(IMAGINE AQUI UM TÍTULO, PORQUE ESTOU SEM NENHUM EM MENTE)

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Por Raquel Selner

         Foi-me permitido redigir meu texto a lápis. Melhor assim. Gosto de ter o direito de chamar meu rascunho de arte final, de voltar atrás quando acho que devo, de entregar a versão definitiva do que nunca foi ensaiado.
         Emília é esse rascunho bem feito, é esse ensaio com plateia. Tia Nastácia remendou o mundo todo na indomável boneca que aprendeu a ser gente. Lobato envolveu todos os seus leitores nessa realidade que desconhece o impossível. Enquanto há pessoas que ainda estão ensaiando sua vida, Lobato criou o roteiro de várias outras. Emília teve uma atuação digna de aplausos.
         Mas não quero ser hipócrita: Emília me incomoda. Afinal, para que serve a Literatura Infantil se não for para incomodar aqueles que se bastam? Pois é, Emília me incomoda - me irrita, até. Boneca metida a sabida. Pois é muito bem feito que leve lambada e seja forçada a voltar atrás.
         Sorte que meu texto está a lápis. Ainda dá tempo de eu voltar atrás no que escrevi no parágrafo anterior. Passar a borracha. Ela está a poucos centímetros de minha mão. Mas não quero, não vou apagar o que está feito. Não quero me dar ao luxo do arrependimento.
         Talvez seja por isso mesmo que Emília me incomoda. Porque ela é feito eu: não se arrepende, só se redime. Quando li a Emília, tive raiva porque soube que aquela era eu em muitas situações. No livro que li, “A Reforma da Natureza”, a boneca fez uma porção de mudanças naquilo que ela achava besta na natureza. Pois é, eu também já tive vontade de mudar muitas coisas no mundo tendo como parâmetro único o meu referencial. Dancei.
         E a raiva vem daonde? Do meu reflexo. A Literatura é um espelho que exalta nossas maiores qualidades, mas também evidencia os defeitos. E essa coisa da Emília ser revoltada e metida a sabe-tudo é defeito? Depende da leitura - ou melhor, do leitor. Sempre considerei como defeitos, MEUS defeitos.
         Que bom que na vida temos Donas Bentas para nos guiar e nos exortar quanto àquilo que ainda não aprendemos a enxergar!

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Texto produzido para a disciplina Literatura Infantil e Juvenil, do 2º ano de Letras, da profª Dra Sueli de Souza Cagneti.


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