Mãos que pedem... Mãos que acolhem

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Cleber Fabiano da Silva

                No viés da contramão de posições e olhares etnocêntricos, buscando novos sentidos possíveis de linguagem, de beleza e de discurso encontra-se a obra Passarolindo, 1989, de Mario Vale, editora RHJ.
                O autor – também ilustrador – narra a comovente trajetória do passarinho que morava num sapato velho pendurado no fio até o dia em que uma forte chuva invadiu “sua casa”. Então passou um menino e tirou o sapato com uma vara. O menino achou o Passarolindo e cuidou dele. (s|p)
                Surpreendente nessa obra é que o enredo – de caráter universal – não remete necessariamente à temática africana ou afro-brasileira. No entanto, as ilustrações, bem como, a representação do menino negro – sem justificar sua presença ou existência – demonstra seu pertencimento no mundo de maneira ativa e engajada, como alguém que está pronto para acolher a diferença do outro.
A discursividade proposta nesta simbologia permite ao personagem tornar-se protagonista e herói da história. Longe das estereotipadas imagens que apelam para uma pequena, magra e frágil mão negra infantil estendida para receber esmolas ou para confrontar em fotos apelativas com a politicamente correta mão grande, branca e forte.
Obras dessa natureza constituem importante passo no tratamento dado à africanidade e um grande salto na luta contra a tripla invisibilidade: criança, negra e pobre. Lembrando que Mario Vale é autor do já resenhado O Almoço (1987) e que os dois livros são anteriores às demandas legais e curriculares.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Passarolindo
 Autor: Mario Vale
 Editora: RHJ
Ano: 1989


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