SHABONO: A CIRCULARIDADE DA VIDA

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Por Cleber Fabiano da Silva e Sueli de Souza Cagneti

As armadilhas do destino (ou seriam frutos das nossas escolhas?) tecem o enredo central da narrativa Órfãos de Haximu, das irmãs Inês e Maria Lúcia Daflon, editora FTD. Filhos da paixão entre a nativa Yarima e o médico inglês Philip Spenser, os irmãos Daniel e Nape foram separados por nascer gêmeos: fatalidade que na cultura indígena yanomami permite a morte de uma das crianças. Como a menina já havia sido prometida a um primo da mãe e a saúde do menino revelava mostras de fragilidade, portanto, pouca chance de sobrevivência na floresta, adivinhava-se sua sina naquela comunidade. Criado em Londres pelo pai, percorreria caminhos muito distintos da irmã que foi parar numa instituição destinada a abrigar crianças em situação de risco.
Após sua festa de 21 anos, o pai de Daniel resolve contar-lhe a principal parte de sua história segredada durante muitos anos. Em uma de suas viagens ao Brasil, nos idos dos anos 80, enquanto atuava como médico infectologista junto às missões religiosas na aldeia Yanomami, envolveu-se com Yarima. Surpreso, o jovem descobre que desse romance nasceu também sua irmã gêmea que fora criada na tribo até os 10 anos de idade quando ocorre um fato lastimável: em 1993, durante o genocídio causado por garimpeiros interessados nas riquezas daquelas terras – denominado Massacre de Haximu – perde sua mãe.
Agora, aos 24 anos e com mestrado concluído, Daniel parte em busca de seu grande sonho: direcionar os estudos para a cultura ameríndia e trabalhar com os índios de Roraima. É chegada a hora de voltar ao shabono (espécie de habitação circular coletiva) onde nasceu e de retornar os laços com sua irmã, cuja vida, apesar do tempo e da distância em muito está ligada a sua. Vem dela o conselho: “Você escolhe o caminho, Daniel. O caminho daqui não é igual ao caminho de Londres. Aqui não tem universidade, não tem doutorado. Tem vida comunitária, tem povo da floresta enfrentando fazendeiro e garimpeiro. Se quer mesmo ajudar, vem educar criança na escola Yanomami” (p. 54).
Magistralmente escrito por quatro mãos e ilustrado por mais duas habilidosas. Um misto imperceptível entre ficção e realidade. O livro emociona e instiga-nos para a vigilante defesa de uma causa que ainda precisa ser resolvida em nosso país. Por mais quanto tempo seremos órfãos de nós mesmos?

FICHA TÉCNICA:

Obra: Órfãos de Haximu
Autoras: Inês Daflon e Maria Lúcia Daflon
Ilustrador: Joãocaré
Editora: FTD
Ano: 2010


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