O fantástico nas narrativas de Marina Colasanti

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Por Ítalo Puccini




A imaginação – como a inteligência ou a sensibilidade – cultiva-se ou se atrofia. (HELD, 1980, p. 14)

Para quem já leu os contos de Marina Colasanti nos livros “Doze reis e a moça no labirinto do vento”, “Uma ideia toda azul”, e “Longe como o meu querer”, por exemplo, pode estar acostumado ao estilo cuidadoso e aos elementos fantásticos que permeiam a narrativa desta autora. E agora, nos dois novos livros lançados por ela, ambos editados pela Global, com capas e formatos semelhantes, encontrarão novamente contos narrados com precisão e repletos do que há de maravilhoso no imaginário da contação de histórias.

“do seu coração partido” (assim mesmo, com letra minúscula) é um dos dois livros que a autora lançou no final do ano passado. Um livro com doze contos, com doze narrativas-poéticas em que a realidade é apresentada em suas facetas mais deslumbrantes e místicas. Em suas dualidades: amor e morte, encontro e desencontro, angústia e plenitude.

Os contos ainda são apresentados com algumas imagens em tons fracos, delicados, e os títulos de cada conto tomam conta de uma página toda. Um livro cuidadoso em seu formato. Um livro feito pensando no leitor, afinal, conforme Cagneti (2009, p. 34) deixa claro, “Ler um livro, hoje, principalmente em se tratando de infantil ou juvenil, é lê-lo em seu todo: capa, quarta capa, cores, ilustrações, diagramação, enfim, todo o projeto editorial. Muito há para ser lido em cada um desses aspectos que compõem a obra”.

Ler os contos de Marina Colasanti exige muita atenção. Um olhar de leitor entrelinha, e uma capacidade de se admirar com o inesperado, pois, como bem está escrito na última linha da contracapa do livro, “não cabe à razão operar histórias que escapam às fronteiras do possível”. E os contos de Marina Colasanti levam a isto mesmo, a senti-los pela emoção de lê-los, longe, longe da razão e de suas possibilidades.

Diante disso que a frase que serve de epígrafe para este texto tem muito do que os contos desta autora oferecem aos leitores, um cultivar da imaginação, da inteligência e da sensibilidade. Não de uma imaginação alienada do que há de real, mas sim de uma imaginação que contribui para a leitura deste real vivido pelo leitor. Algo citado, por exemplo, por Jacqueline Held, em seu livro “O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica” (1980, p. 28), quando a autora lança a seguinte indagação: “O que é que vivifica o fantástico e vem lhe dar sua verdadeira densidade, senão a simples vida cotidiana, com seus problemas, sua comicidade, seus ridículos, sua mistura íntima de cuidados, de angústia, de pitoresco, de ternura?”

É um pouco de tudo isso que a contista Marina Colasanti oferece aos seus leitores. Um repensar a realidade por intermédio de narrativas que lidam com o fantástico e com o imaginário de cada um. Um pouco-muito do que o estudioso francês Daniel Pennac (1993, p. 19) afirma, que “(...) a virtude paradoxal da leitura que é nos abstrair do mundo para lhe emprestar um sentido”.

Não costumo fazer isso, mas, para quem ainda não leu nada de Marina Colasanti, faça o quanto antes, por tudo o que foi escrito aqui, e por muito do que cada leitor pode acrescentar àquelas histórias. Porém, é necessário lê-la preparado para receber histórias “de coração partido” e de muito além da compreensão.



Referências bibliográficas:



COLASANTI, Marina. do seu coração partido. [ilustrações da autora]. São Paulo: Global, 2009.



HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. [tradução de Carlos Rizzi; direção da coleção de Fanny Abramovich]. São Paulo: Summus, 1980.



PENNAC, Daniel. Como um romance. Tradução de Leny Werneck. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1993.


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2 comentários:

Eduardo Silveira disse...

Marina Colassanti é tudo de bom!
Lida com o fantástico de um modo muito particular, como você bem expressou, Ítalo.
E ela estará (a princípio, né :P) na Feira do Livro este ano. Tomara. ^^

Eduardo Silveira disse...
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