KUARUP PARA ORLANDO VILLAS BÔAS

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Por Cleber Fabiano da Silva e Sueli de Souza Cagneti

         A extraordinária expedição ao Brasil Central, empreendida pelos irmãos Villas Bôas, é contada na autobiografia Orlando Villas Bôas – História e causos, editora FTD, 2006. Embora falecido em 2002, o projeto de publicar esses registros foram incentivados e continuados pela esposa Marina e pelos filhos Orlando e Noel.
         A narrativa inicia com a apresentação pessoal da vida do indigenista em Botucatu, a ida para São Paulo, a morte dos pais e a viagem rumo ao sertão. Em seguida, relatos oficiais e não-oficiais sobre as razões da Marcha para o Oeste. Na primeira aparecem os grandes fatos e feitos considerados históricos, na segunda, uma espécie de história paralela. “Essas duas versões são complementares na medida em que indicam duas motivações bem distintas para a expansão rumo ao oeste. Uma, política; outra doméstica” (p. 31). 
         O livro traz ainda o contato com vários povos indígenas, sua cultura, suas crenças, seus modos de organização política e social, os embates com Marechal Rondon, as dificuldades e as relações amistosas da pacificação entre as diferentes tribos. Momentos importantes são minuciosamente descritos, tais como a criação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e do Parque Nacional do Xingu, bem como, as histórias e os causos vivenciados em mais de quarenta anos dedicados à defesa das etnias indígenas.
         Dentre tantas experiências, a convicção final de que esses povos “pagaram um pesado tributo no contato com a nossa sociedade”. (p. 148). O autor afirma que nossa dívida para com eles ainda não foi paga e, para saldá-la, há que haver o concurso do Estado. “A implementação de uma política indigenista séria deve estar na agenda política do nosso país. Os grupos indígenas não podem continuar sendo vistos como simples apêndice da nação” (p. 186). 
         Merece destaque, o capítulo final: Kuarup para Orlando. Essa cerimônia religiosa tradicional reproduz a lenda da criação, simulando a forma pela qual Mavutsinin (o herói criador) queria que seus mortos voltassem à vida. Um tronco de kuarup é adornado com todo o cuidado para receber o espírito daquele que partiu. À noite, acompanhado pelo canto de chamamento e lamento entoado pelas carpideiras, a alma do falecido se faz presente. Durante essa semana, eles tocam uruás (flautas) para demonstrar a força e a alegria e para espantar os mamaés (espíritos).
         Inquestionável a importância da passagem dos Irmãos Villas Bôas para as etnias que agora habitam o parque indígena, afinal de contas, todo aquele povo unido em torno do espírito de Orlando confirma e eterniza sua presença “enquanto existir esse lugar mágico que se chama Xingu”. (p. 202).

FICHA TÉCNICA:

Obra: Orlando Villas Bôas – História e causos
Autor: Orlando Villas Bôas
Editora: FTD
Ano: 2006


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Um comentário:

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