inventando com manoel de barros

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o mais bonito em "memórias inventadas para crianças", de manoel de barros, é o texto que abre o livro: "escova". é quando descobrimos o manoel que queria escovar palavras, apenas porque vira dois homens sentados na terra escovando ossos, e porque havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos: "eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos".

e há mais nesse livro de dez textos. e de imagens belíssimas. iluminuras da martha barros, filha do maneca. há coisas assim por lá: "agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que uma nave espacial. peço desculpas por cometer essa verdade" (do texto "sobre sucatas"). e o manoel vai se desculpando o livro todo. como se devesse mesmo. desculpa-se pelas peraltagens que faz com as palavras. e com as histórias. peraltagens como enfiar água no espeto. como dar respeito às coisas e aos seres desimportantes. pede desculpas por brincar com palavras mais do que com bicicletas.

manoel de barros diz ter nascido poeta aos treze anos. dali em diante ele só queria ser uma coisa: fraseador. e diz também que hoje só usa a palavra para compor silêncios. e finaliza o livro assim (é a última frase do último conto): "agora quem está atônito sou eu". mentira, do manoel. mais uma inverdade dele. quem fica atônito ao lê-lo somos nós, leitores. apanhadores de desperdícios, ensinados por manoel de barros.  


ítalo.


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2 comentários:

Anônimo disse...

que bonito, Italo.. Manoel de Barros é sempre um show e vc falando dele deu ainda mais brilho a isso.
sueli

Anônimo disse...

Por que nao:)

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