Mania de Explicação

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3 Comments
é quando você se deixa levar pelas páginas de um livro


¹Marina Fiamoncini



Geralmente as crianças gostam de perguntar o porquê das coisas, mas a personagem de Mania de Explicação (Salamandra, 2001), de Adriana Falcão, utiliza sua inocência e imaginação para explicar o significado das palavras a sua maneira. A autora é teatróloga e roteirista de programas de comédia da TV Globo como A Grande Família (2001) e O Auto da Compadecida (1999).
Quem poderia imaginar que a experiência de Adriana Falcão com humor para adultos pudesse contribuir para a publicação do seu primeiro livro infantil? Aliás, nesse caso, esse gênero se perde no senso comum de que é um tipo de livro só para crianças. A obra prova que não é preciso um estudo pedagógico para escrever para os pequenos. Aliás, a narrativa é adulta o bastante para fazer os mais grandinhos refletirem também.
Mais do que um dicionário poético, há no livro um sentido aberto para cada uma das frases apresentadas, que depende da visão de cada um. Ansiedade, Raiva, Culpa, Perdão, Vontade, Tristeza... Coisas simples, que todo mundo já conhece (mas que muitas vezes são difíceis de concretizá-las em uma frase) escapam da explicação formal, rígida e superficial, deixando de ser sentimentos abstratos para se tornarem poesia. Afinal, como se poderia explicar para um ser tão descompromissado com o mundo adulto o que são essas palavras, senão induzindo à imaginação?
Com a pureza da infância a menina explica, por exemplo, que “preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento”, de uma forma tão profunda, como só uma criança é capaz de enxergar.
Justamente porque não se pode limitar a imaginação de quem lê, essa liberdade de pensamento faz com que as explicações da personagem causem melhor resultado se foram sentidas ou criadas pela mente, do que realmente explicadas com todas as letras do alfabeto.
As 45 páginas foram ilustradas por Mariana Massarani, mas podem ser confundidas com telas pintadas a mão com a tinta ainda fresca. Essa naturalidade nos traços é uma característica da desenhista e, além disso, as figuras não seguem a risca o que é indicado no texto, deixando a interpretação de quem ler ir além do óbvio.
Essa união de imagem e texto envolvente é um convite para esquecer os conceitos pré-definidos dos sentimentos do mundo e se deixar levar pela leveza que foi esquecida ainda na infância. Porém, uma das palavras se destaca das demais por sua complexidade: o amor.
Só para este sentimento há inúmeras alternativas de explicação e a menina da Adriana Falcão deixa esta dúvida tão difícil para o final, justamente porque é preciso passar por tantas outras frustrações e sofrimentos antes de entendê-lo.


FALCÃO, Adriana. Mania de explicação. São Paulo: Salamandra, 2001.

¹ Marina Fiamoncini é jornalista e contadora de histórias do Grupo ContArte




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3 comentários:

ítalo puccini disse...

a epígrafe é linda!

e o texto ficou ótimo também.

Unknown disse...

que legal!!
só uma coisa: é Adriana Falcão o nome da autora!

Anônimo disse...

N recomendo que os pais deixem os seus filhos terem acesso a esse livro e recomendo que as bibliotecas das escolas retirem esse material!

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