Cada vez mais presentes nas famílias, escolas e centros de educação infantil os Contos de Fadas ganham diferentes significados em tempos pós-modernos. Numa época em que predominam tantas produções literárias, teatrais e cinematográficas com versões modernas, qual o sentido de ainda circularem as primeiras versões escritas? Quais motivos levam muitos pais e educadores a ler ou contar tais histórias? Onde buscar as fontes mais próximas dos originais?

Um dos aspectos essenciais na discussão deste universo dos contos maravilhosos, diz respeito à qualidade das traduções em nosso país. Textos condensados, recortados, mal-traduzidos, recontados de forma simplista, sem citação da autoria, das ilustrações, enfim, produzidos muitas vezes no anonimato e por editoras não cadastradas oficialmente dificultam a leitura e o conhecimento desses clássicos.

Importante ressaltar que muitas das produções para a infância contemporânea, nada mais são do que novas versões, diálogos e/ou revisitamentos desses textos e que o resgate de tais narrativas auxiliam na promoção de uma leitura mais crítica e sensível dos novos tempos.

Para quem gosta de procurar na fonte, vale a indicação da coletânea Contos de Fadas, de Maria Tatar, Jorge Zahar Editora, que magistralmente compilou os principais contos de Perrault, Grimm, Andersen e outros essenciais para a gênese da nossa literatura infantil. O livro traz 29 contos traduzidos e comentados, uma pequena biografia dos autores e cerca de trezentas ilustrações, algumas raras, dos principais artistas que registraram ao longo dos séculos essas histórias.

Por Cleber Fabiano da Silva.
Pesquisador voluntário do PROLIJ - UNIVILLE

FICHA TÉCNICA

CONTOS DE FADAS
Autora: Maria Tatar
Tradutora: Maria Luiza Borges
Título original: The annotated Classic Fairy Tales
Editora: Jorge Zahar Editor
Cidade: São Paulo/SP
Ano: 2004

Um lobo que não come a Chapeuzinho, não ataca os sete cabritinhos, nem destrói a casa de algum porquinho ou aparece em fábulas de todos os tempos. Um lobo diferente, mas que nem por isso perde sua função mítica ou deixa de realizar ritos de passagem. Finalmente, um lobo original.
“O menino monta nas costas do lobo e os dois desaparecem pelo campo”. Durante a noite, o lobo volta e leva Lília agarrada ao seu pelo macio. “O lobo pisca os olhos amarelos e estica o corpo num espreguiçar comprido”.
Um pai contador de histórias, que recita versos, cantarola músicas antigas dos pampas. Um menino e uma menina com algumas particularidades em comum: deslizes pela casa só de meias, o tal do lobo e uma história por acabar... Uma história interrompida! 
O livro que está dentro do livro cheio de vida. A vida que está dentro do sonho. O sonho que mistura a vida e o livro. Assim é a história O Lobo de Graziela Bozano Hetzel, com ilustrações de Elizabeth Teixeira, da editora Manati. Singular, poético, essencial...
Em tempo: a obra recebeu da FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – o prêmio de o melhor para a criança em 2010.


Por Cleber Fabiano da Silva.
Pesquisador voluntário do PROLIJ - UNIVILLE



FICHA TÉCNICA

O LOBO
Autora: Graziela Bozano Hetzel
Ilustrações: Elizabeth Teixeira
Editora: Manati
Ano: 2009
O grupo do Prolij marcou presença na 2a Viradinha Cultural, que aconteceu no dia 11 de setembro de 2010, na Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior. Um encontro cultural que visa à socialização de atividades artísticas e culturais - Artes Visuais, Literatura, Dança e Teatro - de grupos e pessoas da comunidade de Joinville e região.

O Prolij apresentou narrativas visuais e a contação de história de alguns contos populares. Acompanhem as fotos abaixo:

Prolijiano Cleber Fabiano da Silva contando a história
"Cara de um, focinho de outro", de Guto Lins.

Prolijiano Cleber Fabiano da Silva contando a história
"O velho, o menino e o burro", de Ruth Rocha.

Imagem da narrativa visual
"Crash", de Caco Galhardo.

Prolijiana Alcione Pauli contando alguns
Poemas do escritor José Paulo Paes.

Prolijiana Alcione Pauli contando a história
"Cadê", de Guto Lins.


O Blog do Prolij apresenta aos seus leitores novos marcadores para melhor orientar a procura por leituras de textos específicos produzidos pelos Prolijianos.

Temos agora, além do já conhecido marcador "Resenhas", com resenhas de livros discutidos pelo grupo, os marcadores "Poemas", "Contos" e "Ensaios" (com texto do Prolijiano Cleber Fabiano da Silva explicando a proposta). Novas aberturas de escritas e de leituras. Possibilidades de escrita de outros gêneros. 

Inclusive, nos marcadores estão também os nomes dos Prolijianos, o que permite aos nossos leitores uma leitura completa dos textos produzidos por cada um. 

