O olho cor de saudade

/
0 Comments
Por Sueli de Souza Cagneti

- Gaúcho... gaúcho... - que queria dizer: gente que canta triste. E todos se sentaram e ficaram ouvindo, esquecendo do ódio, da vingança e do sacrifício. (...) nas largas noites ao pé do fogo com o chimarrão e a viola, ao ouvir-se a voz do homem do Sul cantando de amor e de saudade, ouve-se também um murmúrio longínquo, os garbosos fantasmas da tribo Minuano, passando entre nuvens e chamando dolorosamente: “gaúcho...gaúcho...”
Walmir Ayala

         A décima edição de Moça Lua e outras lendas de Walmir Ayala é mágica, provocante e é um presente para este tempo. Publicada sucessivamente desde 1974 o livro ganha agora imagens de Simone Matias.
         A obra contém dezenove lendas. Todas contadas com uma linguagem que - para quem gosta de compartilhar leituras -, dá vontade de saltar a leitura dos olhos e passar para leitura sonora. Fica uma sensação de que não basta ler sozinho, e ao ler na solidão há uma força que nos leva a sentir a fogueira chamuscando e o contador de histórias apresentando como a lua apareceu no céu, como surge o dia, a história da estrela Vésper, como o milho nasceu, as loucuras provocadas pelo amor ardente, porque o urubu come carniça, como surge o gaúcho, o que é a felicidade e onde ela se encontra...
         Como surge a lua? Uma das milhares possibilidades de explicação de como a lua tenha surgido é narrada na primeira lenda que dá o título para o livro. Em Moça Lua, há uma índia que “saia na escuridão e voltava com os cabelos cobertos de vaga-lume, e andava na beira do rio e todos ficavam tranquilos porque ela contava que não havia perigo”. Moça Lua mora na noite e para seu povo o cipó, a for-de-manacá e uma coruja é que fizeram dela lua, para que todos nós pudéssemos sonhar.
         Os mistérios narrados por Walmir são lendas, mitos e fábulas todas entrelaçados pela poesia. As histórias contêm um fio condutor, como acontece na história das “Mil e Uma Noites”. Ao terminar uma lenda, há uma pista para o surgimento de um mito, e no final do mito há linhas da próxima fábula.
         Uma obra que permanece viva, pois fala da natureza humana e da beleza do mundo. Um livro que poderia estar nas bibliotecas escolares, universitárias, públicas e nas casas. Brindando a energia do poder das fogueiras hoje acendidas no virar das páginas de livros que primam por momentos de experiências que nos transportam no tempo e no espaço e que nos lembram da fantástica magia da sermos humanos.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Moça Lua e outras lendas
Autor: Walmir Ayala
Ilustradora: Simone Matias
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2012


Posts relacionados

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.