Místico, mágico e misterioso... Murucututu

/
0 Comments
Gabrielly Pazetto

“Murucututu da beira do telhado
leva esse menino que não quer ficar calado” 
(tradicional cantiga indígena)

Em Murucututu, Marcos Bagno aborda a lenda indígena homônima, de uma grande coruja que aparece (de vez em quando). Alguns povos acreditam que ela traz sorte, outros acreditam que anuncia a morte, mas na história de Bagno ela cuida para que as crianças durmam na hora certa, e fica à espreita, quase como um bicho-papão.
Em uma pequena casa rodeada de mato vive uma menininha muito sabida e sua avó cozinheira que conta a ela a história do Murucututu: a grande coruja da noite que fica de olho nas criancinhas que dormem até tarde, caso isso aconteça, ele vem e leva a criança para um passeio lá no alto e depois joga ela lá de cima.
A menina, porém, não dá muita bola e até acha graça da avó acreditar nessa história. Porém, quando chega a noite, ela não consegue resistir às guloseimas produzidas pela senhora e, quando descoberta, culpa a grande coruja pelos furtos e a sua avó, bastante crédula, acredita nela até que, em uma noite... a coruja aparece para a menina - de verdade - e a leva para um voo noturno cheio de descobertas. Assim, a criança descobre que a coruja não é nada má e sente um grande prazer em vagar pela noite com ela. Resgatando uma das interpretações que o Murucututu tem em algumas tribos indígenas, Bagno apresenta uma coruja que, depois de um tempo, vem buscar a menina em seu leito de morte, agora velha, para o seu voo eterno no céu.
A narrativa, cheia de perguntas e mistérios, envolve o leitor que se vê voando bem alto junto com a menina e seu amigo Murucututu. A lenda ganha complexidade e delicadeza na escrita de Bagno e as descrições são de tirar o fôlego: “o longo rio lento é uma serpente mole e lânguida, que faz suas curvas com a preguiça de quem não teme o passar das eras. O rio é escuro, oleoso, e suas águas brilham quando a lua se derrama, líquida também, sobre sua pele movediça”.
Os tons das ilustrações de Nelson Cruz trazem o Murucututu de maneira bastante detalhada, quase palpável. A avó, retratada como uma matrona forte, também ganha destaque, enquanto a menina, na sua aparente fragilidade, é desenhada de forma minúscula em comparação aos outros elementos das ilustrações.
Desta forma, o livro Murucututu é um prato cheio para quem busca uma história mística, envolvente e extremamente delicada.

BAGNO, Marcos. Murucututu. São Paulo: Ática, 2005.



Gabrielly Pazetto é graduanda em Letras (Língua Porutuguesa e Inglesa) pela Univille e técnica em Informática. Atua como bolsista no Prolij e faz dos livros que lê barcos de viagens inesquecíveis.


Posts relacionados

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.