Entre tecidos, linhas e fios: um especial

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Isabela Giacomini
Lara Cristina Victor
As histórias, de um modo geral, têm muita coisa para contar e também há muito a ser desenrolado, como os próprios fios costumam fazer. Mas, algumas delas, falam deles e das linhas literalmente, já que se constroem pela tecitura, sendo ela a matéria e o conteúdo principais. É pelo percurso que esses fios fazem que o enredo vai se constituindo, que as ilustrações vão sendo formadas e que as memórias vão sendo relembradas. Os fios e as linhas estão para além do ato de costurar meros pedaços de tecido, eles possibilitam que novas histórias sejam descobertas, que se transformem ou que também sejam desmanchadas. É justamente por esse poder que possuem de dar a continuidade dentro de cada narrativa que separamos uma lista de livros que as trazem como protagonistas. Confira a seguir:

A manta, de Isabel Minhós Martins, com ilustrações de Yara Kono – na casa da avó havia uma cama enorme, enorme mesmo, onde cabiam meninos, meninas, gatos, um cão e a vovó também, é claro. Ela não era muito confortável, mas isso acabava não importando, pois havia a manta cheia de retalhos que os cobria confortavelmente. Cada um deles era uma história para ser descoberta. Cada pedacinho escondia uma viagem maravilhosa pelo universo da imaginação. Deve ser por isso que houve até briga para ver quem ficaria com ela, afinal ainda há tanto tecido para ser explorado!


Vestido de menina, de Tatiana Filinto, com ilustrações de Anna Cunha – o vestido da menina é repleto de fios diferentes uns dos outros. Eles vão se modificando a cada conversa, a cada situação vivenciada e a cada novo lugar visitado. Alguns fios são compridos, outros curtos, enrolados, escuros, emaranhados, grossos, esfuziantes e tantos outros adjetivos que se possa dar. Às vezes havia tantos fios, que o vestido ficava até pesado de vestir! O mais legal de tudo é que cada um deles tem uma nova história para contar...

A moça tecelã, de Marina Colasanti – Ela acordava ainda no escuro, e logo sentava-se ao tear.
São nos delicados fios, pentes, lãs e cores, que essa linda história acontece. Mostrando-nos as possibilidades de ser, estar e sentir, assim como a possibilidade de um recomeço. De um novo caminho. Um novo dia. Um novo amor… E uma nova história. A moça tecelã nos dá a oportunidade de construir e desconstruir, de imaginar e reimaginar. A coragem de criar, mas também de desfazer. E de ir tecendo a vida com fios e cores que brilham e nos transbordam, exatamente aqueles que nos fazem realmente felizes.


Além do bastidor, de Marina Colasanti- Uma menina corria todas as manhãs ao bastidor para bordar coisas diferentes. Imaginava uma flor, pegava a agulha e a linha e a bordava. Com o passar do tempo aquele tecido estava repleto, tudo parecia ter muita vida e muita cor. A menina já fazia parte de toda aquela paisagem, já se deitava na grama, apreciava as frutas, andava a cavalo. Ela era a única a não estar no pano, entre fios e linhas, pelo menos por enquanto. Além do bastidor fala dos nossos sentimentos e de como eles são exteriorizados, de como entramos e lidamos com cada uma de nossas experiências, de como bordamos nossa existência e também de como arrematamos a linha.

Colcha de retalhos, de Conceil Correa da Silva e Nye Ribeiro Silva, com ilustrações de Semíramis Paterno – Felipe é um neto que ama visitar sua avó, pois lá tem muita coisa para fazer. Um dia sua avó se pôs a costurar alguns retalhos que sobraram de suas costuras antigas e o neto, é claro, quis ajudar. Começou a separar cada pedacinho pelas suas características e a cada um, uma memória era relembrada por ele e pela vovó. Os dois conversavam sobre cada tecido, para que fim ele foi usado, quando isso aconteceu e o que fizeram na ocasião. Aos poucos, uma bela colcha de retalhos surgia, com muitas histórias diferentes a serem desvendadas. Além de toda a beleza das memórias, o livro trabalha com um sentimento muito único- a saudade, mostrando o quanto essas histórias a despertam e nos fazem entender o que ela realmente significa.


Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.

Lara Cristina Victor é aluna do curso de Psicologia na Univille. Atua como bolsista no Prolij e vê em cada criança um pouquinho de si mesma.



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