Por Luciane Piai

O lirismo poético na obra A dolorosa raiz do Micondó, da poetisa e jornalista de São Tomé e Príncipe, Conceição Lima, perpassa os versos, transmitindo muita dor como foi identificado no próprio título da obra. A poetisa ganhou destaque pelos seus poemas em 1975,  no período pós-independência de São Tomé e Príncipe; ela tem publicado em antologias, em jornais e em revistas de diversos países. A obra, uma coletânea composta por vinte e sete poemas, sugere um olhar para os acontecimentos históricos ocorridos com a colonização. Na época do povoamento, o arquipélago recebeu escravos, trazidos pelos portugueses, de vários países do continente africano para trabalharem nas lavouras de cana-de-açúcar. Eram grupos de diferentes origens e línguas. A autora reflete, em sua obra, essa diversidade linguística e no final da coletânea apresenta um glossário com termos em crioulo.
 Presente no título da obra, o termo Micondó, ou imbondeiro designa uma árvore sagrada, com uma simbologia de retomada às origens, uma busca nos antepassados. Essa árvore está presente em algumas regiões do continente africano.   
Conceição Lima, autor do citado livro, em seus versos faz uma crítica à política local e também um grito pessoal e coletivo pela identidade, pois seu povo foi separado neste processo de colonização. Além de transmitir poeticamente todas as atrocidades ocorridas, a autora tem esperança e o desejo de mudanças em seu país.

FICHA TÉCNICA:

Obra: A dolorosa raiz de Micondó: poesia
Autor: Conceição Lima
Editora: Geração Editorial
Ano: 2012

Por Luciane Piai

O SOPRO DOS ANCESTRAIS
Ouça mais as coisas
que os seres.
A voz do fogo se ouve,
ouça a voz da água,
escute no vento
o arbusto soluçar.
É o sopro dos ancestrais...
(Birago Diop, p.249)

 A África vem até nós pelas sociedades orais que, tradicionalmente, transmitiram de geração a geração as histórias e, atualmente, chegam através da escrita. A obra é uma coletânea de Contos e lendas da África, composto por dezessete contos e lendas africanas, assemelhando-se a outros contos populares de outros continentes, escritos por Perrault, Irmãos Grimm e Andersen, por também apresentarem homens ou animais que disputam quem é o mais esperto ou o mais veloz. A vingança está presente na narrativa através do castigo trágica da própria morte, para quem trai ou mente, assim como a maldade para com o outro, a fim de ganhar alguma vantagem. No conto com o título O caçador mais forte que o leão que engole a tempestade observa-se que há uma moral no final da história: respeitar sempre o cachorro mais velho que está com idade avançada.
Yves Pinguilly é um escritor francês que escreveu cerca de quarenta livros para jovens, muitos tendo como cenário os países da África. É um conhecedor apaixonado por esse continente há mais de vinte e cinco anos. O autor escolheu histórias de alguns países para essa narrativa, e logo no início da obra ele situa o leitor com um mapa e assinala o país e o respectivo povo do qual o conto e a lenda foram resgatados. Outro aspecto relevante e essencial para a leitura é a existência de um pequeno abecedário africano que se encontra no início das narrativas; apresenta vocábulos específicos desse continente.
A ilustração de Cathy Millet é do tipo que nos surpreende a cada novo conto, como uma nova ilustração que se lê com a pretensão de descobrir a história, porém ela é sutil, apenas nos incentiva imediatamente à narrativa.  Seus traços são simples, lembram traços infantis. Neles, a forma geométrica predomina, sendo de cor preta e branca, com sombreamento. Ficou curioso/curiosa? Então venha logo, antes que o sol se ponha.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Contos e lendas da África
Autor: Yves Pinguilly
Ilustrador: Cathy Millet
Tradutor: Eduardo Brandão
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2005

Por Luciane Piai

Jovem talentoso, poético, dramaturgo.
Jovem intenso, profundo, meigo e ardente.
Esse é Federico García Lorca.
Tão jovem o levaram cruelmente.
Homens insensíveis da Guerra Civil espanhola.
Lorca deixa para o mundo suas palavras.
Em forma de poesia e obras teatrais.
Sempre Lorca... – uma vez lido a paixão é eterna.
“Este riso de hoje é meu riso
de ontem, meu riso de
infância e de campo, meu riso
silvestre, que defenderei
sempre, sempre, até morrer.” (LORCA, p.28)
A obra Santiago foi escrita aos seus vinte e poucos anos.
É um fragmento do primeiro livro de poesia, o “Livro de Poemas”.
Leia um verso e depois se delicie com os demais:
“- Avozinha. Onde está Santiago?
- Por ali marcha com seu cortejo,
a cabeça cheia de plumagens
e de pérolas mui finas o corpo,
com a lua rendida a seus pés,
com o sol escondido no peito.” (LORCA, p.8)
                                                               
FICHA TÉCNICA:

Obra: Santiago
Autor: Federico García Lorca
Ilustrador: Javier Zabala
Tradutor: Willian Agel de Mello
Editora: WMF Martins Fontes
Ano: 2009

Por Alcione Pauli e Maria Lúcia Rodrigues

Com a doçura dos contos de fadas, Tiago Hakiy, filho da etnia Sateré-Mawé, encanta, empolga e envolve os leitores no seu texto Guaynê Derrota a Cobra Grande: uma história indígena. O autor conta com a parceria de Maurício Negro que ilustra com maestria essa história. A obra é vencedora do 9º Concurso Tamoios de Textos de Escritores Indígenas, de 2012, concurso desenvolvido pela INBRAPI (Instituto Indígena Brasileira para Propriedade Intelectual) juntamente com a FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil).
Nesta obra premiada, autor e ilustrador sopram palavras e descortinam imagens que nos colocam para dentro da mata, junto do rio Andirá, no Amazonas. Na leitura navegamos nos lugares mais profundos e acompanhamos o guerreiro-príncipe que enfrenta a grande Moi, e como o caçador da “Chapeuzinho Vermelho”, sem medo, o guerreiro abre o estomago da maligna e salva sua amada.
No texto imagético a história de Tiago Hakiy ganha a cores e sentimentos de Maurício Negro que, com uma paleta que revela a força e os segredos da natureza nas cores do fogo, da terra e da água – totalmente tingida de mata densa -, as imagens traduzem a integração entre homem e natureza em traços de duplo sentido, em formas que se revelam aos poucos aos nossos olhos, como que camufladas pela floresta do povo Mawé. São vermelhos de fúria e luta de Guaymê contra a cobra grande, alternados pelo vários verdes e ocres que traduzem o frescor da mata e das águas do Rio Andirá. Quase que dá pra sentir, no virar das páginas, os sons da mata.
Uma linda história de amor, escrita com início que remete aos caminhos do “era uma vez”... e com o final maravilhoso de sentimento de “foram felizes para sempre”. Uma obra indígena que além de trazer palavras e procedimentos da cultura do povo Mawé auxilia ao leitor no esclarecimento dos vocábulos, apresentando no final do livro um glossário para enriquecer o enredo e nos colocar em contato com a etnia Sataré-Mawé. Uma obra sensível e delicada. Imperdível!

FICHA TÉCNICA:

Obra: Guaynê Derrota a Cobra Grande: uma história indígena
Autor: Tiago Hakiy
Ilustrador: Maurício Negro
Editora: Autêntica
Ano: 2013
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