Diga-me aonde e como vais e te direi quem és

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Áurea Cármen Rocha Lira

Um convite à leitura pode ser feito de muitas formas. O jonvilense Juarez Busch Machado, artista plástico, pintor, escultor, desenhista, figurinista, cartunista, cenógrafo, pesquisador em Comunicação Visual, preferiu fazê-lo com pegadas, as quais são dispostas desde a capa em seu premiado Ida e volta, livro desenhado em 1969 e publicado no Brasil apenas em 1976, quando já era conhecido na Europa e que recebeu, entre outros, o prêmio “Nakamore Prize” do Japão, em 1977 e prêmio de “O Melhor Livro sem Texto” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 1981. Tais pegadas fisgam o leitor a acompanhá-las, na ânsia de descobrir seu dono e para onde caminha. À medida que prossegue a narrativa visual, percebe-se que a protagonista da história não será fisicamente revelada ao longo do texto, cabendo ao leitor imaginá-la a partir das modificações que ocorrem nos ambientes que passa, como as pegadas que viram marcas de sapatos masculinos e que podem revelar ser um homem, tomar café ou chá sozinho pode representar que seja solteiro ou comprar flores e entregá-las a uma senhora pode demonstrar o quanto é gentil. As marcas da personagem não serão seguidas apenas pelos olhos do leitor: aparecem durante a narrativa as pegadas de um cão e as de um homem que com pernas-de-pau anuncia o circo. Adiante, o rastro de uma bicicleta revela que o homem não anda mais a pé até o momento que esbarra em uma escada e tintas, necessitando de banho, cena que fecha e abre essa criativa obra aberta que marca um novo tempo em nosso país, pela iniciativa pioneira de seu autor que soube dizer com imagens quando tantos só o faziam com palavras.




Ida e volta



MACHADO, Juarez Busch.

Rio de Janeiro, Editora Agir, 1998, 32 p.


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