Mistérios, magias e paradoxos do amor

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Por Cleber Fabiano da Silva e Sueli de Souza Cagneti

            O amor – tema recorrente para todos os povos e culturas – faz sua morada neste opúsculo cujo título ilustra um belíssimo mito Karajá. A primeira estrela que vejo é a estrela do meu desejo – e outras histórias indígenas de amor, de Daniel Munduruku, ilustrado por Mauricio Negro, editora Global, apresenta ao leitor uma antologia de cinco mitos indígenas. São narrativas que tratam desse sentimento tão humano, complexo, simples, passional, profundo, nostálgico, arrebatador, de todo modo, sempre paradoxal conforme atestado por Camões.
            Nas mais variadas culturas indígenas a experiência do amor – para além das questões constitutivas desse fenômeno humano – divide o protagonismo com elementos da natureza brasileira que, nesse caso, estão longe dos ambientes idílicos românticos de fuga ou servindo apenas como cenário para grandes paixões de romances indianistas alencarianos. Desse modo, não causa espanto a mais bela jovem da aldeia recusar o pedido de casamento de tantos pretendentes guerreiros, para ser desposada pela lua.“Nenhum amor ela desejava tanto como o da própria lua. Ser estrela era a felicidade suprema, algo que mais desejava nesta vida” (p. 12).
            Vale lembrar que o inverso também pode ocorrer. Eis que uma estrela feminina, Candiê-Cuei, toma a forma de uma bela moça e, comovida pelo sofrimento de um jovem viúvo, enamora-se dele. O mais inusitado: “Quando chegou a hora de partir para o céu, o jovem não permitiu que ela fosse embora. Vou colocar-te dentro deste porongo” (p. 19). E assim ficaram por muito tempo sem que ninguém soubesse o que estava acontecendo.
            Como em todas as sociedades, nem sempre os amores também possuem finais felizes. Trágica a história de Taulipang e Makuxi, filhos de duas famílias rivais que fogem para viver em paz, bem longe, para o outro lado do rio Tucutu. De fazer inveja a Shakespeare, “o grupo chorou o destino daquele casal que tanto se amava ao mesmo tempo em que agradeceu o presente que ele havia deixado para o bem de sua comunidade” (p. 28).
            Próximo do rio Araguaia, onde há tempos já viviam os valentes Karajás, outro conflito se instaura devido aos costumes locais. Denakê, a caçula, não podia se casar sem que Imaheró, a mais velha, não fosse desposada. No entanto, para infelicidade da mais nova, a primogênita não quer qualquer marido, decide seu casório com Tahina-Can, a maravilhosa estrela vésper. Depois de tanto desejar, consegue realizar o seu grande sonho. Mas a que preço?
            Venha encantar-se com essas histórias, com as magistrais ilustrações que compõem a atmosfera mítica que as envolvem e descobrir os mistérios e singularidades na forma de amar de povos que guardam e traduzem a nossa ancestralidade.   
                                              
FICHA TÉCNICA:

Obra: A primeira estrela que vejo é a estrela do meu desejo – e outras histórias indígenas de amor
Autor: Daniel Munduruku
Ilustrador: Mauricio Negro
Editora: Global
Ano: 2007


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