Lara Cristina Victor 
Nesta obra encantadora, o poeta Antonio Barreto e o ilustrador Diogo Droschi, passeiam em uma viagem poética na construção do novo de uma forma singular e bela. Os poemas se apresentam de maneira descontraída e os mesmos aparecem em um formato a fazer o leitor transitar livremente pelos versos e navegar por caminhos infinitos e misteriosos. Além de brincar com a palavras, ressoando novos sentidos aquilo até então concreto.

Este livro surge a partir de uma experiência única para o autor, envolvendo luzes coloridas, ovnis, naves, grilos e vagalumes. Assim sendo, os poemas são apresentados criativamente a partir dessa temática que é ressignificada por Antonio, como mostra nos poemas “Grilume”, “Vagalovnis”, “Surrealesma”, “Nave-mãe”, entre outros. Assim como destaca Bartolomeu Campos de Queirós, “Sua capacidade em tomar das palavras o muito além delas surpreende e encanta”.




Assim como Vagalovnis, há tantas outras obras poéticas e sensíveis que permeiam o acervo do Prolij, disponíveis para possibilitar tantos outros encantamentos.

Lara Cristina Victor é aluna do curso de Psicologia na Univille. Atua como bolsista no Prolij e vê em cada criança um pouquinho de si mesma.

Isabela Giacomini 
Nesse livro, Munduruku reconta fábulas populares do repertório indígena, que foram narradas através dos tempos e afirma que o importante é o ensinamento que deixaram para seus descendentes, em suas palavras: “Essa tem sido a silenciosa contribuição que os povos indígenas têm dado para tornar nossa terra mais bonita, sadia e equilibrada” e que, portanto, os leitores devem agradecer pela sabedoria de seus antepassados. A obra é dividida em três fábulas: O jabuti e a raposa, O jabuti e o veado-cantingueiro e O jabuti e a onça, que serão resenhadas a seguir:

A primeira delas fala de um pajé que reuniu o povo de sua aldeia em volta da fogueira para lhes cantar uma música dos ancestrais, para rezar aos espíritos e para contar-lhes uma história. O pajé fala ainda para seu povo que os índios correm riscos hoje em dia, pois estão em contato com os homens brancos que acham sua cultura superior e que, para provar o contrário, que nem sempre aquele que se vê como melhor é necessariamente o mais esperto, começa a história sobre a raposa e o jabuti. A raposa, querendo bancar a esperta, fez um desafio com o jabuti para testarem a coragem. O desafio era que o jabuti ficasse enterrado em um buraco, coberto por terra, durante três anos e depois seria a vez da raposa. Torcendo pela morte do pobre animal, a raposa passava pelo buraco e chamava o jabuti para ver se ainda vivia. Para seu descontentamento, todas as vezes o jabuti respondia e lhe perguntava se o tempo estava logo no fim. E assim, em sua ancestral paciência, o jabuti ficou ali durante os três anos. Agora era a vez da raposa e o jabuti a enterrou, fazendo com que os outros animais a observassem. O que será que aconteceu com ela? Durou por três anos embaixo da terá? Será que ela é mesmo a mais esperta? Talvez teria sido melhor não escolher logo um jabuti para fazer seu desafio!

Em “O jabuti e o veado-catingueiro”, o pajé se reúne com as crianças perto da fogueira e pede para que se deitem no chão, olhando para o céu, mesmo sem luar, mas explicando-lhes que as estrelas eram crianças que estavam lá no alto cuidando das que estavam aqui na terra. Depois, voltaram a se sentar para ouvir a história do pajé, mais uma vez sobre um jabuti, que dessa vez era desdenhado por um veado-catingueiro, que se achava melhor pela sua agilidade na locomoção. O pobre jabuti sempre ouvia deboches, sobre nunca sair do lugar, sobre não conseguir conhecer o mundo por conta de sua lentidão. Contudo, muito esperto, o jabuti disse que tinha ido até o outro lado da terra e voltado em uma semana e que era o veado que tinha chegado depois. O veado desafiou-se então a fazer o mesmo percurso em dois dias, mas o jabuti disse que em tempo menor que o dele era impossível, pois ter pernas compridas não era o suficiente, precisava de rapidez no pensamento, já que algumas distâncias podem ser vencidas com ele. Decidiram então marcar uma corrida para o dia seguinte, em que se reuniram outros animais esperando pela vitória do veado. Mal sabiam que o jabuti tinha combinado com seus irmãos para que se espalhassem ao longo do percurso para irem se revezando e assim ganharem a corrida. O jabuti sabia que aquilo não era completamente correto, mas sabia também que o tal do veado-catingueiro não tinha o direito de lhe excluir e caçoar. E assim foi, o veado aprendeu a duras penas que precisava conviver com as diferenças e que muitas vezes a inteligência e astúcia eram mais necessárias que a ligeireza.


Em “O jabuti e a onça” o pajé inicia falando às crianças sobre a importância das histórias e de fazê-las manterem-se vivas, pois dão continuidade aos povos. Um dos pequenos perguntou-lhe como colocar todas as coisas bonitas que dizia em prática. E, para isso, o sábio lhes contou uma história. Uma onça muito faminta estava atrás de comida por muito tempo, mas sempre tinha insucesso. Todo cheiro que sentia era uma esperança ou apenas uma elaboração de sua mente faminta. Um dia, porém, ouviu um som de uma flauta com uma música parecida com “Do osso da onça fiz minha flauta”. Atônita, a onça foi atrás da vozinha e se deparou com um jabuti tocando flauta. Muito esperto, o jabuti disse que a onça estava ouvindo mal de longe e que na verdade cantava: “do osso do veado fiz a minha flauta”. O jabuti decidiu então se afastar bastante, ficando perto de sua toca e cantar mais uma vez para comprovar a má audição da onça. E, novamente, cantou a primeira versão. A onça enfurecida correu para pegar o jabuti, mas ele se escapou para a toca. Sorte dela que conseguiu agarrar sua perninha, mas ainda mais esperto, o jabuti disse que aquilo era a raiz de uma árvore e não sua perna. Naquele dia a onça levou uma bela lição, e mesmo assim não desistiu e ficou ali, na porta da toca, esperando pela saída do jabuti. Ainda bem que ele podia ficar tranquilo, sem pressa, dentro de seu casco, enquanto ela ficava pintada de raiva e de fome!

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.

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