Em uma sociedade que se deseja cada vez mais plural, multicultural e atenta às diferenças, Rogério Andrade Barbosa – pioneiro e expoente na literatura que versa sobre a temática africana e afro-brasileira – apresenta no livro A caixa dos segredos, Galera Record, 2010, a comovente história de luta e resistência de Malã.
            A partir da versão contada pelo seu tataraneto, o leitor conhece a vida do menino – batizado com o nome cristão Antônio – desde sua captura em terras africanas até a chegada no Brasil, acompanha a sua permanência no Rio de Janeiro e o breve tempo em que esteve na Bahia, passando por momentos históricos, culturais, sociais e políticos significativos para a população negra brasileira. A obra está dividida em quatro momentos de cruciais transformações na biografia de nosso anônimo herói: infância, juventude, maturidade e velhice.
            Ao desvendar os segredos da caixa de metal forrada com recortes de jornal, o narrador-tataraneto revela a influência em nossa cultura das missões católicas na África, dos convertidos ao islamismo e das religiões tradicionais africanas que são apresentadas a partir das vivências de Malã. Os importantes episódios conhecidos por Revolta dos Malês e das Chibatas, a abolição da escravatura, a chegada de imigrantes europeus para substituir o trabalho escravo e mesmo as recentes lutas que culminaram em “leis obtidas graças ao empenho dos movimentos negros organizados” são discutidos pelo autor nas tramas do enredo.
            A sabedoria popular está presente nos provérbios africanos que abrem os capítulos e dialogam com termos mais esclarecedores (e mais científicos) trazidos pelos novos vocábulos utilizados e, em seguida, explicados em seu contexto. Um livro de rápida leitura, com linguagem concisa e que permite uma abordagem panorâmica para o principiante no tema e envolvente para os iniciados.

Por Cleber Fabiano da Silva.
Pesquisador voluntário do PROLIJ - UNIVILLE
           
FICHA TÉCNICA:

A caixa dos segredos
Autor: Rogério Andrade Barbosa
Ilustrador: Gerson Conforti
Editora: Galera Record
Ano: 2010

         
   ♫ ♪ ¶ ♫ Lá lá lá lá lá ... ♪♫ ¶
            O que é um pontinho azul no meio da floresta? E o que seriam vários desses mesmos pontinhos azuis em Manhattan? Não adivinhou? Talvez você não tenha lido no final da década de 50 os quadrinhos com os personagens criados pelo belga Pierre Culliford, conhecido por Peyo. Não! Então, certamente assistiu nos anos 80 a série de desenhos animados produzida pela Hanna Barbera. Também não? Ainda tem tempo: corra aos cinemas para conhecer o longa-metragem com os encantadores duendes azuis que atendem pelo nome de smurfs. 
            Por conta das situações embaraçosas criadas por Desastrado, os Smurfs escapam da aldeia na floresta onde moram e vão parar em Nova York, invadindo a casa e o escritório do publicitário Patrick e sua esposa. Seguidos por Gargamel e seu gato Cruel em cenas hilárias, precisam esperar pela Lua Azul para voltarem para casa.
            Interessantes os diálogos e a troca de experiências sobre a paternidade entre Patrick – que brevemente será papai – com o líder do bando, Papai Smurf de 546 anos de idade. Outro aspecto que vale perceber, são os afetamentos que os pequenos seres deixaram na vida “e no cogumelo” dos protagonistas reais, bem como, a transformação operada na pequena aldeia dos smurfs após a passagem do grupo pela Big Apple.
            Na moderna versão em 3D, Desastrado, Arrojado, Smurfette, Gênio, Papai Smurf e Narrador divertem as crianças e deixam saudosistas os adultos com o campo semântico abrangente que o vocábulo smurf pode significar. Se você não se irritar com a música ou com o excesso de merchandising, a dica é boa e vale pela pitada de beleza, leveza e encantamento...       
            Boa smurf sessão!
            ♫ ♪ ¶ ♫ Lá lá lá lá lá ... ♪♫ ¶

