Por Priscila Fernanda Ferreira
Curso de Letras - 2015/2016

Quando comecei a pensar em um projeto para meu trabalho de conclusão de curso, me perguntei várias vezes se eu conseguiria trazer um tema que pudesse mexer com os alunos que provocasse neles um aprofundamento, uma troca de percepções de visões diferentes de mundo, foi então que comecei a pensar na literatura indígena. Fui apresentada a essa literatura pela Professora Alcione Pauli nas aulas de intertextualidade e estudos literários, as possibilidades de discussões e infinitas análises que essa literatura propõe me chamou muito a atenção, e também porque a literatura indígena é muito rica em tudo, desde a própria escrita até as ilustrações. Tudo me fascinou e foi então que eu resolvi trabalhar com essa literatura em sala de aula no meu estágio. Todo o aprendizado durante as aulas de intertextualidade, todas as discussões, todas os contra pontos levantados durante a leitura de diversos livros despertou em mim a vontade de realizar esses contra pontos em sala de aula com alunos do ensino fundamental e do ensino médio. Trago aqui a justificativa do porquê resolvi trabalhar com a literatura indígena, tanto as observações das aulas e as aulas de intertextualidade colaboraram para a criação do meu projeto. As aulas foram tocantes, criativas, curiosas e para os alunos foi extremamente novo e eles receberam muito bem, conseguiram atingir os objetivos esperados e colaboraram do início ao fim. Estou muito feliz em poder levar a literatura indígena para a sala de aula e ser a prova viva de que ela é rica, ensino muito e traz aos alunos uma curiosidade e uma criticidade muito visível.
Quando falamos em literatura indígena, devemos iniciar introduzindo a história da cultura do índio. Os índios foram os primeiros a pisarem nas terras brasileiras e com toda a sua cultura estabeleceram uma grande intimidade com a natureza, utilizando dela, para sobrevivência e desenvolvimento. Um dos grandes autores da literatura indígena Daniel Munduruku ressalta:

O papel da literatura indígena é, portanto, ser portadora da boa notícia do (re)encontro. Ela não destrói a memória na medida em que a reforça, e acrescenta ao repertorio tradicional outros acontecimentos e fatos que atualizam o pensar ancestral”. (Literatura indígena e o tênue fio entre escrita e oralidade, 2008).

A literatura indígena é um conjunto de gêneros que trazem em suas linhas diferentes relatos sobre a origem do mundo, cerimônias, histórias de animais, narrativas sobre fatos gerais da vida, contos, poemas e etc. Podemos visualizar nessa literatura uma escrita mais particular de narrativas tradicionais coletivas, passando por trabalhos que dirigem-se à recriação de elementos da tradição oral (personagens, cenários, símbolos) até a criação individual.
Depois de nos presentearem com suas músicas, artes e habilidades eles também propõe uma leitura de vida muito interessante. A literatura acompanha a existência humana há muito tempo, nós vivemos em um mundo que modifica-se frequentemente, e com isso, proporciona raízes diferentes a cada modificação. Por isso sempre conseguimos estabelecer histórias novas a serem contadas e, dessa forma, a literatura vai recebendo e criando novas raízes. A literatura indígena começou a ser introduzida há pouco tempo, ou seja, essa temática é recente e pouco trabalhada, ainda precisa ser olhada com outros olhos pelas instituições e docentes. Segundo Daniel Munduruku:  

A memória é, pois, ao mesmo tempo passado e presente que se encontram para atualizar os repertórios e encontrar novos sentidos que se perpetuarão em novos rituais que abrigarão elementos novos num circular movimento repetido à exaustão ao longo de sua história. (Literatura indígena e o tênue fio entre escrita e oralidade, 2008)
  
Ainda com Daniel Munduruku:


Pensar a Literatura Indígena é pensar no movimento que a memória faz para apreender as possibilidades de mover-se num tempo que a nega e que nega os povos que a afirmam. A escrita indígena é a afirmação da oralidade. (Literatura indígena e o tênue fio entre escrita e oralidade, 2008).

Um dos motivos da falta de interesse para com o trabalho da cultura indígena é o não entendimento de como uma literatura de tradição oral pode estar sendo trazida a nós de forma escrita. Os indígenas aprenderam há muito tempo a se comunicar através da língua portuguesa e com isso passaram a conseguir expressar seus ensinamentos através da escrita. Isso proporcionou ao índio a disseminação de suas riquezas, de suas culturas e seus ensinamentos, proporcionando assim, a possibilidade da sociedade compreender seu modo de vida. Outro ponto importante a ser observado é com relação ao que o índio apropria-se para escrever suas histórias. Podemos ter plena certeza que é por conta de seus mitos, que são vivenciados pelas nações indígenas e passados de geração para geração, promovendo assim um ensinamento para ser seguido e repassado um ao outro. O foco principal do mito é o relato fantástico de tradição oral, geralmente protagonizado por seres que encarnam as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana.
A literatura indígena é muito rica e precisa ser vivida dentro da sala de aula por isso esta proposta de ensino se constituiu após a percepção acerca dos interesses dos alunos quando se fala em literatura indígena. Foi observado o quanto esta literatura é pouco trabalhada em sala de aula e o quanto ela desperta interesse nos alunos. Como a escola precisa seguir um currículo com competências a serem alcançadas pelos alunos, os temas étnicos – raciais e culturais pouco aparecem nas aulas de língua portuguesa. Ler textos que falem de culturas diferentes, mesmo pouco valorizadas, pode colaborar para a formação de leitores.
Os alunos mostram repulsa quando se fala em aula de literatura, e que somente é necessário que o aluno escolha uma obra, leia e realize resumos e apresentações simplórias para os colegas de classe. No ensino médio, desde o primeiro ano até o terceiro ano, os alunos trabalham com literatura direcionada ao vestibular, não mergulham em outras leituras, somente as que precisam ser revisitadas. Isso promove uma deficiência que impede o conhecimento mais amplo que a literatura pode oferecer aos alunos. A leitura de textos literários pode facilitar no momento de desenvolvimento de raciocínio e criticidade dos alunos, eles conseguem estabelecer uma relação com o cotidiano, a vivência de cada um e tudo que gira em torno de sua existência.
A falta de incentivação à leitura também cria um baixo interesse em relação a escrita, causando dificuldades ao invés de compreensão. A leitura mecanizada e a escrita direcionada impossibilitam a manifestação de ideias e de opiniões dos alunos. A literatura possibilita o enriquecimento de conhecimento do aluno e do professor. Segundo Alcione Pauli (2015, p. 19):

A literatura indígena como movimento literário é recente. Ao trazer a arte de como o indígena entende a vida, ele reconstrói na escrita sua relação com o mundo, a qual sempre esteve registrada na oralidade em seus mitos e seus ritos.
  
Portanto, precisamos recriar e organizar as prioridades e trazer sim a literatura indígena para a sala de aula, pois muitas vezes as escolas esquecem de oferecer aos alunos uma leitura sensível e adoçada, prendem-se somente a aquilo que precisa ser alcançado e esquecem de trazer novas cores nas vidas dos alunos. Quanto mais a gama de cores aumenta, mais o arco– íris fica evidente.




Referências Bibliográficas
  
MUNDURUKU, Daniel. Literatura indígena e o tênue fio entre escrita e oralidade. Disponível em .
CAGNETI, Sueli; PAULI, Alcione. Trilhas Literárias Indígenas Para Sala de aula. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
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