Emília X eu

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Por Talita Fernanda Silva Bolduan

         É impossível se pensar literatura infantil juvenil atualmente sem Lobato. Tanto mais inimaginável se torna, pensar nessa literatura sem as incríveis facetas de Emília. Sim, Emília, a clássica personagem de Lobato que, ora apresenta o lado mais belo do ser humano, ora apresenta a inclinação dita natural, que o ser humano tem para o mal.
         Não se pode pensar Emília a partir de apenas uma obra de Lobato visto que a personagem passa por diversas transformações ao deixar de ser boneca para ser gente. Lobato inicia Reinações de Narizinho com a personagem da Emília como uma boneca que, tal como acontece com os bebês, é carregada pela mãe (Narizinho) e que, ao correr das páginas do livro, torna-se uma pessoa. É importante notar que tal transformação só acontece, a partir do instante que Emília começa a falar. Até então, ela era apenas uma boneca, carregada por Narizinho para todos os lugares. Conforme Emília mesmo fala, ela nasceu feia como uma bruxa e muda como um peixe (Memórias de Emília, p. 12, 11.ed., Editora Brasiliense).
         Ao decorrer das demais obras de Lobato, Emília deixa de ser aquela criança mandona que apenas pensa em si mesma, interesseira, e passa a ser uma garota com diversas facetas, passando, inclusive, até pelo papel maternal, quando a boneca tem que cuidar das crianças, no livro A Chave do Tamanho. Vale lembrar, também, que Emília passou inclusive, pelo processo de divórcio. Tais processos contidos na personagem faz com que o leitor pense em Emília como uma grande metáfora humana, a qual precisa passar pelo maior número de transformações possíveis para que enfim, possa se tornar gente.
Quando Emília promove a reforma da natureza, na obra de mesmo título, a boneca já apresenta certo nível de maturidade, pois, ao contrário de sua amiga Rã, todas as mudanças que Emília propõe são com base em melhorias para ela ou para os animais. Emília briga com a amiga do Rio de Janeiro, afirmando que não estava brincando com a Natureza, mas sim propondo uma nova forma das coisas funcionarem de modo a trazer o progresso para o País.
         Nas memórias de Emília, Lobato volta a encantar seus leitores, principalmente quando afirma, através de Emília, que nenhuma memória é totalmente real. Algumas coisas podem ser verdade, no entanto outras podem ter sido criadas conforme convinha ao autor das tais memórias. Outra questão importante que a personagem coloca, é em relação à verdade. Emília diz que a verdade não passa de uma mentira tão bem construída, de modo que as pessoas não desconfiem dela.
         Na Chave do Tamanho, segundo o que se pôde observar em sala, Lobato coloca Emília como uma heroína. A boneca vai buscar a chave da guerra, para que, enfim, a segunda guerra mundial parasse. As intenções da boneca são as melhores, revelando o quanto sua natureza pode ser boa. Em outra passagem, Emília afirma que tem coração e que não é o fato dela ser, originalmente, uma boneca, que faz com que ela não tenha sentimentos.
         Ora atrapalhada, ora certa, ora confusa, ora indignada, quase sempre questionadora, Lobato mostra a seus leitores, através da personagem de Emília, o quanto o ser humano pode ser complicado. Defendo fielmente a teoria de que ninguém é de todo mau, nem de todo bom. Compreendo que muitos de nós realmente procuramos sermos bons, no entanto, sem que seja justificável, tal característica pode ser substituída facilmente pelo mal. Não me considero totalmente boa, mas me recusaria a dizer que quero causar mal a alguém. Da mesma forma entendo Emília e, talvez, esta seja justamente uma característica dessa personagem: todos têm a liberdade de vê-la conforme sua própria forma de pensar, ou suas crenças.

*Texto produzido para a disciplina do 2º ano de Letras/Univille "Literatura Infantil Juvenil", ministrada pela profª Dra Sueli de Souza Cagneti.


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