Resenha de Mig, o Descobridor

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Charlotte Pires
Acadêmica do 4º ano do Curso de Letras Licenciatura da Univille

O garoto de bochechas rosadas que atende pelo apelido de Mig é, sem dúvida uma caixa-surpresa de mil e uma cores. No entanto, por ser uma surpresa, pode acarretar um certo ar indesejável. Ana Miranda, autora e ilustradora do livro, o dedica a “todas as crianças descobridoras”, porém o que se vê aqui é uma singeleza que pode camuflar o imaginário infantil. Possuidor de uma qualidade gráfica que, de tão colorida, enche os olhos e causa sutil encantamento, Mig é uma criança que está começando a descobrir o significado dos objetos, das palavras, dos sentimentos. Ele espera o mundo rodar a sua volta com passividade, visível nas ilustrações que mostram um menininho sempre sorridente que ora fecha os olhos, ora prefere esconder-se sob um adorno qualquer em uma de suas brincadeiras. O texto brinca com a troca de fonemas que ocorre na fala das crianças em seus primeiros anos de aprendizado. Mig diz o que pensa sobre o que observa, porém, quem interfere na história “ensinando” a maneira correta de nomear as impressões do menino é a sua mãe, seu pai, sua avó ou até sua professora. Ou seja, Mig apresenta uma visão abstrata sobre as coisas que observa ao seu redor – o que até encanta o leitor em um primeiro momento-, e em seguida, ele é sempre surpreendido por um adulto que imediatamente nomeia o que Mig de maneira poética e com muita subjetividade já havia nomeado. Resultado: cadê aquela visão que exulta todo o sentido abstrato da criança? Ela não precisa saber corretamente o significado de palavras como “cabelo”, “espelho” ou “nuvem”, ela apenas necessita visualizar o que representam para si, sem ser julgada pela concretude da vida, a maneira mais comum de se interpretar as coisas, lamentavelmente.






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