é a missão deles? Bem, vou contar só um pouquinho... Eles têm o ofício de colecionar e contar histórias; cada odu é responsável por um assunto específico. Esse povo acredita que tudo na vida se repete: o que acontece e acontecerá na vida de alguém já aconteceu no passado para outra pessoa. As crianças iorubas, quando nascem, ficam sob a proteção de um dos dezesseis príncipes do destino, o seu odu, o padrinho de seu destino.  Agora, fiquei pensando... Eu não tenho um odu, gostaria de tê-lo. Privilégio dos iorubás !!! O povo fazia oferendas e rezas a eles a fim de receber favores, proteção e orientação. Cada um tinha que cuidar de seu destino e seguir a tradição. Como os príncipes do destino não vinham mais à Terra dos homens, os adivinhos iorubás, através do jogo dos búzios, com os dezesseis príncipes de Ifá, eram consultados para orientar a vida dos seres humanos.
Voltando à história... Os dezesseis príncipes trabalhavam para Ifá, o deus, o orixá do destino, o mestre do acontecer da vida. Certo dia Ifá desejou conhecer as histórias de cada odu, para saber o que aconteceria na terra. Então convidou todos em sua casa no Orum, o céu dos deuses iorubás, para uma reunião. Alguém faltou? Pense... E assim na primeira reunião Ifá determinou que todos deveriam vir juntos à sua casa a cada dezesseis dias para contar as histórias acontecidas; isso iria completar ao todo dezesseis reuniões. Imagine ao final de todas as reuniões: foram trezentas e uma histórias contadas sobre a vida dos homens e mulheres. Calma, não se assuste! Nesse livro são apenas dezesseis, pois “Ifá” escolheu apenas uma história de cada reunião para ser narrada. Ah, já estava esquecendo: no final de cada reunião era servido um delicioso banquete para todos os príncipes. Que tal provarmos também?!
                                                                     
FICHA TÉCNICA:

Obra: Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira
Autor: Reginaldo Prandi
Ilustrador: Paulo Monteiro
Editora: Cosac Naify

Ano: 2001

Por Maria Lúcia Costa Rodrigues

Algumas pessoas nascem para ver o belo nas coisas mais insignificantes. Nem as adversidades da vida as fazem perder esse olhar sensível, ainda bem, caso contrário não teríamos Manoel de Barros ou o Gabriel, nosso personagem da vida real imortalizado em sua obra e por Chistina Dias no livro Instruções para construir uma flor. Por meio de uma escritura poética, a obra traz até nós a história desse negro, filho de escravos alforriados que construiu sua singular casa com rejeitos dos outros.
                Dos afagos de Gabriel o que era caco renasceu, o que era toco floresceu. Sua casa e seu jardim se transformavam numa bricolagem de rejeitos: cacos de tijolos, pedregulhos, retalhos de azulejo, ladrilhos, vidros, tudo eram formas cheias de possibilidades aos olhos de Gabriel.
                No livro de Dias, a história de descobertas do personagem ao construir a casa flor a partir do nada é narrada pelo próprio protagonista. A personalidade sensível e rústica de Gabriel ganha vida nas aquarelas da ilustradora Semiramis Paterno.  É assim que o leitor pode conhecer um pouco desse ser encantador, que faz parte da história da arquitetura espontânea brasileira. Mas somente os mais curiosos e sensíveis saberão seguir as instruções à risca para construir uma flor.

FICHA TÉCNICA

Obra: Instruções para construir uma flor
Autora: Christina Dias
Ilustradora: Semiramis Paterno
Editora: Cortez

Por Maria Lúcia Costa Rodrigues

Por que pedras encantam tanto as crianças? Será que é porque ninguém as quer, ou porque sua inércia guarda segredos do tempo?
Essa tendência para empecilho talvez só Drummond possa explicar, porque se depender das crianças e do dicionário manuelês, a utilidade de uma pedra não terá importância nenhuma, mas sua irrelevância sim,  é ali que estão esquecidas a grandeza do nada que poetas e crianças conhecem tão bem.
E para conhecermos essa grandeza do nada Prisca Agustoni e André Neves nos apresentam Abauye, um menino africano que adorava colecionar pedras. As carências de sua vivência eram afagadas pelas pedras e pelas palavras, de preferência aquelas mais primorosas e caras como joias. Estas ele sabia muito bem usar, aprendeu com as mulheres de sua aldeia.
Para poder colecionar pedras Abauye parte numa jornada pelas estradas de seu país africano. Na aventura vivida por Abauye, ele não encontra só pedras, encontra também a triste Noémia, que não vê encanto nas pedras do menino.
Nessa história, André Neves com seu traço singular completa o texto de Prisca Agustoni com muita graça para mostrar que o desafio imposto por Abauye, para trazer aos lábios da jovem Noémia um sorriso, vem revelar ao leitor a magia das palavras que transformam realidades.

FICHA TÉCNICA:

Obra: O colecionador de pedras
Autor: Prisca Agustoni
Ilustrador: André Neves
Editora: Paulinas
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