Metamorfose na Fênix Celestial

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Por Crislaine Fernanda Nazário

Quando se fala em livros e na mudança que eles podem causar na vida de uma pessoa, me vem à cabeça a frase de Caio Graco: “Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.” Todas as chaves para abrir o pensamento podem estar nas frases de um livro. E é dentro desse contexto que se encaixa a trama de Dai Sijie, cineasta e escritor chinês, que se exilou na França em 1984, tendo ele mesmo sobrevivido à estratégia da reeducação de Mao Tsé-tung.
O livro “Balzac e a costureirinha chinesa”, traduzido por Vera Lúcia dos Reis, em 168 páginas, mostra a realidade vivida quando o líder chinês lança uma companha que mudaria radicalmente a vida do país: a Revolução Cultural e a opressão do Exército Vermelho.
O narrador da história e seu amigo Luo são levados aos campos de reeducação da montanha da Fênix Celestial para tentar de alguma forma sobreviver ao trabalho pesado e pouca comida. “Um dia, de madrugada, só de pensar nos baldes que nos esperavam, perdemos a vontade de levantar. (...) Eram quase nove horas; o galo, impassível, bicava a comida fictícia, quando, Luo teve uma idéia genial.” (p. 16)
Nas páginas que se seguem podemos frequentemente nos questionar quem realmente seria reeducado. Luo se destaca na arte de contar histórias, pouco reconhecida, mas que encontra espaço na Fênix Celestial. “A montanha da Fênix Celestial ficava tão afastada da civilização que a maioria das pessoas nunca havia visto um filme sequer em suas vidas, nem sabia o que era cinema. De vem em quando, Luo e eu contávamos alguns filmes ao chefe, que chegava a babar, pedindo mais.” (p. 19)
Entre todos os acontecimentos que podiam esperar, uma mala de livros proibidos pela revolução faz com que descubram o prazer pela leitura, o sonhar e o pensar. “Repentinamente, como um intruso, o livrinho me falava do desertar do desejo, dos impulsos, das pulsões, do amor, de todas essas coisas sobre as quais jamais ouvira falar.” (p. 50)
Descobrem um sentimento de uma grandeza inexplicável: o amor. “...logo de manhã ele tinha ido á casa da Costureirinha para lhe contar a bonita história de Balzac.” (p.50)
Os dois adolescentes se apaixonam pela mais bela da aldeia, filha do alfaiate. A ingênua Costureirinha transforma e é transformada pelas palavras de Balzac. “(...) Estou certo de que com isso ela se tornaria mais refinada, mais educada.” (p.53) “Ela estava metamorfoseada, sonhadora. Levou algum tempo para voltar a si, a pôr os pés na terra. (...) me disse que o contato das palavras de Balzac sobre sua pele lhe traria felicidade e inteligência...” (p. 53) De lagarta a borboleta... Fica para a Costureirinha a difícil tarefa de escolher entre três amores, onde um deles é a liberdade.
O fascinante nesta obra é a linguagem que nos leva a sentir a mesma emoção da leitura do primeiro livro. É recomendado para todos os que apreciam uma boa leitura, mas principalmente para aqueles que nada apreciam...

FICHA TÉCNICA:

Obra: Balzac e a Costureirinha Chinesa
Autor: Dai Sijie
Tradução: Vera Lúcia dos Reis
Editora: Alfaguara
Ano: 1999

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Resenha produzida para a disciplina "Práticas de Leitura e Escrita" (1° ano de Pedagogia) da professora Sueli Cagneti.


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