Remo de defesa, lutas e tradições

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 Por Cleber Fabiano da Silva

          “Na minha aldeia, que fica lá dentro da Floresta Amazônica, numa região muito distante, a que se chega depois de viajar luas e luas, as crianças gostam muito de se divertir, especialmente de brincar de pular na água e ouvir histórias” (p. 8). Eis uma interessante representação do tempo-espaço de infância narrado por Yaguarê Yamã no livro: Puratiĝ – o remo sagrado, editora Peirópolis.
         Na obra, o leitor tem contato com as vivências do narrador e de um grupo de amigos ao correr, brincar e explorar as proximidades da aldeia durante o dia. Após o banho e o pôr do sol, todas as crianças esperam ansiosas as histórias antigas contadas pelo pajé e pelos mais velhos.  Dentre as narrativas ouvidas, estão lendas e mitos de origem: o surgimento do mundo, do povo Mawé, dos clãs, da tradição do remo sagrado e, naturalmente, a lenda do guaraná – importante fruto da região – já que os indígenas Saterê Mawê habitam áreas entre o Amazonas e o Pará e são chamados de “povo do guaraná”.
         Um momento marcante das lembranças de Yaguarê encontra-se na passagem em que os curumins, sem perceber, chegam à casa do pajé Karumbé. “De ar e sorriso amistoso, sempre disposto a ajudar aqueles que precisavam de remédios e cura para as enfermidades. Alguém em que podíamos confiar e cujas palavras nos indicavam o caminho certo a seguir nesse mundo” (p. 24). Ficam evidentes durante toda a escrita da obra, as marcas e o respeito à oralidade e à ancestralidade.
         Outro ponto a destacar diz respeito às crenças sobre o remo sagrado: puratiĝ. “Conta-se que ele já foi uma arma muito poderosa e que nele estava escrito o caminho do bem e do mal” (p. 37). Foi levado para as cidades encantadas do fundo das águas pelo primeiro boto, mas matava tanto que resolveram devolver. Nos dias atuais, o remo é símbolo da luta e defesa da causa indígena. Suas histórias preservam a riqueza desses povos e valorizam a sua tradição.
         Para além das narrativas, vale conferir ainda nessa edição, as ilustrações realizadas pela artista Queila da Glória, pelo próprio autor – especialista em pintura corporal – e pelas crianças da comunidade.
        
FICHA TÉCNICA:

Obra: Puratiĝ: o remo sagrado
Autor: Yaguarê Yamã
Ilustradores: Queila da Glória, Yaguarê Yamã e as crianças Saterê Mawé
Editora: Peirópolis
Ano: 2001


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