Espuma de mar

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Gabrielly Pazetto
Nicole Barcelos

Quem não conhece A pequena sereia? Publicado pela primeira vez em 1837, o conto que ficou famoso pela compilação de Hans Christian Andersen inspirou músicas, filmes, desenhos e obras de arte de toda sorte, permeando o imaginário infantil ainda hoje, quase dois séculos depois da primeira vez que “veio à tona”. Nos livros, ganhou também infinitas versões, em antologias ou em versões solo, como esta, trazida ao Brasil pela SM, com texto adaptado de Muriel Molhant e ilustrações do belga Quentin Gréban – ilustrações que, aliás, dão novos horizontes a esse clássico da literatura infantil.

Com o texto verbal se mantendo fiel à versão de Andersen, nesse livro o leitor também acompanha a mais jovem das filhas do Rei do Mar, que, ao completar 15 anos, tem a chance de visitar a superfície pela primeira vez. Ao fazê-lo, porém, a sereiazinha acaba também salvando um príncipe de um naufrágio e se apaixona por ele. Ao retornar para as profundezas novamente, a pequena sereia não consegue tirar o rapaz de olhos negros de seus pensamentos e, desesperada em poder se unir a ele, procura a Feiticeira do Mar para que ela possa lhe dar pernas no lugar de sua cauda, e assim poder finalmente reencontrar seu príncipe. O preço para tal é caro: sua linda voz. E se não tiver suas afeições correspondidas pelo amado, o custo é ainda mais alto: a pequena sereia corre o risco de perder sua própria vida.

Diferente daquele final conhecido por muitos, a versão tradicional desse conto de feliz não tem mesmo nada. A pequena sereia é talvez um dos contos mais tristes compilados por Andersen, ao lado d’A Pequena Vendedora de Fósforos. Mas é, não obstante, uma história belíssima.

As ilustrações de Gréban também levam a obra para um lugar bem longe daquele que popularmente conhecemos – mais especificamente, levam direto para o Oriente da tradição sino-japonesa. Em suas pinturas de técnicas mistas que misturam os tons de azul e verde do mar, e o vermelho e amarelo intenso da terra, o ilustrador afasta-nos da visão eurocêntrica desse conto, matizando-o com outros tons – com os cabelos negros e olhos escuros de seus protagonistas, e com as luzes e sombras que assolam o universo colorido que habitam.

Essa interpretação (mais do que possível e necessária) a essa narrativa clássica é um respiro bem-vindo em tempos de massificação e cristalização de certas imagens – impossível, pois, ouvir “A pequena sereia” e não pensar na garota de cauda azulada e cabelos vermelhos. Dessa forma, a versão que vemos aqui também é um convite à imaginação – a pensar e sonhar com nossas próprias sereias, príncipes e feiticeiras, e o que podemos descobrir ao sairmos de certas superfícies.

ANDERSEN, Hans Christian; GRÉBAN, Quentin. A Pequena Sereia. São Paulo: Edições SM, 2011.



Gabrielly Pazetto é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e faz dos livros que lê barcos de viagens inesquecíveis.

Nicole Barcelos é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Atua como bolsista do Prolij e vive se perdendo em buracos de coelho.


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