Pasárgada Kaingang

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Por Cleber Fabiano da Silva

       "No início do mundo, num tempo que se perdeu no tempo...” Assim têm início as histórias nas vozes que contam – embaladas pela saudade que trazem no peito – as bem-aventuranças de Paiquerê, de Cléo Busatto, Edições SM. Trata-se de um lugar mágico e desejado, uma espécie paradisíaca de Pasárgada dos povos indígenas Kaingang nas memórias de kuiã, o xamã inspirador e guardião das narrativas ancestrais. 
       Dentre as muitas contadas, estão as lembranças do tempo em que não se conhecia o fogo. Em toda a terra, havia apenas uma única fogueira pertencente à Minarã. E tudo permaneceria igual, não fosse a coragem e a ideia do jovem Fíietó. Com seu audacioso plano, quis dar aos seus companheiros da aldeia os benefícios do fogo permitindo-os uma vida melhor. Mas como livrar-se do temível guardião das únicas labaredas existentes?  
       De outros tempos, “da época em que os rios ainda corriam do sertão para o mar” (p. 22) contou-se que houve uma terrível tempestade. Choveu muito, por muitos dias e meses até que todos tiveram de subir para o cume do Crinjijimbé. Além do curso dos rios, o dilúvio provocou uma fatal mudança na vida de todos aqueles povos. “Os Kayrukré e os Kamé se afogaram e suas almas foram morar no interior da grande montanha. Os Kaingang e os Kuruton conseguiram alcançar o topo do monte” (p.26).  
        Em meio à roda de histórias, uma dúvida: “__ Arte de Kamé e Kairu, não é?” – questionou orgulhoso e atento um garotinho da tribo revelando-se nova promessa de contador de histórias. Os povos Kaingang habitam os estados brasileiros que compreendem áreas que vão: desde o estado do Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina, Paraná até o interior de São Paulo.
      No final do livro, encontram-se importantes informações acerca do contexto, da língua, população, organização política, costumes e um pequeno vocabulário desses indígenas que tiveram suas terras, famílias, culturas e histórias tomadas barbaramente pelos portugueses ainda no século XVI.
       Quem sabe a lembrança do Paiquerê – tão viva e presente nesses povos – não representasse uma Pasárgada idealizada como prêmio e consolo para um futuro de paz e harmonia? Se depender das ilustrações de Joãocaré, pode-se afirmar que o paraíso já se faz presente em suas encantadoras imagens.  Ao lado de nossos irmãos Kaingang, entoamos o canto em uníssono: “Meu tesouro mais formoso é o Paiquerê, todos querem sua porção de Paiquerê” (p. 31).

FICHA TÉCNICA:

Obra: Paiquerê
Autora: Cléo Busatto
Ilustrador: Joãocaré
Editora: Edições SM
Ano: 2009


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