São caminhos que se abrem. Por escritas. Por leituras.
O PROLIJ – Programa Institucional de Literatura Infantil e Juvenil da Univille – Universidade de Joinville – por sua natureza de programa universitário ligado ao ensino, à pesquisa e à extensão apresenta, para a comunidade em geral, apresenta sessões mensais de pequenos ensaios que serão veiculados no Blog do Prolij. Mas por que ensaios prolijianos?
Ao longo dos tempos, críticos e estudiosos têm buscado conceitos e formas para pensar o fenômeno chamado ensaio. No Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa (2005) temos por definição principal: “ação ou efeito de testar (algo) ou de agir, sem que se tenha certeza do resultado final; primeira tentativa, experiência”. Para Massaud Moisés, em seu Dicionário de Termos Literários (2004, p, 177) “o ensaísta não busca provar ou justificar suas ideias, nem se preocupa com lastreá-las eruditivamente, nem, menos ainda, esgotar o tema escolhido.” Sendo assim, aproveitamo-nos do privilégio de poder dividir de modo breve, mas profundo, muitos dos resultados de nossas pesquisas inspirados e balizados nos doze anos de experiências e estudos da literatura para crianças e jovens.
Outro aspecto bastante interessante e que também nos serve de argumentação diz respeito à natureza secular do gênero, embora sem as tentativas de conceituação e definição que atualmente lhe emprestam os verbetes enciclopédicos e de dicionário. Vale lembrar que textos de grande relevância mundial possuem as características que estamos levantando, como por exemplo, a Poética de Aristóteles, os Diálogos de Platão e, naturalmente, os Ensaios de Montaigne. Esse último considerado pela crítica literária como o criador do ensaio.
Nesse sentido, pela subjetividade, plurissignificação e possibilidades que constituem o fenômeno literário, achamos por bem ensaiar nossas descobertas e fazer as ideias prolijianas circularem entre todos os interessados na promoção da literatura infantil e juvenil, bem como, possibilitar aos que queiram publicar os seus ensaios em nosso blog.


Cleber Fabiano da Silva
Pesquisador voluntário do PROLIJ - UNIVILLE
           
O conceito de leitura vincula-se diretamente ao fato de atribuir sentido. Em seu campo semântico mais primordial leggere, em latim, estava relacionado à ideia de colher; armazenar. Desse modo, pode-se dizer que o livro Sábado na Livraria é uma verdadeira celebração, a grande festa da colheita.
A criança-narradora-personagem, freqüentadora assídua da livraria, encontra num velho-leitor-personagem vasto material para pensar, refletir, contrapor, construir, desconstruir, levantar hipóteses, enfim, realizar uma bela “leitura” do que o constitui, seu contexto, suas características, sua morfologia e sua humana condição. Depois de muito observá-lo, ela pensa: “por que ele lê esse tipo de livro? Que prazer pode tirar disso?” e conclui: “Eu, com meus quadrinhos, me divirto bastante. Pelo menos dou risada”.
Um encontro marcante entre dois destinos, descritos de modo muito poético e sensível pela suíça Sylvie Neeman, estreante na literatura infantil. Com tradução de Cássia Silveira que atualiza o texto para o contexto brasileiro, uma vez que no título original a narrativa ocorre às quartas-feiras (dia livre semanal das crianças francesas) transpondo-o para sábado. A obra publicada em 2010 pela Cosac Naify traz ainda as ilustrações de Olivier Tallec que sinalizam com cores e formas muito significativas esses dois universos.


Por Cleber Fabiano da Silva.
Pesquisador voluntário do PROLIJ - UNIVILLE


FICHA TÉCNICA
Sábado na livraria
Título original: Mercredi à la librairie
Autora: Sylvie Neeman
Tradução: Cássia Silveira
Ilustrações: Olivier Tallec
Editora: Cosac Naify
Ano: 2010
“[...] E quando eu tiver saído

Para fora do teu círculo

Tempo tempo tempo tempo

Não serei nem terás sido

Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito

Ser possível reunirmo-nos

Tempo tempo tempo tempo

Num outro nível de vínculo

Tempo tempo tempo tempo [...]”*

Rafaela Casemiro **


A leitura de Clara Manhã de Quinta Feira à Noite, de Don Wood e Audrey Wood nos faz ir além de cada palavra que se segue: a passagem acontece de um nível de consciência a outro. Essa referência já é dada desde a capa e a quarta capa, através da simbologia do ovo e do cemitério, que indicam início e fim: nascer e morrer.

A história possui uma temporalidade bastante marcada em todos os elementos compositores do livro. É isso que vai significar os rituais humanos apresentados seqüencialmente. A diacronia, portanto, não é um adjunto na história, mas é o que norteia toda a relação semântica a ser percebida, pois provoca passagens.

A alusão temporal, na obra, acontece com o intuito de manipulação da vida e de valores. Essa intromissão natural em contrapartida com a liberdade humana provoca um conflito relacionado ao sentido e à forma de viver. Esse contato de forças poderosas e opostas é percebido pelo leitor através das ilustrações desorganizadas, cheias de elementos misturados e dispostos pelo jogo de cores, que insinua a mescla e a sobreposição. O próprio texto carrega essas mesmas características sob os recursos lingüísticos, como as antíteses e a construção de uma história sem coesão ou coerência em sua estrutura superficial.

A concepção que essas imagens retratam é a de que a vida, afinal, é cheia de paradoxos e incoerências. O fechamento da história acontece com uma última passagem que se confunde entre a vida e a morte: “acordei e sonhei que tinha morrido”. De repente, a gente percebe algo em nós que não estava certo; damos-nos conta de que estávamos vivendo como “mortos que se esqueceram de deitar***” , e, com isso, sofremos uma espécie de renascimento: quando morremos ainda em vida para certas coisas, quando nos esvaziamos para podermos nos encher, afinal, não há como colocar água fresca num copo que já está cheio. Essa morte, esse esvaziamento é necessário e sempre pressupõe algo novo.

Muitas passagens menores são abordadas durante a obra, como festas, celebrações e divisões, mas todas estão entre duas maiores – vida e morte – e, essas principais são sempre solitárias e não dependem da gente. Nós temos o domínio sobre nossa história enquanto estivermos dentro dela, mas o seu início já aconteceu determinantemente e o seu final já a espera na contracapa inevitável do livro.

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* Trecho da música “Oração ao Tempo” – Caetano Veloso
**Estudante do 2º ano de Letras, na Univille – Universidade da Região de Joinville
***Trecho da música “Saudade” – Nelsinho Correia

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