Um convite ao debate e à reflexão

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Por Sonia Regina Reis Pegoretti

                Nos últimos anos a literatura infantil tem protagonizado uma importante discussão. Afinal, como avaliar o que entra em sala de aula? Quais parâmetros (se é que existem) seguir?
                O livro Literatura Infantil – políticas e concepções (2008, Autêntica), organizado por Aparecida Paiva e Magda Soares, é fruto de análises e reflexões de pesquisas realizado pelo Ceale/FaE/UFMG. Presentes no livro estão oito artigos que exploram o universo infantil e podem ajudar o professor a ter um olhar mais sensível no que diz respeito aos livros direcionados aos pequenos.
                No que diz respeito às políticas etnicorraciais e à diversidade, dois artigos em especial chamam a nossa atenção: A produção literária para crianças: onipresenças e ausência das temáticas, escrito por Aparecida Paiva e Representação e identidade: política e estética étnico-racial na literatura infantil e juvenil, escrito por Aracy Martins e Rildo Cosson.
Paiva (2008) faz várias considerações importantes acerca da literatura infantil contemporânea. A primeira delas refere-se ao utilitarismo dos textos. A autora aponta que a grande enxurrada de textos que apareceram junto com os “temas transversais” provocou de certo modo uma adequação da literatura infantil ao currículo escolar, à intenção pedagógica. Quanto mais próximo o estilo narrativo do conteúdo a ser ensinado em sala de aula, maior é a sua utilização pelo professor.
Outra questão abordada por Paiva (2008) é a qualidade textual, qualidade temática e qualidade gráfica das publicações que hoje estão no mercado como “clássicos” para crianças. A avalanche de títulos que se enquadram nessa categoria torna difícil a escolha adequada pelo professor. Por parte dos recontos dos clássicos, muitos deles também deixam a desejar, dando a impressão de uma história incompleta, vazia.
Já o texto de Martins e Cosson (2008) trata as representações sociais como mote para várias indagações sobre a grande demanda de livros étnicorraciais a partir da Lei 10.639/03. Reflete sobre a grande diversidade de formatos e registros desses livros, tornando difícil a classificação das obras. Porém a questão evidenciada foi: “Como a literatura infantil e juvenil no Brasil responde contemporaneamente às demandas étnico-raciais de identidade e representação dos negros?” (MARTINS; COSSON, 2008, p. 56).
O caráter político dessa representação nos livros de literatura infantil e juvenil é apontado como algo que foi reivindicado legitimamente pela comunidade afro-brasileira. “Quando falamos de sujeito na literatura negra, não estamos falando de um sujeito particular, de um sujeito construído segundo uma visão romântico-burguesa, mas de um sujeito que está abraçado ao coletivo” (EVARISTO, 2000)[1].
Cabe agora aos professores e pesquisadores expandir a discussão para que equívocos referentes a essa temática e à própria literatura africana e afro-brasileira sejam minimizados.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Literatura infantil – políticas e concepções
Organizadoras: Aparecida Paiva e Magda Soares
Editora: Autêntica
Ano: 2008



[1] EVARISTO, Conceição. In: Congresso Internacional da ALADAA, 10. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2011.



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