Por Cleber Fabiano da Silva.
Pesquisador voluntário do PROLIJ – UNIVILLE

FICHA TÉCNICA:
Título original: The Smurfs
Direção: Raja Gosnell
Duração: 102min.
Gênero: Animação infantil
Lançamento: agosto 2011



por Viviane de Cassia Romão Lucio dos Santos

         Uma história de amor borbulhante... É isso que o leitor encontrará em Mururu no Amazonas de Flávia Lins e Silva. O livro conta a história de Andorinha, menina-moça  entendedora da água. Ela vive com a mãe, mulher simples que passa os dias esperando o marido pescador, em uma casa flutuante na imensidão das águas da Amazônia.
         O texto, linguagem poética pura, envolve o leitor nos caminhos percorridos por Dorinha nos rios Negro e Solimões na busca, primeiramente, por seu pai, até que num desses desvios dos igarapés da vida encontra seu primeiro amor...  Amor intenso, tal qual as misteriosas águas desbravadas por essa personagem pura, corajosa e cheia de vida.
         Flávia Lins e Silva consegue descrever de forma magistral a explosão - ou seria o mergulho?! -  de sentimentos e sensações provocada pelo encontro com sua cara-metade, mesmo que ela seja da água e ele seja da terra. Sua narrativa é sensível, sem pudores, desnudando a transição do que ocorre dentro da gente na passagem da infância para a adolescência, naquela fase em que tudo parece confuso e ao mesmo tempo mágico onde “Faz frio e calor, o corpo ferve e gela, tudo ao mesmo tempo. Ê aguaceiro! É como se o rio parasse, como se o mundo se calasse, como se a vista embaçasse...”.
         Um livro apaixonante e apaixonado, um convite para participar de uma inundação de coisas gostosas, não por acaso, foi escolhido como o melhor para o jovem pela FNLIJ (publicação 2010, premiação 2011).

SILVA, Flávia Lins. Mururu no Amazonas. Rio de Janeiro: Manati, 2010.



"Se você tem uma coisa a afirmar, você não tem que fazer literatura. Literatura é uma conversa sobre as dúvidas. É uma conversa sobre as delicadezas, sobre as faltas". (Bartô)

Entrevista completa aqui, no site Rascunho.
            Quem diria que de retalhos de tecidos poderia surgir a boneca mais esperta da face da terra! Mais esperta até que muitas pessoas... E essa era uma das grandes espertezas de Monteiro Lobato... Mostrar como alguém que nasceu completamente vazia, de retalhos de uma saia velha de tia Nastácia, pudesse ser conhecida e admirada em todo mundo. E não só ela, mas toda a turma do Sítio do Picapau Amarelo. E mesmo depois de tanto tempo desde a sua criação, ainda o são até hoje!

Marcele Kirschbauer

            Imitar Emília é bem mais difícil que parece. É incrível como um ser feito de pano consegue ser mais perspicaz que os humanos feitos de (obviamente) carne e osso. É tão fácil para ela conseguir um cientista de escritor (mesmo contra a vontade dele), bolar artimanhas mirabolantes, derrotar a força de Popeye com sua esperteza, alterar o formato do mundo... 

Guilherme Henrique Costa Santos

            Emília nasceu do desejo de Narizinho pelas mãos de tia Nastácia, sendo vista primeiramente como objeto, porém sempre amada, bem quista e cuidada como uma criança de verdade. Algum tempo após sua fabricação, tornou-se uma boneca nada comum, aliás, no decorrer de sua trajetória passou por um processo de humanização, deixando de lado a figura de boneca e assumindo o papel de menina humana.
            Emília nunca se preocupou muito em ser graciosa, gentil ou delicada como as outras meninas de sua geração, aliás, podemos classificá-la como verdadeiro moleque; mas isso não deixou nossa boneca menos encantadora, em verdade, a pequena Emília, acredito, preocupou-se mais em persuadir do que encantar; a pequena nos envolveu, porém não foi por doces gestos ou belezas mas por sua boa conversa.

