Chãonhe-ser-me

/
3 Comments


Sueli de Souza Cagneti
(Coordenadora do PROLIJ)

Ondjaki, esse poeta proseador ou proseador poeta angolano, de apenas 34 anos, já doutor em Estudos Africanos, nada contaminado pelo mundo acadêmico, é alguém que – ao poetar – diz “(...) apetece-me chãonhe-ser-me”. Basta isso para sabermos a que vem... Que se chegue, pois.
Recém descobridor de nosso poeta contemporâneo maior – Manuel Barros – refere-se em nota final, sem obviamente teorizar sobre, a importância das obras sobre as obras. A sua – ao menos essa – sobre a qual aqui rabisco – foi contaminda, sem dúvida, por Barros. Em Há prendisagens com o xão, Ondjaki nos presenteia com aforismos poéticos dos mais interessantes, como “amizade: há preferências que seja húmida, pois mundo está isolar pessoas assim amizade procura por ela que pessoas se escorreguem para algum encontro” (p. 62-3).
Ao mesmo tempo, entremeia seus poemas, carregados de brinquedo com a palavra – desinventando-a para reinventá-la – com pequenas prosas poéticas (à maneira de Manuel de Barros) como “A jangada, o passeador – estória para eu adormecer” ou “ Borboletabirinto”, dignas de serem lidas degustadamente.
Junto a poemas, dos quais destaco “Que sabes tu do esco do silencio” (belíssimo!!!, p. 26), traz algumas definições de “ Bichos convidados”, como abelha, borboleta, lesma, a quem chama de “ mestre em tudo que acuse molhadez “ p.55), mosquito, polvo, raposa, toupeira ou pássaro, com quem nos remete à Hemingway, Nietzsche, Garcia Marquez, Cervantes e Guimarães. Não resisto, pois, à citação “pássaro: doutorado em voo e liberdade, tem domínio absoluto da poesia eólica, de sua autoria, destacam-se: o velho e o pássaro; assim falou passatustra; cem anos de provisão; dom passarote de la avoança e grande passarão: penedas” (p.56).
Acredito não precisar dizer, que Ondjaki é leitura obrigatória para quem curte ir além das palavras para reolhar-se e reolhar o outro. Bom enxergamento!

Obra: Há prendisajens com o xão (o segredo húmido da lesma & outras descoisas)
Autor: Ondjaki
Editora: Pallas
Ano: 2011







Posts relacionados

3 comentários:

Sonia Regina Reis Pegoretti disse...

Deu água na boca essa resenha inspiradora! Com certeza este livro estará na miha lista para próximas leituras!
Parabéns Sueli!

Alencar disse...

Maravilha este livro, que tem notas de Manoel de Barros e que teve seu sabor realçado pelas palavras da nossa Su. Suélinda a resenha!
Cado.

Silmara disse...

Essa resenha me deixou enlouquecida para saber mais de Ondjaki.

Tecnologia do Blogger.