Impressões de Emília

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            Quem diria que de retalhos de tecidos poderia surgir a boneca mais esperta da face da terra! Mais esperta até que muitas pessoas... E essa era uma das grandes espertezas de Monteiro Lobato... Mostrar como alguém que nasceu completamente vazia, de retalhos de uma saia velha de tia Nastácia, pudesse ser conhecida e admirada em todo mundo. E não só ela, mas toda a turma do Sítio do Picapau Amarelo. E mesmo depois de tanto tempo desde a sua criação, ainda o são até hoje!

Marcele Kirschbauer

            Imitar Emília é bem mais difícil que parece. É incrível como um ser feito de pano consegue ser mais perspicaz que os humanos feitos de (obviamente) carne e osso. É tão fácil para ela conseguir um cientista de escritor (mesmo contra a vontade dele), bolar artimanhas mirabolantes, derrotar a força de Popeye com sua esperteza, alterar o formato do mundo... 

Guilherme Henrique Costa Santos

            Emília nasceu do desejo de Narizinho pelas mãos de tia Nastácia, sendo vista primeiramente como objeto, porém sempre amada, bem quista e cuidada como uma criança de verdade. Algum tempo após sua fabricação, tornou-se uma boneca nada comum, aliás, no decorrer de sua trajetória passou por um processo de humanização, deixando de lado a figura de boneca e assumindo o papel de menina humana.
            Emília nunca se preocupou muito em ser graciosa, gentil ou delicada como as outras meninas de sua geração, aliás, podemos classificá-la como verdadeiro moleque; mas isso não deixou nossa boneca menos encantadora, em verdade, a pequena Emília, acredito, preocupou-se mais em persuadir do que encantar; a pequena nos envolveu, porém não foi por doces gestos ou belezas mas por sua boa conversa.

Jéssica Moura

            Quebrando com os preconceitos da época, Monteiro Lobato, criador de Emília, consegue ir além de seu tempo desde quando coloca a frente do sítio do Picapau Amarelo uma mulher, dona Benta, para comandar um ambiente que até então não era comum ser liderado pelo sexo dito “frágil”. Emília vem acompanhando o mesmo ambiente de renovação, e de uma forma (nem um pouco) sutil faz-se opinante em todas as situações e conflitos existentes no sítio e convivendo por lá com ares de anfitriã.
            Seria uma boneca, apenas uma boneca, mas ela foi mais, viajou para os quatro cantos do planeta, encolheu e encompridou os seres humanos, fez abóboras crescerem em jabuticabeiras e quando a literatura ainda fantasiava “romances perfeitos”, Emília casa-se descaradamente por interesse com um porco que se dizia marquês e quando descobre o falso título do marido não pensa duas vezes e pede o divórcio, um escândalo para a época!

Evandro Gruber e Esther E. Justino

            Existe um lado Emília que quer mandar, existe um lado Emília que filosofa, quer dizer verdades, quer ser ousada, verdadeira – por mais que as palavras machuquem. Emília é uma das maiores personagens da nossa literatura. Seu gênio é para poucos. Arrogante, mandona, autoritária, exigente, porém, criativa, amiga, autônoma, inteligente (ou melhor, sábia). Uma criatura peculiar que luta pelos seus interesses.

Amanda Buzzi

            A curiosidade da boneca é o que mais me encanta. Ela não tem medo de descobrir, de ter a coisas para ela. Ela tem o que chamamos de ‘jeitinho brasileiro’ – a esperteza de não fazer as coisas e de levar a fama. Ela é bem brasileira! Não concordo com os métodos dela, mas todos precisamos concordar que eles dão certo.

Tabita Mair

            Dizer que Emília é Lobato pode até ser verdade, mas eu diria que Emília é muito mais, pois tem características as quais lhe dão vantagens que seu autor não tem. Lobato na condição de adulto, mesmo sendo um adulto rebelde, em muitos momentos teve que seguir algumas convenções, como ele próprio disse na última reportagem ao rádio: “aprendi a ser cauteloso”, e não aprendeu do jeito fácil, pois foi parar na prisão durante certo dado período por não controlar sua indignação e falar sem papas na língua.
            A coisa parece realmente complicada. Tentemos novamente: Emília é criada por Lobato para expressar as ideias e os projetos desse (não vou adentrar no projeto lobateano para as obras do sítio, pois já são bem sabidos e se por ventura alguém que vier a ler não souber, vale uma dica: uma boa pesquisa não prejudica ninguém). Pertencendo inicialmente na imaginação do autor, mas que quando posta no papel e sai pelo mundo com as mais diversas aventuras a boneca ganha vida própria, toma corpo e forma não somente na mente de Lobato mas agora na mente de todos os seus leitores. Se Emília inicialmente era moldada conforme as ideias de Lobato certamente depois dessa independência ele (o autor) deve se moldar ao estilo de Emília. Parece loucura não parece? E é!

Márcia Aparecida Grison

            Emília é sonho, é loucura e é ação. Emília é a personagem que representa todo o lado irreverente, insubmisso e mágico de Monteiro Lobato. É a personagem que mais revela as próprias contradições do autor – e como Lobato as tinha! Tal como Emília sempre tentou viabilizar suas ideais: a modernização da fazenda Buquira que herdou do avô; a construção da editora e a expansão do mercado do livro, a busca do petróleo, etc. Mas é evidente que em todas as iniciativas havia também algo ideal ou de mágico e de fantástico.

Nayara Taina Peters

            Ao tentar começar a escrita de suas memórias, Emília tem dificuldades. Mesmo assim, enrola como ninguém. Faz exigências de papel cor do céu com todas as suas estrelinhas, tinta cor do mar com todos os seus peixinhos e pena de pato – com todos os seus patinhos. Ao se ver obrigada a ignorar as suas vontades impossíveis de serem cumpridas, ainda manda Visconde escrever um punhado de interrogações. E para tudo, há uma explicação profunda e filosófica que Emília improvisa. Para mim, esse jeitinho da Emília parece muito com o famoso “jeitinho brasileiro”. E é com essa esperteza toda que Emília dá um jeitinho para tudo. FINIS.

Daniela Flores Goulart


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