Pele e couraça: o jogo duplo do sujeito social

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Por Silvio Leandro da Silva

Cotidianamente somos induzidos a introjetar representações coletivas à nossa condição humana. Porém, fazer parte de uma cultura requer legitimação pelo uso de traços e modelos estabelecidos. A leitura de “A tatuagem - Reconto do povo Luo” de Rogério Andrade Barbosa nos faz pensar sobre nossa inserção no convívio social e no sentimento de pertencimento a um grupo.
A narrativa em questão demonstra claramente essa realidade, pois nela o povo Luo – estabelecido nas regiões do Quênia, Tanzânia e Uganda - é apresentado não somente como um grupo organizado em funções específicas (as mulheres socam os grãos de milho, os homens se dedicam ao solo e às guerras), mas também com uma preocupação do fazer-se perceber. Nesse intuito as mulheres devem ser estilizadas por tatuagens que explicitarão sua condição social e civil. Na ânsia de satisfazer essa necessidade, a jovem protagonista Duany obterá mais do que um reconhecimento, pois trará consigo a marca da ambição. Sem reconhecer o valor da arte de furar e levantar a pele proveniente das mãos anciãs de sua comunidade, ela vai atrás de um novo tatuador e cai nas graças de uma serpente. Desse contato seu corpo adquire uma indesejável impressão. Daí em diante a jovem passa a sentir o peso da luta contra esse feitiço.
As ilustrações de Maurício Negro deixam o leitor impregnado por figuras tão representativas quanto o enredo da história. São traços que remetem ao fator comunicador presente naqueles que se permitem deixar sob a pele a tinta e, através dessas cicatrizadas escritas, se tornam membros de um pensar comum.
Uma bela história que nos convida a repensarmos nossas necessidades coletivas, naquilo que trazemos de ambíguo e individual em nós: desejo, reconhecimento e superação.

FICHA TÉCNICA:

Obra: A tatuagem
Autor: Rogério Andrade Barbosa
Ilustrador: Maurício Negro
Editora: Gaivota
Ano: 2012


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