O remo segrado da ancestralidade

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Por Cleber Fabiano da Silva

         Chegam-nos pela narração de um Maraguá, as lembranças de uma lenda apresentada a ele quando curumim pelo seu avô: uma envolvente maneira de contar sobre a diversidade das cobras habitantes da floresta. Sabe-se que elas viviam próximas a Moñag (o Criador) usufruindo das maravilhas do mundo perfeito. “Quando todos os seres falavam a mesma língua e havia paz, alegria e felicidade” (p. 11).
         Essa harmonia causou a inveja do encantado Magkaru’sése que, apesar de ser íntimo de Moñag, arquitetou um plano para destruí-lo, pois sabia do afeto que todos lhe nutriam. Aproveitando-se do momento em que Mathy foi colher o guaraná utilizado na bebida sagrada do deus-criador, espreitou-a de mansinho. “Enroscou-se em galho do guaranazeiro e, quando viu que ela se aproximava, iniciou uma suave e maravilhosa canção que a encantou” (p. 15).
         Desejosa de que todos cantassem daquele modo para Moñag, a jovem sucumbiu aos caprichos de Magkaru’sése. Este lhe ofereceu o elixir persuadindo-a acerca dos seus poderes mágicos. Ao chegar à aldeia, Mathy serviu os presentes com a poção dita milagrosa causando uma tragédia aos que dela beberam. Uma profunda tristeza abateu-se sobre o seu povo.
         Os detalhes dessa terrível maldição podem ser encontrados no livro: Mondagará: traição dos encantados, editora Formato, escrito por Roni Wasiry Guará e ilustrado por Janaina Tokitaka.
         Artefato com forma de remo, o Mondagará tem grafismos que contam e guardam as histórias sagradas dos índios Maraguá. Conhecer esses grafismos é o mesmo que mergulhar em uma vasta sabedoria mágica, ancestral e profunda. Mais do que um instrumento utilizado para a locomoção no rio, o remo também é capaz de levar as pessoas para muito além de toda e qualquer possibilidade.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Mondagará: traição dos encantados
Autor: Roni Wasiry
Ilustradora: Janaina Tokitaka
Editora: Formato
Ano: 2011


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