Agbalá: um amor de continente que merece ser lembrado

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Luana Seidel

Desde que começamos a ter noção básica de humanidade, nos é ensinado que há mais de quinhentos anos, quando o Brasil nem era Brasil ainda, milhares (e milhões) de africanos foram tirados de seus lares para serem escravizados aqui. E que esta foi uma fase horrível, abominável, brutal e desumana, e que então devemos esquecê-la... Será? 
Marilda Castanha parece discordar desta idéia. Na obra “Agbalá: um lugar-continente”, publicada pela Formato Editorial em 2001, a autora relembra e detalha o sofrimento dos africanos escravizados a troco de mercadorias como cachaça, pregos, espingardas e armas. Sim, seres humanos trocados por mercadoria. 
Castanha, que também ilustra o livro, começa cada seção com um título que remete à transição de fases, como “da senzala ao campo” “da escravidão à resistência” e para falar dos deuses “de orixá a orixá"; e ilustra estes deuses, cheios de vida e de cores para nos fazer imaginar os rituais à eles “oferendados”.
É com peso no coração que os que lêem imaginam o sofrimento destes seres humanos arrancados de seus lares, brutalmente jogados em navios para tentar agüentar a fome, o clima e os maus tratos, para que os que sobrevivessem terem seus nomes retirados e trocados por “nomes aceitáveis” para a cultura católica, sua religião e cultos religiosos expressamente proibidos e sua liberdade arrancada. 
Mas, felizmente, a essência alegre e colorida africana não se deixou apagar. Driblavam a repressão dos “sinhôs” disfarçando a sua cultura rica em traços de cada um. 
 Nas últimas páginas, Castanha faz breves adendos acerca de assuntos históricos, culturais e de curiosidades relacionados à cultura africana. 
 A obra é carregada de detalhes, mas não se torna maçante; pode ser lida por diversas idades, por todos que têm interesse em saber mais sobre esta fase lamentável que faz parte do passado do Brasil, mas que deixou o legado da força da resistência do povo africano e que merece, sim, ser relembrada. 

CASTANHA, Marilda. Agbalá: um lugar-continente. Belo Horizonte: Formato Editora, 2011. 


Luana Seidel é graduanda do curso de Letras da Univille. Trocou o oxigênio por arte há tempos – e não se arrepende disso.


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