Reflexões sobre João e os Sete Gigantes Mortais

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Daiane Silva
Acadêmica 2º ano do Curso de Letras Licenciatura da Univille
A literatura infantil pode e deve ser vista como uma arte, pois representa o mundo através da palavra; pode unir o real e o imaginário, o possível e o impossível.
Os textos literários voltados para o público infantil foram escritos há alguns séculos, e retratam um mundo fantástico, de sonhos e encantamentos. Porém, eles permitem que as crianças vivam, por meio dos contos, situações-problemas e conflitos e, a partir daí, tentem construir conceitos que auxiliarão em sua formação ao longo da vida.
Partindo-se deste pressuposto, o livro João e os Sete Gigantes Mortais, de Sam Swope, chegou para renovar a estrutura dos contos de fadas, pois mostra de uma forma bem divertida, instigante e provocante um herói às avessas.
Desde que João foi abandonado, ainda bebê, carregava a fama de menino mau da aldeia. Sempre estava metido em alguma encrenca ou confusão. E tudo acontecia sem ele querer. E a culpa sempre era sua.
Mas as coisas se complicam quando chega a notícia de que sete gigantes mortais se aproximam do povoado, João leva a culpa e então, resolve partir para que a aldeia fique a salvo. Caminhando sem destino, João encontra pelo caminho um sujeito esquisito que lhe dá de presente um feijão mágico. Um feijão que realiza desejos. O garoto faz então seu pedido de criança solitária: “Quero minha mãe!”. Mas, ao seu lado, surge apenas uma vaca. Desiludido, João segue viagem com sua nova companheira.
Pelo caminho, João acaba enfrentando os gigantes que querem fazer dele um picadinho malpassado, que personificam os sete pecados capitais: O Poeta Gigante (a preguiça), O Terrível Guloso (a gula), Dona Iracúndia (a ira), O Cocegão Selvagem (a luxúria), Avarico (a avareza), Orgulha, a Grande (a vaidade) e a Rainha verde (a soberba). João se mostra, então, corajoso, esperto e muito inteligente. Com astúcia e capacidade de surpreender, o menino consegue vencer os sete gigantes, sem usar força física ou violência, mas o curioso é a forma positiva como o personagem lida com os problemas e obstáculos.
Cheia de humor e irreverência, a narrativa nos transporta a combates divertidos e apavorantes, completada com as ilustrações extraordinárias dos temíveis monstrengos gigantes de Carll Cneut.
É por meio desta trama inusitada e singular que o autor Sam Swope aborda temas fundamentais na formação infantil: amor, autonomia, superação de obstáculos, justiça e solidariedade.
Swope buscou em diversas fontes literárias, tudo o que lhe pudesse render inspiração para tratar de “grandes questões da vida”, foram referências que ganharam uma roupagem original, sempre com muito humor. A história criada por Swope possui um pé nos contos de fadas, simbolizado por elementos dos contos tradicionais (feijões mágicos, rainhas más, maçãs, princesas aprisionadas) e outro em alusões bíblicas.
>Podemos associar de alguma forma este João a outros Joões dos contos tradicionais e suas histórias.
O enredo trazido pela história “João e Maria” traduz a realidade de muitas crianças. Os pais pobres, não sabem como poderão cuidar dos filhos e decidem abandoná-los na floresta.
João e Maria tentam encontrar o caminho de casa, vencer uma bruxa que pretende devorá-los são algumas atitudes que eles devem incorporar para conseguirem liberdade.
A trama da história “João e o Pé de Feijão” ocorre num ambiente mágico e ao mesmo tempo real. A mãe de João vendo que a comida e o dinheiro haviam acabado pede ao filho que vá até a cidade para vender a única vaca que tinham e que já não produzia leite. No caminho, João troca a vaca por feijões mágicos.
Aproveitando a sugestão de “João e o Pé de Feijão”, Swope utiliza a vaca como um poderoso símbolo maternal de ternura e afeição.
Dá para notar uma grande semelhança entre este João e o dos gigantes mortais, pois os dois agem com astúcia e coragem ao enfrentar os gigantes. Além disso, os dois Joões levaram um prêmio ao fim da história. Enquanto um ganhou uma harpa mágica e uma galinha que bota ovos de ouro e, com isso, consegue ficar rico, o outro, finalmente encontrou sua mãe e arranjara um lar onde era querido.
O desafio do leitor é encontrar nas entrelinhas outras histórias de gigantes da literatura.
São muitas as costuras feitas por Swope para que as crianças sejam instigadas em sua vivacidade e, ao mesmo tempo, respeitadas em sua integridade – como é o caso do tratamento dado à luxúria, “pecado” que ganhou uma cuidadosa e bem-humorada metáfora.
Em suma, este livro é moderno e original, e suas ilustrações dão o tom do capítulo que virá e estão em completa harmonia com a história, desafiando e estimulando a fantasia do leitor. As ilustrações de Cneut merecem, por si só, a leitura do livro, ainda que o texto seja também de elevada qualidade. Pois seus traços vão dando vida aos personagens deste livro, personagens apavorantes e marcantes, como é o caso dos gigantes e que despertam a capacidade criativa e imaginativa das crianças.




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Um comentário:

ítalo puccini disse...

nossa, que texto bem escrito!
à altura do livro!

parabéns à daiane!

que bom, muito bom, alunos de letras desenvolvendo coisas assim boas :D

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