Emília, Emília, Emília, por Emiliana

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Ela nem era bonita, veio de um pedaço de feltro velho e ao costurá-la errei as medidas, deixando a pequenina toda torta. Mamãe me ajudou a confeccioná-la, disse ao ver a cabeça: “Está desproporcional ao corpo!” e precisei degolar a pobre e construir uma nova cabeça. Seu enchimento foi retirado de uma almofada velha da vovó, possuía uns remendos, mas era agradável de olhar.



Seu nome era Emília, mas não é por acaso, é quase que herdado. Vovó se chama Emília, eu Emiliana e a minha querida boneca recebeu o nome em homenagem à matriarca da família.



No início não trocávamos uma só palavra, deixei-a de enfeite em minha cama. Em uma tarde, enquanto navegava na internet, encontrei um novo método, o tal consistia em inserir um chip em objetos mudos por natureza para que os mesmos desatassem a falar e pensei: “Ora! Por que não?” Encomendei-o sem pensar duas vezes. Com a ajuda de agulha e tesoura, inseri o pequeno chip na cabeça da bonequinha de pano; no momento não surtiu efeitos, porém, passadas algumas horas, a tal desembestou-se a falar e nada a continha. Eu fechei sua boca, mas ainda era possível ouvir sussurros. A “danada” me repreendeu por demorar tanto para lhe liberar o dom da fala e disse não me perdoar se voltasse a lhe conter.



Deste dia em diante a mocinha não parou mais. Me acompanha aonde vou, sempre tagarelando e falando suas “asneirices”, procurando mudar o mundo com suas pequenas mãos de retalhos velhos e observando o tempo todo com aqueles olhos de botões o que nós, com olhos humanos, não podemos ver.


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