Jéssica Moura

            Quebrando com os preconceitos da época, Monteiro Lobato, criador de Emília, consegue ir além de seu tempo desde quando coloca a frente do sítio do Picapau Amarelo uma mulher, dona Benta, para comandar um ambiente que até então não era comum ser liderado pelo sexo dito “frágil”. Emília vem acompanhando o mesmo ambiente de renovação, e de uma forma (nem um pouco) sutil faz-se opinante em todas as situações e conflitos existentes no sítio e convivendo por lá com ares de anfitriã.
            Seria uma boneca, apenas uma boneca, mas ela foi mais, viajou para os quatro cantos do planeta, encolheu e encompridou os seres humanos, fez abóboras crescerem em jabuticabeiras e quando a literatura ainda fantasiava “romances perfeitos”, Emília casa-se descaradamente por interesse com um porco que se dizia marquês e quando descobre o falso título do marido não pensa duas vezes e pede o divórcio, um escândalo para a época!

Evandro Gruber e Esther E. Justino

            Existe um lado Emília que quer mandar, existe um lado Emília que filosofa, quer dizer verdades, quer ser ousada, verdadeira – por mais que as palavras machuquem. Emília é uma das maiores personagens da nossa literatura. Seu gênio é para poucos. Arrogante, mandona, autoritária, exigente, porém, criativa, amiga, autônoma, inteligente (ou melhor, sábia). Uma criatura peculiar que luta pelos seus interesses.

Amanda Buzzi

            A curiosidade da boneca é o que mais me encanta. Ela não tem medo de descobrir, de ter a coisas para ela. Ela tem o que chamamos de ‘jeitinho brasileiro’ – a esperteza de não fazer as coisas e de levar a fama. Ela é bem brasileira! Não concordo com os métodos dela, mas todos precisamos concordar que eles dão certo.

Tabita Mair

            Dizer que Emília é Lobato pode até ser verdade, mas eu diria que Emília é muito mais, pois tem características as quais lhe dão vantagens que seu autor não tem. Lobato na condição de adulto, mesmo sendo um adulto rebelde, em muitos momentos teve que seguir algumas convenções, como ele próprio disse na última reportagem ao rádio: “aprendi a ser cauteloso”, e não aprendeu do jeito fácil, pois foi parar na prisão durante certo dado período por não controlar sua indignação e falar sem papas na língua.
            A coisa parece realmente complicada. Tentemos novamente: Emília é criada por Lobato para expressar as ideias e os projetos desse (não vou adentrar no projeto lobateano para as obras do sítio, pois já são bem sabidos e se por ventura alguém que vier a ler não souber, vale uma dica: uma boa pesquisa não prejudica ninguém). Pertencendo inicialmente na imaginação do autor, mas que quando posta no papel e sai pelo mundo com as mais diversas aventuras a boneca ganha vida própria, toma corpo e forma não somente na mente de Lobato mas agora na mente de todos os seus leitores. Se Emília inicialmente era moldada conforme as ideias de Lobato certamente depois dessa independência ele (o autor) deve se moldar ao estilo de Emília. Parece loucura não parece? E é!

Márcia Aparecida Grison

            Emília é sonho, é loucura e é ação. Emília é a personagem que representa todo o lado irreverente, insubmisso e mágico de Monteiro Lobato. É a personagem que mais revela as próprias contradições do autor – e como Lobato as tinha! Tal como Emília sempre tentou viabilizar suas ideais: a modernização da fazenda Buquira que herdou do avô; a construção da editora e a expansão do mercado do livro, a busca do petróleo, etc. Mas é evidente que em todas as iniciativas havia também algo ideal ou de mágico e de fantástico.

Nayara Taina Peters

            Ao tentar começar a escrita de suas memórias, Emília tem dificuldades. Mesmo assim, enrola como ninguém. Faz exigências de papel cor do céu com todas as suas estrelinhas, tinta cor do mar com todos os seus peixinhos e pena de pato – com todos os seus patinhos. Ao se ver obrigada a ignorar as suas vontades impossíveis de serem cumpridas, ainda manda Visconde escrever um punhado de interrogações. E para tudo, há uma explicação profunda e filosófica que Emília improvisa. Para mim, esse jeitinho da Emília parece muito com o famoso “jeitinho brasileiro”. E é com essa esperteza toda que Emília dá um jeitinho para tudo. FINIS.

Daniela Flores Goulart
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