Resenha de gaiola: um exercício de amor

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Isabela Giacomini
Havia um passarinho e uma menina. Eles queriam muito ser amados, como todo mundo costuma desejar. Ambos eram vaidosos, carentes, inseguros e românticos. Tinham tanto em comum que acabaram se encontrando, mas de uma maneira bastante inusitada. Tudo aconteceu no dia em que o pássaro levou uma pedrada e foi voando até cair na varanda da casa da menina, logo onde ela sempre ficava a observar a noite.

A partir desse momento suas histórias, semelhanças e diferenças se cruzam. Um vai cuidando do outro, passando o tempo juntos, apegando-se aos pouquinhos, até que estivessem se sentindo completamente amados. O passarinho estava sarando até mais rápido com tanto afeto compartilhado e, como é de se esperar na vida de um pássaro livre, já era hora de se despedir e voltar ao mundo. Afinal, lugar de pássaro é no céu e de menina é na terra. O único problema é que o amor não tem essas mesmas fronteiras.

Os dois, pela extrema relutância, resolvem que não precisam dar tchau. Estavam certos de que deveriam ficar juntos e, por isso, a menina o colocou em uma gaiola. Agora ele seria só dela e vice-versa. Tudo parecia estar perfeito, muito seguro, arranjado, mas acabaram esquecendo que o amor ficaria preso.

A obra Gaiola trata de um sentimento muito profundo e complexo que é o egoísmo e a dificuldade de se lidar com as emoções. O ato de pensar nas próprias satisfações, mas sem olhar a necessidade real de outrem, faz com que um afastamento seja evidenciado. Esse sentimento foi compartilhado com a menina e com o próprio pássaro, que ficava a espreitar o céu, mesmo engaiolado. Existia ainda o lado bom da companhia, mas também havia o da falta de liberdade.


Ao mesmo passo que o passarinho estava preso, apenas olhando o que estava além daquelas grades, a menina estava presa ao sentimento de extrema segurança, de vigia excessiva. Mas, obviamente, o amor não pode ser saudável dessa maneira, uma vez que para que ele seja duradouro, os envolvidos precisam estar felizes para que consigam transmitir isso uns aos outros. E isso não acontece apenas entre os casais, como se pode perceber, mas também entre seres que precisam de afetividade, ou seja, com todos nós. A menina, depois de refletir muito, tomou a maior decisão de todas. A partir daí ela nos mostra como precisamos deixar que o destino venha, sem se apressar sobre ele ou tentar limitá-lo, já que as coisas acontecem porque precisam, nada é tão certo que não se possa mudar e nada é tão fixo que não possa se acabar. A história dos dois, como a autora Adriana Falcão menciona, não acaba, mas abre possibilidades. E assim é a nossa narrativa na vida: tudo é possível, basta acreditar em si e deixar que os sentimentos bons prevaleçam. O livro traz reflexões muito pertinentes sobre a necessidade de se cultivar o amor, pois é ele o elemento principal nesse processo, por nos fazer pensar no outro e em nós mesmos, aprendendo com cada situação.

Isabela Giacomini é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille, atua como bolsista no Prolij e vê na literatura uma porta para outros universos e realidades.



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