Leitura de trechos para Luisa Antunes Marinho

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Cleber e Rodrigo, apresentando, em bom português, a Professora Doutora Luisa Antunes Marinho.


“Da mais alta janela da minha casa 

Com um lenço branco digo adeus 

Aos meus versos que partem para a Humanidade.



E não estou alegre nem triste. 
Esse é o destino dos versos. 
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos 
Porque não posso fazer o contrário 
Como a flor não pode esconder a cor, 
Nem o rio esconder que corre, 
Nem a árvore esconder que dá fruto.


Ei-los que vão já longe como que na diligência 

E eu sem querer sinto pena 
Como uma dor no corpo.


Quem sabe quem os terá? 

Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos. 

Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas. 
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim. 

Submeto-me e sinto-me quase alegre, 

Quase alegre como quem se cansa de estar triste.


Ide, ide de mim! 

Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza. 
Murcha a flor e o seu pó dura sempre. 
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo”.

(Alberto Caeiro. pp. 96-7)
(PESSOA, Fernando. Poesias. Org. Sueli Tomazini Cassal. – Porto Alegre: L&PM, 2006)


“Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho”

(Alberto Caeiro, p. 32)
(PESSOA, Fernando. Poemas completos de Alberto Caeiro. São Paulo: Martin Claret, 2006). 

"Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para te dizer!
São talhados em mármore de Páros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Tem dolências de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos para te endoidecer!

Leste os meus versos? Leste? E adivinhastes
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era o teu olhar que os inspirou?"

(Florbela Espanca, Antologia de poemas para a juventude).




“(...), porque as palavras, se o não sabe, movem-se muito, mudam de um dia para o outro, são instáveis como sombras, sombras elas mesmas, que tanto estão como deixaram de estar, bolas de sabão, conchas de que mal se sente a respiração, troncos cortados”.
(SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p.112).
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Trechos de livros de autores portugueses - Fernando Pessoa, Florbela Espanca e José Saramago - lidos por alguns prolijianos antes da convidada da noite iniciar sua palestra, "Re-escrever o índio: o contributo alencariano em confronto com a imagem do indígena nos romances portugueses de temática tropical".


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Um comentário:

Aninha Kita disse...

Lindas apresentações poéticas antes da portuguesa, ou não (haha, "um bocadinho cá de Joinville") segundo a própria Luisa.

Cleber e Rodrigo arrasaram no sotaque português! O público, como eu, aplaudiam não só a doutora que subia ao palco como a performance de apresentação deslumbrante.

Parabéns, novamente.
Ana

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